07/03/2006 - Quais são
os possíveis impactos que mudanças
climáticas globais podem promover na
região amazônica? Há possibilidades
de transformações do ecossistema
no bioma amazônico? E como os usos da
terra podem contribuir para o agravamento
destes impactos? Essas perguntas serão
respondidas pelo Núcleo de Modelagem
Climática e Ambiental do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa),
vinculado ao Ministério da Ciência
e Tecnologia. O objetivo é entender
o funcionamento do conjunto clima-ecossistema
no presente e investigar os impactos sobre
o clima da Amazônia no futuro. O núcleo
é o primeiro da região Norte
e tem como meta principal realizar pesquisas
sobre as questões da Amazônia
e contará com a colaboração
de grupos de pesquisas, especialistas e instituições
de todo o País e também do exterior.
No Núcleo foram investidos,
somente em equipamentos, aproximadamente R$
600 mil para a compra de supercomputadores,
além da infra-estrutura que foi montada
para receber os aparelhos na sede do projeto
Larga Escala da Biosfera Atmosfera da Amazônia
(LBA). Dois tipos de sistemas foram adquiridos
com previsão de instalação
até final de março. O primeiro,
é um de arquitetura vetorial que permite
a realização de cerca de 16
bilhões de cálculos por segundo,
ideal para simular o clima global e testar
as hipóteses de mudanças. O
segundo, tem uma arquitetura idêntica
aos dos computadores pessoais reunidos num
sistema de comunicação entre
vários processadores, configurando
o que tecnicamente se chama “cluster”.
O pesquisador Luiz Antônio
Cândido, da Coordenação
de Pesquisa em Clima e Recursos Hídricos
(CPCRH), explicou que o sistema vetorial é
um NEC-SX semelhante ao utilizado pelo Centro
de Previsão do Tempo do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (CPTEC/Inpe). “O CPTEC
utiliza o NEC SX-6 com 64 processadores de
8Gflops enquanto o nosso é o NEC SX-8
com um único processador de 16Gflops”,
afirmou.
Segundo ele, a função
do Núcleo é estabelecer um pólo
regional para pesquisar a biosfera e sua importância
para o clima, a partir do entendimento da
interação da floresta amazônica
com a atmosfera, tendo como ferramenta a modelagem
numérica (matemática) dos processos.
Cândido explicou que a modelagem é
a representação matemática
da realidade por meio de códigos de
computadores que utilizam linguagem de programação.
“Os modelos climáticos representam
de forma aproximada o comportamento da atmosfera
e do oceano”.
A compreensão mais
detalhada do funcionamento dos processos climáticos
serve para “melhorar” os modelos matemáticos.
Para isso, são feitos testes com os
modelos para averiguar o funcionamento dos
mesmos comparando-os com os dados obtidos
na natureza. Ou seja, o quanto ele representa
do que foi observado pelos pesquisadores em
campo. Caso sejam verificados erros nos cálculos
computacionais, avalia-se a porcentagem de
erros e é feita a correção
ou o melhoramento do modelo. “Queremos tornar
os modelos matemáticos os mais confiáveis
possíveis para entender a interação
entre a biosfera e a atmosfera”, informou.
Cândido
afirmou que os modelos são as principais
ferramentas utilizadas para desenvolver estudos
de cenários climáticos, como
desmatamento, usos da terra, e concentração
de gases do efeito estufa na atmosfera, etc.
Isso porque quando um dos cenários
é modificado altera todos os sistemas.
Dessa forma, é possível simular
o que pode acontecer no futuro ou como era
a Amazônia há mil anos. “A modelagem
tem esse papel. É possível prever
o tempo, cheias, secas, índice de água
no solo para a irrigação de
lavoura etc. Tudo isso pode ser feito desde
que se conheça o ambiente”, frisou.
No futuro, o Núcleo estará dotado
de modelos totalmente integrados que associam
além da atmosfera, oceanos e criosfera,
que incluirão também modelos
de dinâmica da vegetação,
de química da atmosfera, de hidrologia
e química da água.