01/06/2007 - O ISA reproduz
entrevista exclusiva dada pelo líder
yanomami Davi Kopenawa, ao Boletim da CCPY
(Comissão Pró-Yanomami), na
qual fala sobre o atendimento à saúde
de seu povo, sobre mineração
em terras indígenas e sobre o Plano
de Aceleração do Crescimento
(PAC)e destaca que não existem espaços
onde os povos indígenas sejam ouvidos.
Confira.
Davi Kopenawa Yanomami,
da comunidade de Watoriki (AM), é hoje
um dos líderes indígenas mais
reconhecidos internacionalmente. Desde os
anos 1980 Davi se engajou em constantes e
sucessivas lutas pela defesa do seu povo.
Viajando o mundo para divulgar suas palavras,
Davi Kopenawa tornou-se muitos: xamã,
líder indígena, chefe de posto
da Funai, articulador político com
os napë pë (não-Yanomami),
e, por fim, presidente da Hutukara Associação
Yanomami (HAY).
Em entrevista exclusiva
ao boletim da CCPY, Davi Yanomami diz que
a mineração não vai trazer
benefício aos povos indígenas
(na foto, Davi fala no Encontro Visões
do Rio Babel realizado em maio, em Manaus)
Recentemente, participou
do evento Acampamento Terra Livre em Brasília
(19 a 21 de abril), onde abriu as discussões
levantando os problemas atuais enfrentados
pelos Yanomami, dirigindo-se tanto à
plenária como às autoridades
presentes, entre elas Márcio Meira,
recém-nomeado presidente da Fundação
Nacional do Índio, e Déborah
Duprat, Subprocuradora Geral da República.
Nessa entrevista exclusiva
ao Boletim CCPY, Davi Kopenawa fala sobre
políticas públicas referentes
aos Yanomami, destacando a inexistência
de espaços onde as vozes dos indígenas
possam ser ouvidas. Analisa também
a situação do sistema de atendimento
à saúde yanomami, demonstrando
especial preocupação com as
tentativas de dissolução do
Conselho Distrital Yanomami, principal instância
de controle social. Davi discorre ainda sobre
Florestas Nacionais, desenvolvimento, mineração
em terras indígenas e o Plano de Aceleração
do Crescimento (PAC).
Sobre o Distrito Sanitário
Yanomami
CCPY- A primeira pergunta
será sobre dinheiro da saúde
yanomami porque se ouve muito que é
a causa do mau funcionamento do Distrito Sanitário
Yanomami (DSY). Davi, você acha que
falta dinheiro para o DSY ?
Davi- Não é
problema de dinheiro. Dinheiro não
falta, o problema é o pessoal. Primeiro
o pessoal de Brasília. É lá
que repassa o dinheiro para Fundação
Nacional de Saúde (Funasa) e para a
Fundação Universidade de Brasília
(Fubra). Não sai dinheiro rápido
para fazer o trabalho e o pessoal fica só
esperando. Dinheiro tem. A Funasa mandou dinheiro
para Boa Vista para gastar, comprar equipamento,
remédio, pagar funcionário.
Aí o dinheiro voltou, o pessoal de
Brasília pegou o dinheiro de volta.
Até hoje eu não sei bem como
está. O Arokona (presidente yanomami
do Conselho Distrital) foi para Brasília
e falou que o dinheiro não é
problema, o problema é um pessoal da
Funasa que não deixa trabalhar direito.
Mas e o dinheiro que chega
em Boa Vista?
Isso é problema.
Eles (da Funasa-RR) não conversam com
ninguém, não nos falam nada,
não falam, não explicam. Eles
só explicam quando a gente vai lá
conversar. É somente isso que é
dito, que o dinheiro é repassado mas
enviam de volta para Brasília, isso
eu não entendo.
E as reclamações
que vocês fazem no Conselho Distrital?
Bom, o Conselho Local acabou.
