28 de Outubro de 2007 -
Luana Lourenço - Repórter da
Agência Brasil - Rio de Janeiro - Neste
segundo trecho da entrevista à Agência
Brasil, o vice-presidente
do Painel Intergovernamental sobre Mudança
Climática (IPCC, na sigla em inglês),
Mohan Munasinghe, diz que o recebimento do
Prêmio Nobel da Paz elevará a
confiança dos governantes nas pesquisas
do órgão, ligado às Nações
Unidas. A premiação será
dividida com o ex-presidente dos Estados Unidos
Al Gore, pelo trabalho sobre o aquecimento
global.
Munasinghe diz que ainda
não foi definida a partilha dos cerca
de R$ 1,5 milhão que cabem ao corpo
de pesquisadores, e sugere que o dinheiro
seja destinado a um fundo para capacitação
e disseminação de informações
sobre clima nos países em desenvolvimento.
Agência Brasil: Qual
a importância do Prêmio Nobel
da Paz para o trabalho do IPCC?
Mohan Munasinghe: O Nobel agrega valor ao
trabalho do IPCC. Primeiro, pelo reconhecimento:
há muitos cientistas de muitos países
– entre eles o Brasil, que contribuiu muito
para esse relatório – e esse trabalho
foi reconhecido. O trabalho dos cientistas
do IPCC não é remunerado, então
eles trabalham vários anos para um
relatório, e é ótimo,
agora, ver o trabalho dos meus colegas reconhecido
dessa maneira.
O segundo ponto é
a credibilidade: no passado, fomos alvo de
algumas críticas, dúvidas sobre
aquecimento global, sobre a contribuição
humana para o fenômeno etc. Agora, com
o Nobel, a credibilidade foi incrivelmente
elevada e, portanto, os governantes e os tomadores
de decisão vão confiar mais
nos resultados do IPCC. O terceiro ponto é
o futuro, a influência que teremos.
O IPCC não faz recomendações,
apenas tornamos os fatos conhecidos: nossos
resultados têm implicações
políticas, mas não recomendações
políticas. O prêmio mostra que
a ciência é tão importante
como política para o futuro da humanidade.
Portanto: reconhecimento, credibilidade e
reconhecimento.
ABr: Como o IPCC vai utilizar
o dinheiro do prêmio?
Munasinghe: Posso lhe dar uma posição
pessoal, porque o IPCC ainda não decidiu
o que vai fazer; mas eu recomendo que o dinheiro
seja colocado em um fundo para utilizar em
capacitação e disseminação
de informações sobre mudanças
climáticas nos países em desenvolvimento.
O dinheiro deveria ser utilizado em um bom
propósito e para promover o trabalho
do IPCC, não necessariamente distribuído
entre os membros; essa é minha opinião
pessoal e tomara que a maioria dos meus colegas
prefira essa solução.
+ Mais
Lutas contra o aquecimento
e a pobreza caminham juntas, diz vice do IPCC
28 de Outubro de 2007 -
Luana Lourenço - Repórter da
Agência Brasil - Rio de Janeiro - O
vice-presidente do Painel Intergovernamental
sobre Mudança Climática (IPCC,
na sigla em inglês), Mohan Munasinghe,
alerta que países pobres sentirão
os principais impactos do aquecimento global
e que as nações industrializadas
devem ter mais maior responsabilidade na mitigação
de gases do efeito estufa. Afirma, também,
que existem boas experiências de avanço
simultâneo no desenvolvimento socioeconômico
e na contenção das mudanças
climáticas.
Apesar de não defender
o estabelecimento de metas de redução
para países em desenvolvimento, o vice-presidente
do IPCC aponta uma solução alternativa:
a criação de um grupo intermediário,
com responsabilidades mais próximas
às dos países ricos. O Brasil,
segundo Munasinghe, poderia ser incluído
nesse grupo.
Ele concedeu entrevista
à Agência Brasil durante a semana,
quando esteve na capital fluminense para o
primeiro encontro do painel da América
Latina, organizado pela Secretaria de Estado
de Meio Ambiente do Rio de Janeiro e pela
Companhia Vale do Rio Doce.
