17 de Novembro de 2007 -
Kelly Oliveira - Repórter
da Agência Brasil - Brasília
- O Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC) da Organização
das Nações Unidas (ONU) divulga
hoje (17), na Espanha, uma síntese
dos documentos anteriores, voltada para governos
e políticos. O desmatamento na Amazônia
segue como principal preocupação
de cientistas com o Brasil.
Para o pesquisador do Instituto
de Física da Universidade de São
Paulo e integrante do IPCC, Paulo Artaxo “não
é correto” deixar só com o país
a tarefa de manter “a Amazônia de pé”.
“Uma nova ordem mundial vai ter que se estruturada
para lidar com esses problemas”, disse.
O especialista lembrou que
a distribuição das riquezas
do nosso planeta é “muito injusta”
e precisa ser revista. “Um americano médio
emite mais de 10 vezes o que um brasileiro
médio emite e quase 50 vezes mais do
que um indiano e chinês. Essa desigualdade
é impossível de ser mantida.”
Artaxo enfatizou ainda a
necessidade de se implementar políticas
públicas para reduzir de forma mais
intensa o desmatamento da Amazônia.
“O grande Calcanhar de Aquiles do Brasil é
a questão do desmatamento da Amazônia
que continua de uma maneira completamente
descontrolada.”
Segundo o pesquisador, apesar
da redução nos últimos
três anos da taxa de desmatamento de
20 mil quilômetros quadrados por ano
para 10 mil quilômetros quadrados por
ano, ainda há muito o que fazer. “Dez
mil quilômetros quadrados de destruição
de floresta é uma área absolutamente
intolerável para a população
brasileira.”
Para Artaxo, o governo brasileiro
tem que frear o processo de ocupação
desordenada da Amazônia, o avanço
da cana-de-açúcar e da pecuária
sobre a região, e atuação
de madeireiros.
Apesar disso, ele afirmou
que o Brasil tem vantagens estratégicas
devido à implantação
do programa do álcool e matriz energética
com base em recursos renováveis.
“O Brasil tem potencial
de se tornar de uma potência ambiental
muito grande, mas precisamos ser mais espertos
e inteligentes e usar os nosos recursos naturais
de uma maneira esperta. Usar economicamente
a floresta sem destruí-la.”
No caso das indústrias,
Artaxo defendeu aumento da eficiência
energética e criação
de mecanismos para compensar as emissões
de carbono. Segundo o especialista, o cidadão
também pode contribuir com a substituição
da gasolina (que emite poluentes para a atmosfera)
pelo álcool, por exemplo.
“O álcool, do ponto
de vista de emissão de gases de efeito
estufa dá uma contribuição
praticamente desprezível para o efeito
estufa”, lembrou o professor. Outras atitudes
enumeradas por Artaxo são a redução
do consumo de água e energia e o uso
de materiais recicláveis.
“Você pode imaginar
que é uma contribuição
pequena, mas se multiplicar isso por bilhões
de pessoas do nosso planeta pode fazer a toda
a diferença. Mas é importante
entender que a maior parte depende de políticas
públicas, como a redução
do desmatamento da Amazônia.”