Não estão fazendo mais reuniões
dos Conselhos Locais na área nem do
Conselho Distrital em Boa Vista. Acho que
eles não querem nós, Yanomami,
na cidade para perturbamos eles. Acho que
é por isso que se fechou a torneira
do Conselho. Eles não explicaram o
porquê, mas acho que eles não
querem gastar dinheiro com avião para
pegar Yanomami, dizem que é muito caro.
Eles não querem gastar dinheiro para
os Yanomami ficarem na cidade. A Hutukara
perguntou, eu perguntei, “Por que não
faz mais reunião com conselheiros yanomami”,
“Então, Davi, não faz mais porque
falta dinheiro, o pessoal em Brasília
não manda”, foi o que disseram. Eles
só falam isso, que falta dinheiro.
Eles nos tomam como ignorantes, “Ah, os Yanomami
não sabem de nada, por isso vamos gastar
o dinheiro à toa”. Cadê o dinheiro?
Gastaram muito com aviões, a saúde
enfraqueceu, as doenças aumentaram.
Gripe, que para os Yanomami é forte,
vira pneumonia. Quando não tem remédio
no pólo-base, vai fazer o que, dar
água para curar pneumonia? Por isso
que ficam mandando muitos Yanomami lá
pra Casa do Índio (Boa Vista, RR).
Para mim, isso não é bom. Eu
não gosto de só ficarem fazendo
remoção em avião. Eles
fazem remoção porque nem tem
remédio no posto.
Como está a situação
da Casa do Índio de Boa Vista hoje?
Bom, eles fazem remoção
para levar os Yanomami para Boa Vista. Lá
na Casa do Índio é cheio de
Yanomami. Eles levam os Yanomami doentes para
examinar e demora, o médico que olha
eles para examinar demora muito, três
ou quatro semanas. A Funasa não está
marcando consultas deles, demora para marcar
consulta dos Yanomami no hospital. Aí
muita gente fica esperando. Fica esperando,
esperando, até conseguir. Aí
ficam juntando os Yanomami, juntando, juntando,
chega mais e mais.
Demora também para
voltar para a aldeia, ficam juntando os Yanomami
que estão bons que receberam alta até
juntarem uns 10, 15 ou 20 para mandarem de
volta. Eles não mandam de volta só
um, dois ou três Yanomami, tem que esperar
outros ficarem bem para poder voltar para
a aldeia. Isso não é bom.
Sobre garimpeiros na Terra
Indígena Yanomami
Você falou em Brasília,
no acampamento Terra Livre, que saúde
e garimpeiros estão entre os principais
problemas dos Yanomami hoje. Eles são
os principais? Quais são os outros?
Sim, saúde e garimpeiros.
E também os fazendeiros que ainda estão
no Ajarani. Também temos o problema
da Floresta Nacional (Flona) na Terra Yanomami,
também a pista do Sucurucu (ampliação
da pista de pouso proposta pelo Exército)
e a lei de mineração. Foi isso
que eu contei à Doutora Deborah (do
MPF Brasília). Eu calculei que tem
uns 1.000 garimpeiros na Terra Yanomami, já
faz uns cinco anos que esses garimpeiros estão
lá. Eles entram devagar, em 2006 continuam
entrando devagar, em 2007 entram devagar ainda.
Para mim, eu calculo o número de garimpeiros
em 1.000. A área que tem mais garimpeiro
é o Ericó. Porque lá
é caminho antigo, é entrada
dos garimpeiros antiga. E no Parafuri, eles
entram no rio Uraricoera até chegar
lá no Parafuri. Eles vão pelo
rio, de voadeira, e outros vão de avião.
E no Alto Catrimani, a Pista do Hélio
está funcionando (para o garimpo).
E tem a pista chamada Serra da Estrutura (rio
Catrimani) que os garimpeiros estavam usando,
lá que eles estão chegando de
novo.