Agência Brasil: Quais os pontos mais
relevantes das conclusões do IPCC?
Mohan Munasinghe: O ponto principal é
que o aquecimento global é inequívoco.
O segundo, é que é muito provável
que ele tenha sido causado pela ação
humana, principalmente após a Revolução
Industrial, nos últimos 100 anos. E
a causa é o acúmulo de carbono
na atmosfera. O terceiro ponto é que
os impactos serão sentidos com mais
intensidade nos países pobres e pelos
grupos mais pobres – isso é relevante
para nós.
O relatório fez previsões
sobre o aumento de temperatura e do nível
do mar, e também apontou as soluções.
Nós propusemos, por exemplo, ações
de adaptação. E também
de mitigação, para reduzir as
emissões de gases de efeito estufa.
O Protocolo de Quioto é só um
pequeno passo para essa mitigação,
e nem ele mesmo foi propriamente implementado.
Os resultados do IPCC mostraram que nos últimos
30 anos as emissões aumentaram mais
de 70%. Mesmo nos últimos dez anos,
depois do Protocolo de Quioto, as emissões
aumentaram, e isso é inaceitável.
O ponto mais importante para países
em desenvolvimento, como Brasil e o Sri Lanka
– meu país – é que o melhor
método para resolver o aquecimento
global, para adaptação e mitigação,
é integrar as soluções
em uma estratégia de ação:
é o caminho para continuar o desenvolvimento,
com melhoria da vida das pessoas pobres e
combate ao problema das mudanças climáticas
ao mesmo tempo.
ABr: Como isso é
possível?
Munasinghe: A questão é tornar
esse desenvolvimento mais sustentável.
Temos histórias de sucesso de adaptação,
mitigação e desenvolvimento
ao mesmo tempo. Temos metodologias e tecnologias
para isso. Desenvolvimento e clima não
devem ser opostos, são complementares.
A idéia é continuar a desenvolver,
mas de forma mais sustentável, para
resolver não só o problema do
aquecimento, mas também a pobreza e
segurança alimentar, por exemplo. O
mais importante de tudo é que esses
países não podem copiar ou repetir
os resultados ruins dos países desenvolvidos.
A solução
é que países industrializados
reduzam suas emissões e países
em desenvolvimento tenham outro caminho de
desenvolvimento, em que as emissões
não cresçam tão rápido.
ABr: É hora de estabelecer
metas de redução de emissões
para em desenvolvimento?
Munasinghe: A Convenção de Mudanças
Climáticas [da Organização
das Nações Unidas] fala em responsabilidades
comuns, mas diferenciadas. Comum porque eu,
você e todo mundo temos o objetivo conjunto
de salvar o planeta; diferenciadas porque
nós temos diferentes habilidades e
capacidades para isso.
O Protocolo de Quioto reconheceu
esse princípio: mais de 80% dos gases
de efeito estufa presentes na atmosfera hoje
foram emitidos pelos países ricos.
Além disso, eles têm mais recursos
econômicos e financeiros. O protocolo
diz: vocês, países ricos devem
começar a mitigação e
mostrar para o resto do mundo como isso está
sendo feito. Nos países em desenvolvimento,
os níveis de emissões per capita
ainda são pequenos, e para crescer
eles precisam aumentar essas emissões;
isso é reconhecido ao não se
estabelecer metas no protocolo para essas
nações em desenvolvimento.
No entanto, à medida
que a tecnologia vai se desenvolvendo nos
países industrializados, podemos começar
a adotar algumas tecnologias de mitigação
e reduzir o crescimento global das emissões
e de utilização de energia.
Em vez de separar países no Anexo 1
[do Protocolo de Quioto] ou fora do Anexo
1, ricos e pobres, é possível
ter um grupo intermediário. Por exemplo,
a Coréia, ela poderia entrar no grupo
de países do Anexo 1, porque agora
ela é rica; teríamos países
se preparando para entrar no grupo dos países
com metas. Acredito que as negociações
pós-Quioto, que vão começar
agora em Bali [em dezembro] vão tentar
incluir algumas dessas idéias.
ABr: Qual seria a posição
do Brasil nesse contexto?
