27 de Outubro de 2007 -
Adriana Brendler* - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - O governo brasileiro
está atuando com lentidão na
implementação do Plano Nacional
de Mudanças Climáticas e deveria
dividi-lo, para iniciar em seis meses as ações
mais urgentes. A opinião é do
secretário executivo
do Fórum Brasileiro de Mudanças
Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa, também
pesquisador da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ).
Pinguelli comentou ontem
(26) a previsão de que o plano será
concluído em um prazo de dois anos.
O conjunto de medidas está sendo elaborado
a partir de diretrizes apontadas pelo fórum,
a pedido do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva e da ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva. O fórum é composto
por 12 ministros, do diretor-presidente da
Agência Nacional de Águas (ANA),
de especialistas e representantes da sociedade
civil, e presidido pelo presidente da República.
"Eu acho que está
muito devagar”, disse, durante evento sobre
o quarto relatório do Painel Intergovernamental
de Mudanças do Clima (IPCC, na sigla
em inglês). “Claro que ainda não
seria possível ter concretizado alguma
coisa, mas está se falando em levar
dois anos para um plano acabado. É
muito tempo. Esse plano poderia ser dividido
em etapas: uma parte de ações
de imediatas e outra parte mais elaborada.
O governo deveria dar prioridade imediata
à implantação do plano,
porque ele não dá efeitos imediatos
e por isso é urgente começar
logo."
Para Pinguelli, no prazo
de seis meses o governo deveria implementar
metas internas de redução do
desmatamento, ações de conservação
de energia no país e formas de diminuição
da emissão de carbono pelas indústrias
e na área dos transportes, entre outras
medidas. Na sua avaliação, a
necessidade número 1 é a redução
do desmatamento, principal responsável
pelas emissões de gases de efeito estufa
no Brasil.
Entre as medidas a serem
adotadas de imediato para conservação
de energia no país, o pesquisador citou
a revigoração do Programa de
Conservação de Energia Elétrica
(Procel), o estímulo à utilização
da energia solar para aquecimento de água
nas residências e ações
específicas como, por exemplo, o financiamento
para que as pessoas substituíam as
lâmpadas incandescentes por aquelas
com menor consumo de energia.
Procurado pela Agência
Brasil, o Ministério do Meio Ambiente
informou que a secretária de Mudanças
Climáticas, Thelma Krug, está
fora do país e poderá comentar
o assunto na semana que vem.
"As pessoas não
compram essas lâmpadas porque elas são
caras. Poderíamos ter uma situação
em que as pessoas teriam acesso a um financiamento
para a melhorar a iluminação
da sua casa e pagá-lo mensalmente na
conta de luz".
Para Pinguelli, outro foco
que precisa ser atacado com urgência
é o uso do automóvel. Segundo
ele, menos de 10% cento da população
brasileira tem acesso a veículos particulares,
e o uso de álcool e gasolina para movimentá-los
consome três vezes mais energia do que
a empregada com o óleo diesel que abastece
o transporte coletivo.
Ele avaliou, no entanto,
que o incentivo ao transporte coletivo exige
também medidas para melhorar a qualidade
do serviço público prestado
à população e expandi-lo
no país, incluindo alternativas – por
exemplo, retomar o uso dos bondes.
Em relação
às indústrias, Pinguelli defendeu
estímulo à eficiência
energética para redução
da emissão de gás carbônico
por unidade produzida: "A fábrica
vai aumentar a produção, mas
a emissão para produzir cada unidade
pode diminuir".
O evento internacional,
realizado pela Secretaria de Estado e Meio
Ambiente do Rio de Janeiro e pela Companhia
Vale do Rio Doce, foi o primeiro encontro
do Painel Intergovernamental de Mudanças
do Clima (IPCC, na sigla em inglês)
na América Latina. Reuniu cerca de
250 ambientalistas para debater as recentes
conclusões sobre o aquecimento global
e seus impactos.
+ Mais
Para Pinguelli, combate
a aquecimento não deve frear consumo
na população de baixa renda
27 de Outubro de 2007 -
Adriana Brendler - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - O secretário
executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças
Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa, defende
que o Brasil adote metas internas de redução
da emissão de gases do efeito estufa
sem, contudo, assumir compromisso internacional.
Ele lembra que grande parte da população
tem hoje pouco acesso a bens de consumo.
Pinguelli se manifestou
contra a possibilidade de o país aceitar
metas de redução no âmbito
na Convenção Internacional de
Mudanças Climáticas, que reúne
180 países, em um sistema pós-Protocolo
de Quito que está em debate para vigorar
a partir de 2012. Ele participou ontem (26)
de evento sobre o quarto relatório
do Painel Intergovernamental de Mudanças
do Clima (IPCC, na sigla em inglês).