Uma coisa que vocês
sempre dizem é que toda vez que é
planejada uma operação de retirada,
surgem empecilhos.
Dizem que tem problema de
avião. É o que a Funai sempre
fala, tem problema para arranjar avião
e para pagar hora de vôo, para fazer
trabalhar a Polícia Federal, conseguir
comida. Aí dizem que não podem
resolver o problema dos garimpeiros porque
falta dinheiro,falta também Polícia
Federal em Boa Vista. Não tá
resolvendo nada. No aeroporto mesmo (de Boa
Vista) não estão controlando
os aviões dos garimpeiros, os aviões
continuam saindo.
Qual seria a primeira atitude
que a Funai tem que tomar para acabar com
o problema?
Para resolver os problemas,
o novo presidente da Funai deve vir primeiro
para Boa Vista e entrar na Terra Yanomami
para olhar primeiro, ver quantos garimpeiros
têm. Lá dentro, vai contar, um,
dois, três, quatro, cinco, dez acampamentos
de garimpeiros. Aí ele pode voltar
para Brasília para fazer reuniões,
chamar Polícia Federal, chamar Ministério
da Justiça, para resolver esse problema
do garimpo. Se ele não for, ele não
saberá. Vai primeiro, vê de perto,
só em seguida vai resolver o problema.
Sem ir para a Terra Yanomami, ele não
vai resolver.
Sobre fazendeiros, Florestas
Nacionais e pistas militares
E os outros problemas na
Terra Indígena Yanomami que você
mencionou?
Falei também dos
fazendeiros da região do Ajarani (dentro
da terra indígena). Isso já
está na justiça, só estamos
esperando que a Funai vá lá
tirar. O presidente da Funai já sabe,
não podem ficar lá, a terra
está homologada e eles não podem
ficar por lá. Eu falei também
sobre a Floresta Nacional (superposta à
terra indígena) que tem deixado nós,
Yanomami, inquietos. Por que tem gente com
muito dinheiro interessada em explorar madeira,
ouro. Falei sobre isso também. Mas
eles (o Ibama) não prometeram nada.
Eles vão analisar. “Vamos analisar
primeiro”, é o que eles dizem.
Você também
falou do problema da pista de pouso militar
no Surucucu ?
A pista do Surucucu, querem
ampliar porque lá é fronteira.
Nossa preocupação é que
desta região sai a nossa água,
saem os recursos hídricos. Lá
é coração da Amazônia.
Não pode ser destruído. Tem
que sentar e conversar, discutir com os Yanomami.
Eu pedi ao general, que estava em Boa Vista,
e eu falei sobre essa pista, pedi para fazer
reunião com a ajuda dos militares.
Levar todos os Yanomami de helicóptero
para o Surucucu para discutirmos lá,
lá onde será ampliada a pista.
Daí eu pedi para
ele, para Funai, Ministério Público,
Ministério do Meio Ambiente, Ibama,
Diocese-RR, Conselho Indígena de Roraima
(CIR), CCPY e a Hutukara, para todo mundo
discutir lá. Porque não queremos
deixar destruírem a cabeceira dos rios.
Para uns é bom, mas também é
ruim para muitos. Suja todas as águas.
Eu falei que tem que discutir a idéia
antes de destruir a natureza, antes de destruir
os rios. Porque eles vão ficar quatro
anos trabalhando nesta pista, sessenta homens.
É por isso que pedi reunião
lá no Surucucu, para ver quantos metros
eles vão destruir, qual é a
fundura que vão dinamitar para quebrar
as pedras.
Sobre Mineração
em terras indígenas
Você disse que os
Yanomami estão preocupados com o governo
Lula por causa da lei de mineração
em terras indígenas.
