23/03/2006 - Brasília
– A destruição de mudas de eucalipto
da empresa Aracruz Celulose por agricultoras
da Via Campesina, no Rio Grande do Sul, no
dia 8 de março, expôs o debate
em torno do impacto ambiental das grandes
plantações.
Os trabalhadores rurais
classificam as florestas de eucalipto como
"desertos verdes", em referência
à eliminação da biodiversidade.
Cientistas e gestores concordam que a cultura
de eucalipto não deve ser a única
opção de reflorestamento, mas
de forma sustentável podem trazer benefícios
para áreas totalmente devastadas.
Originário da Austrália
e outras ilhas da Oceania, o eucalipto foi
trazido para Brasil na segunda metade do século
19. O setor de construção civil
queria utilizar a madeira para produzir os
dormentes utilizados nas primeiras linhas
férreas.
Atualmente, o país
possui a maior área plantada de eucaliptos
do mundo (mais de 3 milhões de hectares).
De acordo com o Ministério da Ciência
e Tecnologia, o Brasil é o maior produtor
mundial de celulose (cerca de 6,3 milhões
de toneladas por ano).
O eucalipto brasileiro se
destina basicamente à produção
de celulose e papel e ao carvão que
abastece as siderúrgicas. As indústrias
brasileiras que usam o eucalipto como matéria
prima para a produção de papel,
celulose e demais derivados representam 4%
do Produto Interno Bruto, 8% das exportações
e geram aproximadamente 150 mil empregos.
O secretário de Biodiversidade
e Florestas do Ministério da Meio Ambiente,
João Paulo Capobianco, acredita que
é possível conciliar os interesses
econômicos e a proteção
ambiental. "O eucalipto não é
uma espécie danosa. O problema é
quando uma espécie qualquer é
utilizada de forma inadequada", ressalta
Capobianco.
Segundo Capobianco, a imagem
negativa que se criou do eucalipto é
conseqüência de projetos do passado.
Ele lembrou que na década de 70, principalmente,
com os incentivos fiscais do governo federal,
houve um estímulo ao plantio do eucalipto
em grande escala, sem planejamento e sem cuidados
ambientais, o que levou à destruição
de extensas áreas de Mata Atlântica
e de Cerrado.
Capobianco vê a possibilidade
de tornar a plantação de eucalipto
uma alternativa viável ambiental, econômica
e socialmente. Existem projetos em estudo
para a inclusão dos agricultores familiares
na atividade.
"Qualquer monocultura
é danosa, seja de eucalipto, seja de
uma espécie nativa. Mas, não
há, em princípio, nenhum problema
em se ter o uso do eucalipto em determinadas
regiões da Amazônia que já
foram degradadas no passado. Ela pode, ao
contrário, trazer benefícios
ambientais e sociais."
Colaborou Irene Lôbo