17/03/2006
– Curitiba - O Greenpeace está profundamente
desapontado com o impasse das negociações
do Protocolo de Cartagena, que pode terminar
sem um acordo sobre identificação
de transgênicos no comércio internacional
A despeito da vontade de
ONGs, movimentos sociais e de 92 dos 94 países
reunidos, não foi possível obter
até esta sexta-feira um acordo sobre
rotulagem de OGMs na 3ª Reunião
das Partes (MOP 3) do Protocolo de Cartagena.
Mais uma vez os participantes do protocolo
estão reféns dos interesses
do agronegócio e das multinacionais
de biotecnologia, que estão impedindo
até agora a criação de
um consenso a respeito da fiscalização
e identificação precisa de cargas
transnacionais contendo organismos geneticamente
modificados (OGMs).
Na reunião de Curitiba
há a presença maciça
do lobby do setor empresarial, das multinacionais
de biotecnologia e dos maiores países
exportadores de transgênicos, como o
Canadá, os EUA e a Argentina. Os dois
últimos, mesmo sem participar do protocolo,
enviaram uma legião de lobistas para
defender seus interesses.
O lobby funcionou. Mais
uma vez assistiu-se ao triste espetáculo
do bloqueio do avanço das negociações
por um número extremamente restrito
de países, repetindo a mesma situação
da reunião passada, a MOP 2, que aconteceu
em Montreal. Desta vez, México e Paraguai
estão bloqueando o consenso em relação
à expressão ‘contém OGMs’
para cargas com transgênicos, ocupando
o lugar que coube ao Brasil na MOP passada,
naquilo que já se chama dos corredores
do Expotrade Center em Curitiba de ‘efeito
tequila’.
“Como é necessário
o consenso absoluto para se chegar a um acordo,
fica fácil cooptar um ou outro país,
contra a vontade da maioria esmagadora dos
países membros do protocolo, prevalecendo
interesses meramente econômicos sobre
aqueles que levam em conta a segurança
ambiental do planeta”, disse Sérgio
Leitão, diretor de Políticas
Públicas do Greenpeace.
Neste cenário, ou
a reunião terminará em pizza,
sem nenhum avanço concreto, ou resultará
em um texto muito tímido, que não
estabelecerá um sistema seguro de identificação
para o comércio global da produção
transgênica, perdendo-se a chance de
salvar o planeta e a biodiversidade da ameaça
crescente das contaminações
e do comércio ilegal de OGMs.
“Só um telefonema
do presidente Lula para o presidente Vicente
Fox, do México, pode salvar a MOP 3
de um fracasso”, conclui Leitão.