A pesca
do caranguejo-uçá gera emprego
e renda para milhares de famílias brasileiras,
mas a captura do caranguejo declinou nos últimos
anos devido à sobrepesca e ao descarte
de 40 a 60% do total em decorrência
dos métodos de captura utilizados,
estocagem e transporte. A Embrapa Meio-Norte,
em Parnaíba – PI, desenvolveu uma metodologia
que reduz essas taxas para valores inferiores
a 5%.
O pesquisador Jefferson
Legat, coordenador do projeto, explica que
de acordo com a metodologia desenvolvida,
os caranguejos devem ser capturados manualmente
e acondicionados soltos dentro de caixas plásticas
com espuma, emborrachado ou tecido embebido
em água no fundo, entre e sobre os
animais.
Os animais podem ser estocados
por até 48h antes da entrega ao consumidor
e devem ser transportados dentro das próprias
caixas. Após o descarregamento todo
o material deve ser lavado com jato de água
de alta pressão.
A tecnologia já está
disponível, sendo transmitida aos catadores
e comerciantes através de palestras
e cursos de capacitação. Uma
cartilha educativa foi elaborada para distribuição
ao setor produtivo.
Como ações
da Embrapa, ele cita também a realização
dos I, II, III e IV Fóruns do caranguejo-uçá
do Delta do Rio Parnaíba, visando reunir
catadores, técnicos, pesquisadores,
comerciantes, transportadores, órgãos
públicos e sociedade civil para discutir
soluções para os problemas ambientais
e sócio-econômicos da cadeia
produtiva do caranguejo, bem como políticas
públicas para o setor; A Caracterização
da cadeia produtiva do caranguejo-uçá
no Delta do Rio Parnaíba e áreas
adjacentes; Envio de sugestões para
o plano de manejo da espécie no Baixo
Parnaíba; O desenvolvimento de métodos
para reduzir as taxas de desperdício
de caranguejos capturados e realização
de diagnóstico sócio-econômico
dos catadores de caranguejo da região.
Captura
A redução
na captura em diversos estados brasileiros
nos últimos anos tem sido vista como
o primeiro indício do colapso da atividade.
Atualmente, observa-se o declínio desta
atividade pesqueira nos estados do Rio Grande
do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas
e Sergipe, e no norte da Bahia. Nos estados
do Piauí e do Maranhão, onde
a captura tem se mantido constante, foi observado
que está havendo redução
no peso e no tamanho médio dos espécimes
capturados; aumento do esforço de pesca
sem o aumento da captura; e maior dificuldade
na captura.
Além do aumento do
esforço pesqueiro, existem diversos
gargalos que ocasionam problemas sócio-econômicos
e ambientais na cadeia produtiva do caranguejo-uçá.
Segundo catadores e distribuidores do Piauí,
Ceará e Maranhão, os fatores
relacionados a esses problemas são:
a captura e o manuseio incorretos do animal;
a estrutura inadequada de transporte; e a
ausência de regulamentação
e fiscalização para a atividade.
Com a metodologia desenvolvida
em parceria com uma cooperativa de catadores
de caranguejo e juntamente ao transporte convencional
da cadeia produtiva, o trabalho teve ainda
um impacto ambiental satisfatório,
explica o pesquisador: “Uma vez que entre
40 e 60% dos animais capturados são
descartados em nenhum aproveitamento, isso
significa que o consumo é no mínimo
40% menor que a captura. A redução
dos desperdícios permite reduzir as
taxas de captura possibilitando que o crustáceo
consiga manter suas taxas populacionais”.
Perdas
Ele ressalta que apenas
na região Meio-Norte do Brasil estima-se
uma captura anual de cerca de 20 milhões
de caranguejos com descarte, em média,
de 10 milhões por ano. “Os animais
levam cerca de 7 (sete) anos para atingir
o tamanho comercial e são vendidos
por R$ 0,25 ou R$ 0,50 a unidade, inviabilizando
o cultivo comercial e, que por esse motivo
devemos manter a população natural”,
destaca.
A tecnologia gera ainda
benefícios diretos para os catadores
de caranguejo, uma vez que possibilita a redução
do esforço de pesca sobre os estoques
naturais e permite agregar valor ao caranguejo
capturado. Em relação à
comercialização, com a medodologia,
ocorre a reduz nos desperdícios, no
impacto ambiental e permite aos pescadores
elevar o preço do produto com a garantia
que o mesmo chegará vivo ao consumidor.
Em médio prazo espera-se a criação
de uma espécie de “selo verde” para
o produto, atestando a qualidade do mesmo.