15 de Junho de 2007 - Isabela
Vieira - Enviada especial - Ibotirama (Bahia)
- Pescadores aposentados, os irmãos
Alcides e Alceno Avos Rodrigues manifestam
preocupação com o futuro do
rio e o início das obras de transposição.
Barreiras (Bahia) - Ao se percorrer os 134
quilômetros da BR-160 que separam as
cidades baianas de Bom Jesus da Lapa e Ibotirama,
gasta-se mais tempo que se deveria. O trajeto
poderia ser feito em cerca de uma hora, mas
os buracos na pista fazem a viagem durar mais
de três horas.
À beira da estrada,
estabelecimentos comerciais e casas simples.
Nos quintais, pequenas criações
de bode e cabra. Ao fundo da paisagem, a espinhosa
caatinga.
Conforme se avança
no caminho, a vegetação começa
a ganhar cor. O verde de alguns pastos aos
poucos se transforma em lavouras de milho
e feijão de corda. Algumas, cultivadas
em regiões que até março
e abril estavam alagadas pelo cheia do Rio
São Francisco.
Na cidade de Ibotirama,
às margens do rio, os irmãos
pescadores Alcides Alves Rodrigues, de 67
anos, e Alceno Alves Rodrigues, de 71, esperam
a visita do ministro da Integração
Nacional, Geddel Vieira Lima.
Eles querem saber quais
mudanças as obras de transposição
do rio podem acarretar em suas vidas. Temem
que o número de peixes, que vem diminuindo
paulatinamente nos últimos anos, acabe
de uma vez.
“Hoje não é
natureza quem manda no rio, é o homem”,
diz Alcides. “Hoje o povo está querendo
saber mais do que Deus”, completa Alceno.
Ontem (14), o ministro esteve
no local para conhecer um pequeno porto privado,
marco inicial das obras de duas hidrovias
que totalizam 1,3 mil quilômetros.
Na construção
da primeira delas, descendo o São Francisco,
serão revitalizados 607 quilômetros,
de Ibotirama a Juazeiro. Na outra, entre Ibotirama
e Pirapora (MG), os 734 restantes.
Segundo Geddel, em ambos
os trechos serão feitas obras de desassoreamento
(retirada de sedimentos do fundo do rio);
desrocamento (retirada de rochas) e recuperação
das margens.
“Aqui em Ibotirama, já
temos um viveiro com 250 mil plantas. São
espécies nativas que estamos começando
a plantar nas margens, recompondo as matas
ciliares e evitando os pontos de assoreamento”.
O diretor de Revitalização
de Bacias da Companhia de Desenvolvimento
do Vale do São Francisco, Jonas Paulo,
informou que atualmente são transportadas
cerca de 1000 toneladas no trecho de Ibotirama
a Juazeiro.
“Com as obras, grandes embarcações
poderão carregar até cinco mil
toneladas, disse ele, que também esteve
em Ibotirama. O orçamento para as obras
da hidrovia, previstas no Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), somam R$ 100 milhões.
Segundo ele, a revitalização
de hidrovias no São Francisco tem como
objetivo aumentar a capacidade de escoamento
da produção de soja, milho e
algodão produzidos no Oeste da Bahia
e reduzir o tempo do percurso, já que
hoje bancos de areia atrapalham a navegabilidade
do rio.
Enquanto o ministro
percorre o porto de barco, os irmãos
Alcides e Alceno observam a visita da margem
do rio. E dizem concordar que educação
ambiental e fiscalização devem
atuar juntas para preservar a vida do São
Francisco. “Muitos insistem em pescar na piracema,
e um peixe que ia dar mil, morre de uma vez”.