25/06/2007 - O Paraná
foi considerado o estado mais avançado
da América Latina na erradicação
de espécies exóticas invasoras,
durante discussão sobre o tema - realizada
no V Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação,
em Foz do Iguaçu, na última
semana. A afirmação se deve
ao trabalho, realizado pelo Instituto Ambiental
do Paraná (IAP), em publicar a primeira
lista do país contendo espécies
exóticas invasoras e, ainda, reconhecer
o problema oficialmente por meio de portaria
que estabelece a retirada dessas espécies
das Unidades de Conservação.
Para Coordenadora do Programa
de Espécies Invasoras para a América
do Sul da organização não-governamental
“The Nature Conservancy” e fundadora do Instituto
Hórus de Desenvolvimento e Conservação
Ambiental, Silvia Ziller, o trabalho do IAP
pode ser considerado um marco histórico.
“Esse trabalho é extremamente importante
e significativo. O exemplo do Paraná
será seguido por outros estados do
País, é apenas uma questão
de tempo”, declarou Silvia Ziller. Segundo
ela, a publicação da lista é
fundamental para que se possa ter o respaldo
da legislação na erradicação
das espécies exóticas invasoras.
“O artigo 61 da Lei Federal
de Crimes Ambientais 9.605 prevê punição
para quem disseminar doença ou praga
ou espécies que possam causar danos
à agricultura, à pecuária,
à flora e à fauna nativa nacional.
Mas, sem saber quais são essas espécies,
não há meios de responsabilizar
uma pessoa que introduz exóticas no
meio ambiente”, explicou Silvia.
A gerente de Recursos Naturais
do Instituto de Meio Ambiente do Espírito
Santo, Michele Dechoum, tem a mesma opinião
sobre as propostas desenvolvidas pelo IAP.
“Sem sombras de dúvidas o Paraná
é hoje o estado brasileiro mais avançado
em termos legais e no estabelecimento de procedimentos
técnicos para a erradicação
de espécies invasoras. Além
disso, é pioneiro em promover, na prática,
a erradicação em Unidades de
Conservação”, afirmou Michele,
que é bióloga e mestre em biologia
vegetal. Segundo ela, com base na portaria
do IAP, o Espírito Santo também
criou uma legislação para a
erradicação de espécies
exóticas em Unidades de Conservação.
Vila Velha - As duas especialistas
estiveram no Parque Estadual de Vila Velha
para conhecer a ação do IAP
na erradicação de pinus - espécie
exótica que ameaça as características
naturais da área. Em apenas 70 dias
de trabalho, já foram retiradas quase
500 mil árvores por meio da parceria,
inédita no país, entre o órgão
ambiental e a Associação Paranaense
de Empresas de Base Florestal do Paraná
(Apre).
“O trabalho no Parque melhorou
muito a paisagem. É sem dúvida
uma evolução fantástica,
que demonstra a viabilidade da parceria entre
instituições, públicas
ou privadas, e o poder executivo em prol da
erradicação”, avaliou Silvia.
Ela enfatizou que o manejo ambiental de uma
unidade de conservação implica
a retirada definitiva de plantas ou animais
que não pertençam àqueles
ambientes naturais.
O objetivo da erradicação
é devolver ao parque de Vila Velha
as suas características naturais. “Queremos
que a natureza seja o mais próximo
possível do que era, quando o parque
foi criado, quando a vegetação
predominante era o campo”, afirmou o presidente
do IAP, Vitor Hugo Burko, explicando que a
ação inclui a orientação
dos produtores do entorno e monitoramento
contínuo para evitar novas contaminações”,
detalhou.
Segundo o diretor de Biodiversidade
e Áreas Protegidas do IAP, João
Batista Campos – que coordena todo o trabalho
do Instituto voltado a espécies invasoras
no Paraná - antecipou que todas as
ações já realizadas irão
compor o Programa Estadual de Erradicação
de Espécies Exóticas. “Estamos
elaborando um plano de abrangência estadual,
e o reconhecimento das atividades já
desenvolvidas mostra que estamos no caminho
certo. São várias frentes de
ação, modelo para o Brasil e
todas estas estratégias farão
parte do Programa Estadual para controle de
espécies exóticas invasoras”,
garantiu João Batista.
Dados - As espécies
exóticas invasoras - aquelas que não
são nativas de um ambiente – já
são tidas como a primeira causa de
redução da biodiversidade no
mundo. “Estas espécies dominam o espaço
das nativas, simplificando e diminuindo a
multiplicidade da flora e também da
fauna no Estado”, explicou o secretário
do meio ambiente e Recursos Hídricos,
Rasca Rodrigues.
Segundo informações
da publicação “América
do Sul Invadida - A crescente ameaça
das espécies exóticas invasoras”,
realizada pelo Programa Global de Espécies
Invasoras (Gisp), os seres humanos são
os principais responsáveis pelo transporte
de espécies exóticas para fora
das suas regiões de ocorrência
natural. Algumas espécies, porém,
viajam despercebidas em carregamentos de sementes
ou madeira e na água de lastro de navios.
Outro problema é
a disseminação de espécies
exóticas, visando o desenvolvimento
econômico e retorno financeiro como
é o caso do caramujo africano, que
pode ser encontrado tanto no litoral do Paraná,
como na região norte do Estado. “O
caramujo africano foi trazido ilegalmente
da África na década de 80, como
alternativa econômica para substituir
o escargô (molusco utilizado na culinária
francesa) e, como não foi apreciado
na cozinha brasileira, os criadores ilegais
abandonaram as atividades e os moluscos escaparam
para o meio ambiente”, contou o secretário.
Ele lembrou que, ao trazer
estas espécies, as pessoas não
prevêem os riscos ambientais ou o manejo
adequado e medidas preventivas contra a invasão.
“Há danos a ecossistemas naturais que
são irreversíveis e agravados
na presença de espécies exóticas
invasoras, podendo resultar na extinção
de espécies nativas”, ponderou Rasca.
Silvia Ziller mencionou
ainda o alto impacto econômico causado
pela disseminação de espécies
exóticas invasoras. Como exemplo no
Paraná, a pesquisadora citou o ipê-mirim
ou “amarelinho”, encontrado na região
Noroeste do Paraná. “Junto com a goiabeira,
o amarelinho passou a ocupar áreas,
que foram desmatadas para pastagem e criação
de gado. Devido ao alto custo para a erradicação
dessas espécies, está ocorrendo
o abandono das terras”, demonstrou Silvia.
Outro exemplo citado por
ela foi o estudo apresentado na África,
em que se fez a introdução do
peixe tilápia em um rio para tentar
aumentar a renda dos pescadores. “À
medida que houve a disseminação
da tilápia no Nilo, as espécies
nativas sumiram e o aumento na renda dos pescadores
foi de US$ 0,12 centavos ao ano”, contou Silvia,
enfatizando que o rendimento econômico
acaba sendo extremamente inferior aos prejuízos
causados ao ecossistema natural.
Ela contou ainda, que uma
das reuniões preparatórias para
Conferência das Partes da CDB (COP-9)
- uma das mais importantes do mundo na área
do meio ambiente, a ser realizada na Alemanha,
em 2008 - será sobre os riscos de espécies
invasoras que estão sendo promovidas
para fabricação do biodiesel
entre elas o dendê e a mamona.