"Isso [adoção
de metas] é muito difícil, porque
a maioria da nossa população
tem um padrão de consumo muito baixo.
Doze milhões de brasileiros no início
do governo Lula não tinham energia
elétrica. Pessoas da classe média
emitem três vezes mais [esses gases]
que alguém que mora na Rocinha [favela
do Rio], e se pegarmos um camponês no
interior do Piauí a diferença
é mesma. Então esse país
é muito injusto. Nós temos que
aumentar o consumo energético para
incluir essas pessoas, mas isso não
isenta o país de estabelecer metas
internas."
Os gases considerados causadores
do aquecimento global, como o dióxido
de carbono (CO2) e o metano, são liberados
na atmosfera a partir de diversas atividades,
como a fabricação de produtos,
a agricultura e a pecuária.
Para Pinguelli, as metas
internas brasileiras devem ser perseguidas
respeitando as desigualdades, para que o processo
seja socialmente justo. Em entrevista à
Agência Brasil, ele propôs a adoção
de medidas para reduzir o desperdício
observado na classe média, como, por
exemplo, uma alta tributação
sobre veículos de luxo com grande emissão
de gases. Por outro lado, defendeu a manutenção
do crescimento da economia do país
baseada no aumento do acesso a bens de consumo
pelas classes de renda mais baixa da população.
"Nós não
podemos abrir mão do desenvolvimento,
por que grande parte da população
brasileira está numa situação
precária de vida, consumindo inclusive
pouca energia”, ponderou. “Ao mesmo tempo,
temos que estimular soluções
que permitam aqueles que consomem mais, como
a classe média, a diminuírem
seu consumo, e também melhorar os padrões
de uso dessa energia. O Brasil tem que fazer
as duas coisas ao mesmo tempo, mas não
pode negar o direito de pessoas mais pobres
ingressarem na posse de automóveis,
de equipamentos. Não podemos impedir
que o brasileiro pobre melhore de vida. Esse
é o dilema: o ambientalismo tem que
ser social, não pode ser puro."
No evento na capital fluminense,
Luiz Pinguelli Rosa participou de um debate
sobre políticas públicas e oportunidades
de mitigação (redução)
da emissão de gases de efeito estufa.
A mudança do padrão de produção
e de consumo da sociedade foi uma das alternativas
apontadas para o combate ao aquecimento do
planeta.
+ Mais
Pesquisadores pedem urgência
para políticas que atenuem efeito estufa
26 de Outubro de 2007 -
Luana Lourenço - Repórter da
Agência Brasil - Rio de Janeiro - Pesquisadores
brasileiros defenderam hoje (26) a adoção
rápida de políticas públicas
de mitigação de gases de efeito
estufa no país, durante o primeiro
encontro do Painel Intergovernamental de Mudanças
do Clima (IPCC, na sigla em inglês)
na América Latina.
"O Brasil deve ter
um plano de ação de mudanças
climáticas, independente de metas [de
redução de emissões de
gases de efeito estufa no âmbito do
Protocolo de Quioto], que é questão
de política externa", defendeu
o secretário executivo do Fórum
Brasileiro de Mudanças Climáticas,
professor Luiz Pinguelli Rosa.
"Temos que trabalhar
em modelos que possam ser replicados para
estimular iniciativas internas, independentemente
de adesão ou não a metas",
acrescentou o secretário executivo
do Fórum Paulista de Mudanças
Climáticas de São Paulo, Fábio
Feldman.
Ele citou alternativas adotadas
na capital paulistana, como o estímulo
à prática da carona, para reduzir
a frota de veículos nas ruas – um dos
principais fatores de emissão de gases
de efeito estufa em São Paulo – e a
criação de mecanismos para viabilizar
a sustentabilidade em empreendimentos da construção
civil.
A pesquisadora Diana Urge-Vorsatz,
integrante do IPCC, apresentou estudos sobre
o potencial de mitigação em
construções, com medidas de
eficiência energética. Entretanto,
segundo a pesquisadora, a adoção
dessas medidas ainda esbarra em barreiras
financeiras e regulatórias, por exemplo,
o que demanda o estabelecimento de políticas
para viabilizar esses processos.
Na avaliação
de Feldman, os resultados apresentados pelos
relatórios do IPCC, em especial, o
último, elevaram "o patamar de
consciência" da sociedade sobre
os problemas do aquecimento global. "O
desafio agora é saber como vamos conseguir
traduzir essa consciência em políticas
públicas", ponderou.
Além de integrantes
do IPCC, o evento internacional, realizado
pela Secretaria de Estado e Meio Ambiente
do Rio de Janeiro e pela Companhia Vale do
Rio Doce, reúne cerca de 250 ambientalistas
para debater as recentes conclusões
sobre o aquecimento global e seus impactos.