19 de Junho de 2007 - Wellton
Máximo - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - A execução
de obras de infra-estrutura no norte e no
oeste da Amazônia deve aumentar o desmatamento
na floresta e contribuir para piorar o aquecimento
global. O alerta foi dado hoje (19) pelo pesquisador
Philip Fearnside, do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (Inpa), durante
debate na sede do Instituto de Pesquisa Econômica
e Aplicada (Ipea) sobre as conseqüências
das mudanças climáticas na economia.
O pesquisador destacou que
empreendimentos previstos no Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC) – como a BR-319, que
ligará o Acre ao Peru, e as hidrelétricas
de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira
– vão atrair um grande contingente
populacional e estimular a agricultura e a
pecuária na região. “Isso vai
ampliar o chamado Arco do Desmatamento, que
hoje abrange o Mato Grosso, ao sul do Pará
e parte de Rondônia”, explicou.
Somente as obras das usinas
do Rio Madeira, em Rondônia, segundo
Fearnside, deverão levar 40 mil pessoas
para trabalhar no estado: “Depois do fim da
construção, esse contingente
vai migrar para Porto Velho e, de lá,
para o sul do Amazonas e o Acre, o que certamente
resultará na expansão do desmatamento”.
Para o pesquisador, os efeitos
podem ser trágicos não apenas
sobre a Amazônia, mas sobre todo o planeta,
porque o desmatamento é responsável
pela maior parte da emissão de gás
carbônico no país: “Atualmente,
75% do gás carbônico emitido
pelo Brasil vêm do desflorestamento”.
Durante o dia, os vegetais
absorvem gás carbônico e liberam
oxigênio; com a derrubada de árvores,
o gás carbônico deixa de ser
absorvido, o que na prática equivale
a uma nova emissão, explicou Fearnside,
acrescentando que a Amazônia ainda consegue
reter boa parte do gás carbônico,
mas essa capacidade está se esgotando.
Para ele, "as chances de as emissões
terem superado o limite de resistência
da Amazônia estão entre 15% e
60%”.
No debate, o pesquisador
apresentou ainda previsões internacionais
que mostram os efeitos do aquecimento global
sobre a Amazônia: até 2100, a
temperatura média na região
deve subir entre 3,3 graus e 5,5 graus, o
que trará conseqüências
devastadoras sobre a maior floresta tropical
do planeta. “Os modelos são divergentes
em alguns pontos, mas eles apontam para o
aumento da temperatura e a transformação
da floresta em savana”, advertiu.
A partir de 2050, lembrou,
existe o risco de o solo da Amazônia
se salinizar e as árvores começarem
a ser substituídas pelas gramíneas.
Ele explicou que “com o aumento da temperatura,
as árvores absorvem mais água,
o que reduz as chuvas na região”. E
que se as emissões de gás carbônico
continuarem a crescer nos níveis atuais,
em 2080 grande parte da floresta terá
desaparecido.
Um dos modelos exibidos
pelo pesquisador indicou que apenas o oeste
do Amazonas e uma área que cobriria
a Colômbia, o Equador e o nordeste do
Peru manteriam as características originais
da vegetação amazônica.
Atualmente, de acordo com
o especialista, a proporção
de gás carbônico na atmosfera
é de 383 partes por milhão.
“Antes da Revolução Industrial,
no século 18, esse índice era
de 280 partes por milhão, o que mostra
um crescimento assustador, principalmente
no último século”, ressaltou.