Eu falei para o presidente
da Funai para ele nos dar apoio, para ele
nos proteger da mineração em
terra yanomami e de outros parentes. A terra
já está demarcada e o próprio
governo quer usar minério para conseguir
dinheiro. Fazer buraco grande com trator para
conseguir um pouquinho de ouro. Então
eu falei que não aceitamos. Isso não
é bom. Isso vai matar meu povo. Matar
água, floresta, tudo.
Dentro da terra yanomami
eu não acho bom que o governo vá
soltar mineração. Porque é
coração da terra yanomami, porque
nossa terra é coração
do Brasil. E eu não quero deixar estragar
a terra. Lá no Surucucu, é lugar
sagrado, é onde Omama criou os Yanomami.
Não pode destruir. Porque eles vão
fazer um grande buraco, como eles fizeram
lá em Serra Pelada e em Minas Gerais.
Só vão fazer estrago. Não
vai trazer benefício para nenhum povo
indígena. Só vão estragar
a floresta, meio ambiente, peixes. Vão
estragar a alma, alma da terra, alma da natureza,
alma do meu povo. Então eu sou contra.
Aqueles que defendem a mineração
em terra indígena afirmam que é
para ajudar os povos indígenas, para
levar dinheiro e desenvolvimento aos índios.
Consideram que todos os povos indígenas
são pobres e que quando tiverem mais
mercadorias serão mais felizes. O que
pensa disso?
Eu não acredito.
Dinheiro, é dinheirinho, pequeno, mas
para eles é grande. Não sei
quantos por cento eles vão dar para
os índios. Mas sei que é pouco,
muito pouco. E a vida da natureza, a vida
da terra, é grande. É maior
do que dinheiro. Vale mais que dinheiro, dinheiro
acaba. O branco dá dinheiro para índio,
aí ele vai começar a comprar
panela, rede, calção e outras
coisas, e aí acaba o dinheiro. A nossa
terra yanomami, não tem dinheiro que
pague. Por isso que nós, povo yanomami,
que moramos nas aldeias, somos contra. Porque
é perigoso, muito perigoso para nós.
Esse dinheiro não
vai salvar a vida do meu povo yanomami, nem
vai deixar nossos filhos contentes. Isso aí
é pensamento deles, dos napë pë
(os brancos). Por isso falam que a gente vai
ficar rico (com a mineração),
que vão dar dinheirinho para os índios,
essa é a opinião deles. Minha
opinião é diferente. Porque
eu sou filho de lá, eu sou filho da
Amazônia. Eu nunca vi a mineração
trazer coisas boas, eu nunca vi os índios
passando bem com a mineração,
sem problemas, com muito dinheiro. Nunca vi.
É por isso que não quero o governo
brasileiro mexendo com nossa terra yanomami
demarcada. (...) Se eu não defender
nossa floresta, como ficaremos? Sofreremos,
passaremos fome, teremos epidemias.
Quando ficarmos doentes,
quem nos ajudará? Será que eles
vão nos ajudar quando começarmos
a passar mal, passar fome? Será que
eles vão dar uma tonelada de comida
para índio que foi destruído?
Eles não vão não. Eu
sou um Yanomami que não aceita. Dinheiro
é bom para vocês, sem dinheirinho
na cidade vocês não passam bem.
Vocês ficam preocupados, pensando, trabalhando,
correndo daqui para lá, quem paga a
luz, a casa. Vocês ficam vendo notícias
que saem na televisão, o mundo está
sendo destruído, povos morrendo. Será
que os donos de mineradoras não estão
enxergando isso?
Então se quiserem
fazer isso lá no coração
da terra yanomami, trabalhar com máquinas
grandes, levar mais doenças, gripe,
malária, tuberculose, levar bebida,
isso não vai dar certo. (...) Nós,
Yanomami, que preservamos a natureza há
muitos anos, não queremos. Nós
queremos que nossa terra seja respeitada porque
a natureza está nos sustentando muitos
anos. Nós vamos morrer de fome quando
a mineração entrar na terra
yanomami. Aí sim, nós vamos
morrer, todo mundo.
