05/03/2006
– A produção de biocombustível
é uma "janela de oportunidade"
para o desenvolvimento rural, especialmente
no Brasil, afirmou ontem (4) Ignacy Sachs,
socioeconomista polonês radicado no
Brasil e na França. Na abertura da
plenária do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Rural Sustentável (Condraf), ele propôs
um viva! à atual crise do petróleo:
"Eu participo de discussões internacionais
sobre o meio ambiente desde 1972. Trinta anos
de nosso discurso não tiveram o efeito
que seis meses de preço alto do petróleo
tiveram no sentido de incentivar a adoção
de biocombustíveis".
Na avaliação
do socioeconomista, o programa público
brasileiro de biodiesel acerta ao dar incentivos
para o setor, e o país tem grande potencial
na área pelo sucesso na implantação
do álcool como combustível automotivo,
desde os anos 70. Sachs lembrou estudo que
realizou em parceria com o Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (Sebrae): segundo ele, uma propriedade
na Amazônia com 20 hectares cultivados,
sendo 10 deles de dendê pode sustentar
entre 3 e 4 postos de trabalho, caso haja
uma parceria com uma unidade de processamento
do óleo da palmeira.
O especialista destacou
que, para o sucesso de projetos como o do
biodiesel, é preciso desenvolver políticas
públicas para auxiliar na mediação
entre os agricultores e as grandes empresas
de processamento agroindustrial. "Pode-se
apelar à responsabilidade social das
empresas, mas eu não penso que isso
nos leve tão longe", disse ele,
para explicar a necessidade de apoio público
à garantia de transparência e
justeza nessas relações.
Para Sachs, a ascensão
dos biocombustíveis é um bom
exemplo do chamado "desenvolvimento desde
dentro" (ou a partir de dentro), tese
defendida pelo economista chileno Oswaldo
Sunkel. "O desenvolvimento rural pode
ser a mola propulsora do desenvolvimento nacional",
disse o polonês.
Ele também previu
um desenvolvimento ainda maior para o setor
dos biocombustíveis por causa dos avanços
tecnológicos, que permitem, por exemplo,
a transformação de restos vegetais,
como cascas ou palha, em álcool. Segundo
Sachs, esses avanços tecnológicos
também vão impedir que haja
conflito entre a produção de
bioenergia e de comida. Para ele, o futuro
será dos sistemas integrados, em que
várias culturas dividem espaço,
servindo o resíduo de uma como insumo
de outra.
A 2ª Conferência
Internacional sobre Reforma Agrária
e Desenvolvimento Rural, evento organizado
pelas Nações Unidas em parceria
com o governo brasileiro, acontece a partir
de segunda-feira (6), na capital gaúcha.
A plenária nacional do Condraf também
termina na segunda.