15 de Novembro de 2007 -
Marco Antônio Soalheiro - Enviado especial
- Antônio Cruz/Abr - Aldeia Cururu (MA)
- Índio Ivonaldo Guajajara mostra marcas
de bala na parede da escola da Aldeia Cururu
Arame (MA) - Quem chega
desavisado à aldeia Cururu e encontra
uma comunidade pacata, bem-humorada e hospitaleira
não pode imaginar os momentos de tensão
vividos ali há exatos sete meses.
No dia 16 de abril, quando
os índios da etnia Guajajara fecharam
a esburacada rodovia MA-006 para protestar
por mais investimentos na saúde, a
aldeia, localizada na Terra Indígena
Araribóia, a 52 quilômetros da
cidade de Arame, foi alvo de um violento ataque
armado de homens brancos.
As marcas do que poderia
ter sido uma tragédia ainda são
visíveis para os observadores mais
atentos. Apenas um índio ficou ferido,
mas há muitas marcas de tiros nas paredes
da escola.
A diretora Gracilene Ribeiro,
de 33 anos, há dez anos prestando serviços
na aldeia, contou à Agência Brasil
que ela e os alunos correram desesperadamente
para dentro do mato, assim como o resto dos
Guajajara que se encontravam na aldeia. Cinco
casas no local foram queimadas.
Como os índios não
receberam nenhum tipo de indenização,
tiveram que reconstruir barracos de barro
com recursos próprios.
O cacique José Teodoro
Guajajara, de bota e bermuda rasgadas (por
falta de dinheiro, segundo ele), considera
positiva a presença de autoridades
policiais e de fiscalização
na região.“Tô achando bom, porque
antes faziam besteira na nossa aldeia e ninguém
tomava providência.”
Por outro lado, o cacique
pede mais investimento social da Funai na
aldeia. “Estamos sem merenda escolar e precisamos
de mais projetos. Se precisar, vou em Brasília,
como em 2000, época que eu tinha cabelos
pretos”, disse o cacique à Agência
Brasil, acrescentando que sabe "se virar
bem" na capital federal.
Os Guajajara da aldeia Cururu
dizem que pararam de trabalhar com madeira
da Terra Indígena Araribóia
há uns quatro ou cinco anos. Viram
que a prática não tinha futuro,
segundo o sobrinho do cacique, Ivonaldo Wyanári
Guajajara, e hoje são contra a exploração
ilegal. Reconhecem que companheiros da etnia
permanecem ligados ao negócio, mas
têm uma explicação.
“Se vai tanto projeto bom
para os brancos, porque não pode vir
para o índio também. Sem isso
alguns acabam caindo na bandidagem, na venda
de maconha e tráfico”, afirmou Wyanári,
reconhecendo que há nas aldeias alguns
pés de maconha, mas suficientes apenas
para consumo próprio.
Os projetos que a aldeia
reclama são de capacitação
em agricultura e fontes alternativas de renda.
“O índio tá civilizado e não
pode trabalhar só para comer”, lembra
Wyanári. Os fornos da aldeia estão
estragados e há apenas um catitu, rolo
usado para serrar mandioca, alimento tradicionalmente
conhecido como a força do índio.
A diretora escolar Gracilene
Ribeiro também diz que não tem
nenhum apoio na questão pedagógica
por parte da prefeitura. Segundo os líderes,
na aldeia Cururu vivem atualmente 212 índios,
que se sustentam com roças de mandioca,
arroz, milho e feijão.
Não há telefone
público no local, as crianças
seguem a preferência nacional e são
apaixonadas por futebol, que assistem graças
às antenas parabólicas e jogam
em um campo de terra batida, onde para se
fazer gol é preciso jogar a bola no
rumo da rodovia.
Nos dias 29 e 30 de novembro
a aldeia vai sediar um encontro de jovens
e adolescentes indígenas em situação
de risco, oportunidade em que pretendem cobrar
maior assistência da administração
regional da Fundação Nacional
do Índio (Funai).
Em toda a Terra Indígena
Araribóia, no oeste do Maranhão,
com seus 413 mil hectares, vivem cerca de
8 mil Guajajara em 98 aldeias, além
de 50 índios isolados da etnia Guajá.
A Operação
Araribóia, da qual participam a Fundação
Nacional do Índio (Funai), Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama), Polícia
Rodoviária Federal, Polícia
Federal e Força Nacional de Segurança,
destina-se a combater o extravio ilegal de
madeira, incêndios criminosos e plantações
de maconha dentro da terra.
Os trabalhos de fiscalização
não têm data para acabar e devem
durar pelo menos até meados de dezembro.
