4 de Junho de 2007 - Vladimir
Platonow - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - Neste segundo trecho
da entrevista à Agência Brasil,
o presidente da Empresa de Pesquisa Energética
(EPE), Maurício Tolmasquim, diz que
o Brasil pode fazer mais no campo da eficiência
energética e sugere que seja desenvolvido
um programa nacional de conservação
de energia. Ele afirma, no entanto, que isso
não evita a necessidade de aumentar
a produção, e que a produção
hidrelétrica é uma fonte “do
presente”, enquanto a eólica é
do “futuro”.
Agência Brasil: Está
havendo uma prioridade exagerada na produção
de energia, com a construção
de hidrelétricas e termelétricas,
em detrimento de ações de preservação
energética? Na época do apagão
(crise de fornecimento em 2001), o país
conseguiu poupar 30%...
Maurício Tolmasquim: Por mais que nós
preguemos a eficiência energética,
não devemos nos iludir. Precisaremos
aumentar a oferta de energia para poder atender
o bem-estar da população. Toda
oferta de energia tem maior ou menor impacto.
Eficiência energética é
importante, mas o Brasil precisa de oferta
de energia para atender ao seu crescimento.
Por outro lado, seria importante haver um
programa nacional de conservação
de energia. Hoje só existem programas
setoriais, como Procel, ligado à Eletrobrás,
o Compet, ligado à Petrobras, ações
no Ministério de Minas e Energia, Sebrae
[Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas], Aneel [Agência
Nacional de Energia Elétrica]. Eu tenho
defendido isso no governo. Seria importante
o Ministério de Minas e Energia lançar
esse programa, algo estruturado de maneira
oficial e que integre os diversos programas
que existem. Pode haver leilões para
eficiência energética. Podemos
organizar leilões para comprar a conservação
de energia. Contrataria o megawatt poupado.
ABr: Onde poderia haver
maior queda no consumo?
Tolmasquim: De uma maneira geral, as indústrias
grandes, que têm um gasto importante
com energia, já têm um programa
de conservação. Cada megawatt
poupado reduz enormemente a fatura. Já
as empresas de porte médio, principalmente
o comércio, poderiam economizar mais.
Mas a economia tem mais efeito sobre o consumidor
residencial. Com o racionamento [em 2001],
houve uma mudança no padrão
de consumo, com desuso de freezers, diminuição
no uso de ar-condicionado e hábito
de se desligar a luz quando não há
necessidade. Mas isso não é
permanente, pois vão surgindo novos
equipamentos. Agora mesmo vamos adotar o padrão
da TV digital, que vai operar com um conversor
que consome grande quantidade de energia.
ABr: Então é
inevitável o aumento do consumo de
energia, principalmente com a melhora na qualidade
de vida de parte da população?
Tolmasquim: Com a melhora da economia uma
grande parcela da população
vai poder comprar novos aparelhos elétricos,
o que vai aumentar o consumo de energia. Já
a classe média brasileira tem padrões
de consumo que são equivalentes a padrões
europeu ou americano e não deve registrar
um aumento expressivo na demanda.
ABr: E como as fontes de
energias alternativas (eólica, solar,
biomassa e pequenas usinas hidrelétricas)
podem ajudar para garantir a oferta no mercado
brasileiro?
Tolmasquim: Algumas energias alternativas
já são competitivas e extremamente
atraentes – e eu prefiro chamar de fontes
renováveis de energia – como a hidrelétrica,
as PCHs (pequenas centrais hidrelétricas)
e as usinas da biomassa, principalmente da
cana-de-açúcar [que usam a palha
da cana como combustível nas caldeiras].
O Brasil também tem um grande potencial
de ventos – e alguns dizem que é o
equivalente a dez Itaipus. Mas o custo de
geração ainda é caro,
alcançando R$ 200 a R$ 220 o megawatt,
contra R$ 140 de uma termelétrica e
menos de R$ 125 da hidrelétrica. Os
países ricos da Europa estão
colocando uma quantidade enorme de energia
eólica, mas de maneira subsidiada.
Mas isso é pegar dinheiro do estado
que iria para a educação e a
saúde e aplicar em gerador eólico.
Será essa a nossa prioridade? A eólica
é uma energia do futuro do Brasil,
a do presente é a hidreletricidade,
o bagaço de cana e as PCHs.
ABr: Qual sua avaliação
do Programa de Incentivo às Fontes
Alternativas (Proinfa)?
Tolmasquim: O Proinfa tem uma série
de problemas. Inicialmente estava previsto
para instalar 3,3 megawatts de três
fontes: eólica, biomassa e PCH, que
deveriam entrar em operação
em 2006. Não foi possível, mas
vão entrar em 2008. Noventa por cento
do que foi contratado no Proinfa vai entrar
em operação, ainda que com defasagem.
Mas temos que entender que é um programa
inicial, que são pequenos produtores,
que tiveram dificuldade de conseguir financiamento,
problemas de equipamentos etc.
ABr: A energia solar não
é pouco utilizada no país?
Tolmasquim: Existem dois tipos de usos para
a energia solar: a fotovoltaica, usada para
produzir energia, e a térmica, usada
para aquecer a água, através
de painéis. A térmica tem um
potencial monumental e é competitiva.
Porque o Brasil tem uma grande insolação
e não é uma energia cara. Em
Israel, por exemplo, todos os prédios
têm aquecedor solar. Mas é necessária
uma legislação urbana, que obrigue
que os prédios já sejam construídos
com canalização para água
quente. A instalação do painel
não é tão cara. Embora
não exista programa do governo federal
de financiamento, a questão depende
mais das prefeituras, que devem mudar as leis
de construção. Já a fotovoltaica
é muito cara e só se justifica
para regiões muito afastadas.
ABr: Qual a comparação
entre o custo e o benefício das diferentes
fontes de energia, levando-se em conta o impacto
ambiental?
Tolmasquim: É necessário contabilizar
o custo econômico e o ambiental. Felizmente
nós temos no Brasil fontes que são
competitivas nos dois lados, como a hidrelétrica
e o bagaço de cana. Já as fontes
solar e eólica são ótimas
do ponto de vista ambiental, mas são
muito caras do ponto de vista econômico.
Mesmo colocando o custo ambiental, a hidrelétrica
é muito mais barata do que as demais
fontes. Hoje as hidrelétricas são
construídas em uma área alagada
muito pequena, com pouco impacto e não
tem emissão de CO2 [gás carbônico].