Sobre o Plano de Aceleração
do Desenvolvimento (PAC)
Os brancos falam muito dessa
idéia de desenvolvimento. O que pensa
disso ?
Esse é o desenvolvimento
deles. O desenvolvimento é deles, então
eles podem fazer na terra deles, não
na terra indígena. Porque terra indígena
já é reconhecida pelo Governo
e milhares de pessoas no mundo já conhecem
meu povo. Então tem que ser respeitada.
Existe hoje no governo um
Plano de Aceleração de Crescimento,
o PAC. Esse plano fala de construção
de estradas, exploração da floresta,
hidrelétricas, para aumentar o desenvolvimento.
O que você pensa disso?
Parecem palavras novas,
mas já ouvimos essas palavras antes
do tempo da estrada (durante os projetos militares
de desenvolvimento da Amazônia dos anos
70, como a construção da estrada
Perimetral Norte que afetou os Yanomami).
Desenvolvimento para quê? Para fazer
estrada para levar mercadorias? Não
precisa fazer estrada, já está
acabando gasolina, o petróleo já
está acabando, para que fazer mais
estrada? Eles lembram dos pais deles (governos
anteriores) para fazer os mesmos projetos.
Governo está escolhendo caminho que
não presta, é para nós
o caminho das grandes epidemias, do que causa
a morte, por isso querem fazer tudo isso.
Ele errou o caminho do povo.
Eu sou contra estradas, já passou estrada
na terra yanomami só para matar meu
povo. Eu já passei por isso com meu
povo, quando eu era jovem, por isso eu odeio
as epidemias. Eu não quero mais que
não sabem o que fazem levando doenças
na nossa floresta. Esse é o caminho
dos problemas, caminho da matança,
da destruição. Isso é
o que é estrada. Isso que é
desenvolvimento. (...) (Ao contrário)
Quem vai segurar a onda do mundo são
os pajés, são só eles
que têm conhecimentos para segurar a
onda da nossa terra Brasil.
Não só o Brasil,
é o mundo inteiro. Se não existirem
pajés, o mundo vai explodir. E todos
nós morreremos. Eu não quero
acelerar, a terra não fala que quer
isso (desenvolvimento), quem fala são
os que querem mais carros, mais computadores,
mais celulares. São essas pessoas que
estão inventando para acelerar o desenvolvimento.
Se acelerar, vai chegar na grande floresta,
aí vai destruir tudo, estragar a natureza,
vão queimar remédios da floresta
que a gente usa, aí não teremos
mais como curar nossas doenças. Por
isso vocês devem tomar muito cuidado.
Sobre o papel da Hutukara
Associação Yanomami
A Hutukara Associação
Yanomami foi fundada há quase três
anos. Hoje está com projetos próprios
na Terra Yanomami, está brigando pelos
direitos yanomami. Pode dizer uma palavra
sobre este trabalho?
Bom, é para isso
que a Hutukara nasceu, para ficar na frente
das brigas. Quando políticas públicas
não estiverem trabalhando bem, pode
ser Funasa, Funai, ou outros, a Hutukara que
vai levantar a voz, “vocês não
estão trabalhando direito, tem que
trabalhar direito, tem que cuidar do meu povo”.
Hutukara foi criada para isso. Eu estou achando
bom, meu filho também está aprendendo
muito comigo para ir em frente. A Hutukara
está fazendo barulho para não
nos esconderem mais, como antigamente eles
faziam. Porque antes não tinha associação,
agora nós temos. Temos a Hutukara Associação
Yanomami para reclamar, denunciar, para escutarem
o que está acontecendo na Terra Yanomami.
Então eu estou muito contente que a
Hutukara está na frente da briga, fazendo
este trabalho para que trabalhem bem para
meu povo.