Munasinghe: Acredito que o Brasil estaria
mais próximo do grupo intermediário.
ABr: Com metas?
Munasinghe: Não necessariamente. Caberia
ao governo tomar a decisão. O mais
importante não é estabelecer
metas para os países em desenvolvimento,
mas garantir que os países ricos implementem,
cumpram suas metas. É muito mais importante,
porque eles já concordaram, ratificaram
o protocolo, mas estão longe de cumpri-lo.
ABr: A participação
do IPCC na reunião das partes (COP)
não indica que o painel tem influência
política sobre as nações
representadas na convenção?
Munasinghe: Não fazemos recomendações.
O IPCC vai apresentar resultados, como está
fazendo aqui, então ficará óbvio
para os formuladores de políticas o
que precisa ser feito. Não temos que
dizer: faça isso, faça aquilo.
Não é nosso trabalho. Mas quando
eles vêem os resultados, eles sabem
o que têm que fazer. E cada país
tem que tomar atitudes diferentes; não
conseguiríamos dar instruções
a 160 países.
+ Mais
Resultados de debate do
IPCC serão levados a conferência
na Indonésia sobre o clima
27 de Outubro de 2007 -
Luana Lourenço - Repórter da
Agência Brasil - Rio de Janeiro - Os
resultados do primeiro encontro do Painel
Intergovernamental sobre Mudança Climática
(IPCC, na sigla em inglês) na América
Latina serão reunidos em um documento
e apresentados na Conferência das Partes
sobre o Clima (COP), marcada para dezembro
em Bali (Indonésia).
Além de balizar a
participação brasileira na COP,
o encontro reuniu diferentes setores diretamente
envolvidos nas discussões sobre mudanças
climáticas. "São setores
que às vezes não se falam e
que precisam estar juntos para, de fato, fazer
alguma diferença: o acadêmico-científico,
o produtivo – iniciativa privada – e o governo",
afirmou a professora Susana Kahn, membro do
IPCC e uma das organizadoras do evento.
Na avaliação
do vice-presidente do IPCC, Mohan Munasinghe,
a reunião em terras brasileiras ampliou
a divulgação dos cenários
de aquecimento global previstos pelo painel
e foi além, com o reconhecimento da
necessidade de implantar políticas
públicas para a questão.
"Nós, do IPCC,
estamos dispostos a trabalhar em parceria
e aprender com as experiências brasileiras",
afirmou Munasinghe.
Organizado pela Secretaria
de Estado e Meio Ambiente do Rio de Janeiro
e pela Companhia Vale do Rio Doce, o encontro
reuniu membros do IPCC e ambientalistas para
debater as recentes conclusões sobre
impactos do aquecimento global.
+ Mais
Encontro do IPCC no Rio
levanta sugestões para país
reduzir emissões de gases
27 de Outubro de 2007 -
17h23 - Luana Lourenço - Repórter
da Agência Brasil - Rio de Janeiro -
O primeiro encontro do Painel Intergovernamental
sobre Mudança Climática (IPCC,
na sigla em inglês) na América
Latina resultou em sugestões para pesquisadores
e formuladores de políticas públicas
brasileiros encaminharem a discussão
das mudanças climáticas no país.
Durante a última
quinta-feira e ontem (25 e 26), ambientalistas
e membros do IPCC discutiram a relação
dos impactos do aquecimento global aplicadas
a contextos nacionais, como os desafios da
eficiência energética, da gestão
de resíduos e da preservação
das florestas.
As conclusões dos
grupos de trabalho poderão orientar
as diretrizes da participação
brasileira na Conferência das Partes
sobre o Clima (COP), marcada para dezembro
em Bali (Indonésia). Na ocasião,
a Organização das Nações
Unidas (ONU) pretende iniciar a fase de negociações
para o período pós-2012, quando
termina a primeira etapa de compromissos do
Protocolo de Quioto.
O estabelecimento de metas
de redução de gases de efeito
estufa para países em desenvolvimento
– a exemplo do que já acontece nas
nações ricas – deverá
ser um dos principais temas da reunião
da ONU. "A questão das metas ainda
é vista como um tabu, mas é
necessário pensar sobre o tema. Temos
que começar a discuti-las no longo
prazo", ponderou o pesquisador José
Marengo, membro do IPCC.
