22.03.2006 - O WWF-Brasil
alerta para as graves conseqüências
do aquecimento global e do desmatamento sobre
a Amazônia. De acordo com uma revisão
de artigos científicos sobre o assunto,
as mudanças climáticas poderiam
transformar a maior parte da floresta Amazônica
em Cerrado, resultando em enormes impactos
sobre a biodiversidade e o clima do planeta.
A rede WWF fez uma releitura dos artigos científicos
já publicados sobre a Amazônia
e as mudanças climáticas e chegou
à conclusão de que os efeitos
das mudanças climáticas projetam
um ambiente mais quente e seco, o que provavelmente
levará a uma redução
substancial das chuvas em grande parte da
região. Essas mudanças poderiam
causar alterações significativas
nos tipos de ecossistemas encontrados na região
- de florestas tropicais para Cerrado - e,
conseqüentemente, extinção
de espécies em várias partes
da Amazônia.
"As mudanças climáticas
se apresentam como uma nova e considerável
ameaça para a floresta Amazônica
e sua biodiversidade. Esses ecossistemas possuem
uma grande proporção da biodiversidade
mundial: 12% de todas as plantas conhecidas
são encontradas na região. Portanto,
ameaças a ela representam ameaças
à biodiversidade como um todo",
afirma Denise Hamú, Secretária-Geral
do WWF-Brasil. "O mundo precisa urgentemente
avaliar os riscos e as vulnerabilidades da
biodiversidade perante as mudanças
climáticas e integrá-las nos
seus esforços de conservação"
alerta Denise.
De acordo com o trabalho da Rede WWF, a combinação
das atividades humanas - tais como desflorestamento
e exploração irracional de madeira
- com as mudanças climáticas
aumenta o ressecamento do solo e da floresta,
debilita e causa a morte das árvores,
que acabam servindo como combustível
para os incêndios florestais.
Sem medidas efetivas, o aquecimento global
e o desmatamento, segundo uma pesquisa do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), poderia converter entre 30% e 60%
da floresta Amazônica em Cerrado até
2050.
O clima no noroeste da América do Sul,
incluindo a região Amazônica,
já sofreu alterações
nesse último século. Os registros
das temperaturas médias mensais mostram
um aquecimento de 0,5 a 0,8º C na última
década do século XX.
"Estamos correndo sérios riscos
de perder boa parte da maior floresta tropical
do mundo, pois, com um aquecimento de alguns
graus, o processo de desertificação
será irreversível", afirma
Carlos Nobre, cientista do INPE e Presidente
do Programa Internacional de Geosfera e Biosfera
(IGBP - International Geophere-Biosphere Program).
Os efeitos das mudanças climáticas
podem também alterar o status atual
da Floresta Amazônica de redutor de
carbono para fonte emissora do gás
de efeito estufa em patamares perigosos. "O
desmatamento e os incêndios florestais
são já responsáveis por
quase 80% das emissões brasileiras
dos gases causadores do efeito estufa. Isso
torna o país o quarto maior emissor
de carbono do mundo", lembra Giulio Volpi,
coordenador do Programa de Mudanças
Climáticas da rede WWF para América
Latina e Caribe.
Como o Brasil é a sede da 8ª Conferência
das Partes da Convenção sobre
Biodiversidade (COP8), a rede WWF ressaltou
que o governo deveria apresentar novas iniciativas
no sentido de proteger a biodiversidade das
mudanças climáticas. "A
Conferência em Curitiba representa uma
oportunidade internacional para que o presidente
Lula anuncie um objetivo quantitativo de diminuição
do desmatamento na Amazônia. Ao fazer
isso, poderá reduzir maciçamente
as emissões de gases de efeito estufa
e ainda proteger uma das mais preciosas áreas
em termos de biodiversidade", afirma
Volpi.
O encontro em Curitiba representa, também,
uma oportunidade única para que os
países apresentem seus planos e propostas
para reduzir as emissões de gases causadores
do efeito estufa devidos ao desmatamento tropical
no âmbito da Convenção
do Clima da ONU.