Dez serrarias estão lacradas nos municípios
de Arame e Amarante.
Também já
foram recolhidos vários caminhões
carregados de madeira e um trator esteira,
foram aplicadas multas a fazendeiros, além
da apreensão e queima de 5 mil pés
de maconha. Pelo menos 13 pessoas estão
presas.
A coordenação
da Funai considera o resgate das tradições
culturais dos índios um dos principais
objetivos a serem atingidos com a neutralização
dos criminosos.
+ Mais
Com Força Nacional,
operação intensificará
ações na Terra Indígena
Araribóia
15 de Novembro de 2007 -
Marco Antônio Soalheiro - Enviado especial
- Antônio Cruz/Abr - Arame (MA) - As
ruas de Arame, cidade de 27 mil habitantes
no extremo leste da Terra Indígena
Araribóia, oeste do Maranhão,
trazem ao visitante lembranças de filmes
de faroeste misturadas com cenas de periferias
de grandes cidades.
Casas precárias,
jovens curiosos e adultos desconfiados com
a presença de quaisquer estranhos,
comércio amontoado nas calçadas.
A cidade foi o local escolhido
para o acampamento do Exército Brasileiro
que será a principal base das equipes
da Operação Araribóia.
A opção não foi feita
por acaso.
“Nesta região estão
o maior número de aldeias da Terra
Indígena Araribóia e os maiores
problemas. Aqui nós temos assaltantes,
madeireiros, traficantes e foragidos da Justiça,
sendo o maior pólo devastador [do meio
ambiente]. Já tivemos assassinatos,
invasões, índios oprimidos dentro
de sua própria terra. O acampamento
visa garantir aos índigenas das proximidades
uma paz duradoura”, explicou à Agência
Brasil o coordenador da equipe de campo da
Fundação Nacional do Índio
(Funai), José Pedro dos Santos.
Já chegaram ao acampamento
de Arame 60 homens da Força Nacional
de Segurança, boa parte deles do Batalhão
de Operações Especiais da Polícia
Militar do Maranhão. O chefe do grupo,
capitão Fábio Aurélio
Saraiva, diz que o objetivo é evitar
manifestações ofensivas dos
madeireiros da região contra os agentes
de fiscalização.
Sete serrarias foram lacradas
na cidade, acusadas de explorar ilegalmente
madeira da reserva indígena. “A doutrina
é primeiro negociar, mas podemos usar
a força prevista em lei para manter
a tranquilidade e a calma, se necessário.
Estamos preparados para ficar o tempo que
for necessário”, avisou o capitão.
A Operação
Araribóia combate a extração
ilegal de madeira, os incêndios criminosos
e as plantações de maconha na
terra indígena de mesmo nome. O "QG"
principal abriga, além do contingente
da Força Nacional, 35 servidores da
Funai, 30 do Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama), 15 agentesda Polícia Federal
e 48 inspetores da Polícia Rodoviária
Federal (PRF). Com as equipes de outras bases,
já são mais de 200 pessoas envolvidas
na Operação Araribóia.
Na reunião de coordenação
foi definida como uma das próximas
prioridades a erradicação de
seis grandes plantações de maconha
já identificadas na terra indígena.
Segundo José Pedro Santos, o apoio
operacional é inédito na história
da Funai na região embora há
muito tempo necessário. “Nunca teríamos
condições de enfrentar um problema
dessa magnitude sozinhos”.
Sobre possíveis represálias
de madeireiros após o fim da operação,
o coordenador da Funai considera importante,
além de manter ações
preventivas, conscientizar as lideranças
indígenas da necessidade de adotar
palavras de resistência e evitar negócios
com criminosos.
Há cerca de 20 dias,
dois índios foram assassinados por
homens encapuzados que invadiram uma aldeia
para resgatar caminhão carregado de
toras de madeira.
“Temos que implantar uma
equipe móvel de fiscalização
após a operação e fazer
um trabalho avançado junto aos índios
isolados da etnia Guajá (50 indivíduos,
na Terra Indígena Araribóia)
, que estão correndo risco de ser dizimados
e são alvo de madeireiros. Já
colocamos isso como demanda primordial ao
presidente da Funai . Assim será possível
impedir o retorno dos marginais”, afirmou
Santos.
Até o momento a operação
contabiliza o fechamento de mais de 10 serrarias
em Arame e Amarante, o recolhimento de caminhões
e de um trator esteira, multas a fazendeiros
e a apreensão e queima de cinco mil
pés de maconha e 81 quilos da droga
prontos para processamento.Técnicos
do Ibama estimam que no mínimo 60%
da terra indígena tenha sido alvo de
devastação.