+ Mais
Exposição
revela relações de povos indígenas
com a palavra escrita
01/06/2007 - Exposição
fotográfica “Tempo de Escrita”, a ser
lançada na próxima semana no
Museu do Índio, no Rio de Janeiro,
apresenta belas imagens de povos indígenas
fazendo uso da palavra escrita e evidencia
novas práticas culturais nas aldeias
do País. Veja algumas das fotos que
compõem a exposição.
Para quem pensa que a palavra
falada ainda é a única forma
de comunicação utilizada pelos
índios brasileiros, vale visitar a
partir da próxima semana o Museu do
Índio, no Rio de Janeiro. Na quarta-feira
6 de junho o museu inaugura a exposição
fotográfica “Tempos de Escrita”, uma
bela coleção de imagens sobre
a relação – cada vez mais intensa
- dos povos indígenas do País
com a palavra escrita. As imagens que ilustram
esse texto são parte da exposição.
Hoje são faladas mais de 180 línguas
indígenas no Brasil. Algumas contam
com uma longa tradição escrita.
Outras, ao contrário, estão
agora enfrentando o desafio de definir uma
grafia. A presença da escola nas terras
indígenas e o direito que os povos
indígenas conquistaram de alfabetizar
suas crianças em suas próprias
línguas estão entre os principais
fatores que têm estimulado o surgimento
de uma importante produção escrita
indígena. Livros, em português
e em diferentes línguas indígenas,
têm sido escritos com cada vez mais
freqüência por professores e alunos
indígenas para uso em suas escolas.
Divididas em vinte painéis,
as fotos revelam diferentes situações
de uso e interação com a escrita
por parte de crianças, jovens, mulheres
e homens de onze povos indígenas diferentes:
Ikpeng, Irantxe, Kaxuyana, Kayabi, Kisêdjê,
Kuikuro, Ticuna, Tiriyó, Tuyuka, Wajãpi
e Yanomami. A curadoria da mostra ficou a
cargo do antropólogo Luís Donisete
Benzi Grupioni, da Universidade de São
Paulo (USP). Grupioni explica que a mostra
busca refletir os diferentes estágios
das relações destas etnias com
a palavra no papel. “Povos tradicionalmente
ágrafos vêm tendo contato com
a escrita desde os tempos da colonização.
Para muitos povos indígenas, ela é
uma velha conhecida, chegou junto com a catequização
e com a introdução da escola
civilizadora. Para outros povos, a escrita,
e a escrita na própria língua,
é uma conquista nova, recente”, afirma
Grupioni.
Parte das imagens selecionadas
para compor a exposição vem
do acervo do Instituto Socioambiental (ISA)
e foram produzidas por pesquisadores e colaboradores
do instituto, como o antropólogo Beto
Ricardo, coordenador do programa Rio Negro,
a antropóloga Camila Gauditano, ex-integrante
do Programa Xingu do ISA e o fotógrafo
Pedro Martinelli durante o desenvolvimento
de projetos em campo. As fotos, assim, também
simbolizam conquistas e etapas dos projetos
desenvolvidos pelo ISA e comunidades indígenas
parceiras, como a retirada de documentos por
índios do Alto Rio Negro, o levantamento
de recursos naturais no Parque Indígena
do Xingu e diversas atividades em educação
indígena. A exposição
ainda apresenta fotografias de Dominique Tilkin
Gallois, Elias Januário, do próprio
Luís Donisete Grupioni, de Luís
Fernando Pereira e da equipe de assessoria
de comunicação do Ministério
da Educação (MEC).
Promovida pelo Museu do
Índio em parceria com a Secretaria
de Educação Continuada, Alfabetização
e Diversidade do MEC, a exposição
é gratuita. O Museu do Índio
fica na Rua das Palmeiras, 55, no Botafogo,
Rio de Janeiro. Para saber mais, ligue: 21
2286-2097 ou acesse www.museudoindio.gov.br.
Com informações
da assessoria de comunicação
do Museu do Índio.