"Em algum momento vamos
ter que pensar em metas de redução
ou de desmatamento. O clima não é
propriedade do governo, das universidades
ou das empresas, é de todos nós",
acrescentou.
Além da formulação
e adoção de políticas
públicas urgentes para mudanças
climáticas, os pesquisadores apontaram
a necessidade de mudanças culturais
para alavancar melhores resultados na mitigação
(redução) de gases de efeitos
estufa. "Identificamos a necessidade
de maior conscientização sobre
mudanças climáticas. A ligação
entre o conhecimento dos problemas e o comportamento
de consumidores individuais ainda não
é tão clara", observou
o pesquisador do IPCC Leo Meyer, que coordenou
o grupo de trabalho sobre políticas
públicas e oportunidades de mitigação
durante a reunião.
Como exemplos de mudanças
de comportamento, a professora Suzana Kahn,
uma das representantes brasileiras no painel
intergovernamental, citou a redução
da frota de veículos particulares e
investimentos em transporte coletivo, temas
discutidos sob a perspectiva dos biocombustíveis.
Um dos estudos apresentados aponta possibilidade
de mistura de até 25% de etanol na
gasolina, o que reduziria a emissão
de dióxido de carbono (CO2) – gás
considerado um dos grandes vilões do
aquecimento global.
"Concluímos
que apenas trocar de combustível não
é solução, a diferença
vai ser a mudança da matriz modal do
uso de transporte: deixar o individual e incentivar
uso de transportes coletivos", destacou
Kahn.
Organizado pela Secretaria
de Estado e Meio Ambiente do Rio de Janeiro
e pela Companhia Vale do Rio Doce, o encontro
reuniu membros do IPCC e ambientalistas para
debater as recentes conclusões sobre
impactos do aquecimento global.
+ Mais
Taxar emissões de
carbono não levaria países à
falência, avalia pesquisador do IPCC
26 de Outubro de 2007 -
Luana Lourenço - Repórter da
Agência Brasil - Rio de Janeiro - Diante
do aumento de temperatura da terra e dos possíveis
custos globais do aquecimento para a economia,
taxar as emissões de carbono e investir
na mitigação de gases do efeito
estufa para atenuar os impactos ao aquecimento
global não trará prejuízos
financeiros aos países que decidirem
adotar essas medidas. A avaliação
é de um dos integrantes do Painel Intergovernamental
sobre Mudança Climática (IPCC,
na sigla em inglês), Leo Meyer.
A proposta foi apresentada
durante a primeira reunião na América
Latina do IPCC, realizada ontem (25) e hoje
no Rio.
O pesquisador apresentou
em um gráfico duas hipóteses
de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB,
a soma das riquezas produzidas) de um país
até 2030 e afirmou que com tributos
na ordem de US$ 50 por tonelada de dióxido
de carbono (CO2) emitida, o crescimento econômico
não seria afetado. "Os países
não iriam à falência por
causa disso. Investir em mitigação
não arruinaria economias nacionais",
afirmou.
Na avaliação
do representante do Instituto Internacional
para Desenvolvimento Sustentável em
Energia e Mudança Climática,
John Drexhage, também membro do IPCC,
a questão de investimentos ainda não
foi aprofundada pelo painel. "O tema
deve ganhar mais peso no próximo relatório.
Mudanças positivas têm a ver
com implementação de tecnologias,
e isso só se dá através
de investimentos", disse.
Drexhage defendeu maiores
investimentos governamentais e adoção
de políticas públicas para o
tema, mas afirmou que os mecanismos de enfrentamento
das mudanças climáticas, aliados
ao desenvolvimento, devem necessariamente
passar por parcerias com investidores privados.
"As soluções vão
além da capacidade dos ministérios,
dos governos. O empresariado, o setor energético
têm que ser mais amplamente envolvidos",
opinou.
Cerca de 250 lideranças
do setor ambiental, entre eles 11 integrantes
do IPCC, contemplados recentemente com o Prêmio
Nobel da Paz 2007, estão no Rio para
discutir o tema das mudanças climáticas.