Fauna - 23/11/2007 - 11:15
Ele deve voltar para a Reserva Mamirauá
em dezembro
Passa bem o filhote órfão de
peixe-boi amazônico, resgatado no início
de julho em uma comunidade do Paranã
do Aranapu, médio Solimões (a
100 km de Tefé/AM), na Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Mamirauá (IDSM/MCT).
Devido a sua recuperação, já
é possível prever que ele volte
neste mês de dezembro para o seu ambiente.
O resgate foi feito pela
equipe do projeto “Conservação
e Uso Sustentado dos Recursos Aquáticos
das Matas Alagadas de Mamirauá e Amanã”,
do Instituto de Desenvolvimento Sustentável
Mamirauá (IDSM), patrocinado pela Petrobras,
através do Programa Petrobras Ambiental.
O filhote, um macho, está
instalado em um tanque de quatro mil litros
no Flutuante Base do Instituto Mamirauá,
localizado no lago Tefé, e é
cuidado diariamente. A alimentação
consiste em mamadeira (uma mistura de leite
em pó, gema de ovo, óleo de
canola e complexo vitamínico) e em
plantas aquáticas do lago. Também
recebe cuidados veterinários, uma vez
que, quando chegou, apresentava escoriações
e uma ferida de arpão no dorso. O tratamento,
à base de pomada cicatrizante e antibiótico,
já apresentou resultados. Por exemplo,
a ferida de arpão, inicialmente com
cinco centímetros de profundidade,
já cicatrizou. Ele também está
ganhando peso (atualmente, está com
44,5 quilos, nove a mais do quando chegou)
e cresceu: dos 1,14 m, passou para 1,27 m.
A equipe que está cuidando do filhote
é formada por cinco profissionais do
IDSM.
A estada temporária
do animal está proporcionando que estudantes
das escolas da rede pública de Tefé
possam conhecer um pouco mais sobre essa espécie
e as ameaças decorrentes da ação
do homem. O Instituto Mamirauá programou
a visita das escolas até o dia 2 de
dezembro.
No passado, o peixe-boi
amazônico foi vítima de caça
comercial intensa que, associada a uma baixa
taxa reprodutiva, levou a espécie a
ser considerada ameaçada de extinção
no país. Atualmente, é protegido
por três instrumentos da legislação
brasileira. Entretanto, ainda existe uma pressão
de caça ao longo de toda sua distribuição,
principalmente direcionada para subsistência.
Devolução
- A intenção do IDSM é
devolver o animal ao local onde foi capturado
logo que seja considerado apto. Para tanto,
o plano é instalá-lo em um tanque
natural, para adaptação gradual
e soltura definitiva. A devolução
depende da recuperação total
do filhote, mas já é possível
prever que esse processo comece em dezembro.
“Também pretendemos adaptar um cinto
com transmissor de rádio à cauda
do animal, para que seus movimentos e readaptação
possam ser monitorados ao longo do tempo”,
disse Miriam Marmontel, coordenadora do programa
do IDSM. A recomendação parte
da experiência do Grupo de Mamíferos
Aquáticos (GPMAA), do IDSM, que há
14 anos executa pesquisas com peixe-boi na
área do médio Solimões.
Desde 2004, o GPMAA recebe patrocínio
do Projeto Petrobras Ambiental para o programa
Matas Alagadas.
O peixe-boi ficou preso
acidentalmente em rede de pesca no dia 30
de junho. Levado à comunidade, foi
colocado em um curral com tela de arame. A
partir da chamada de um agente ambiental voluntário,
que atua na Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Mamirauá, o animal foi entregue ao
grupo de resgate do IDSM.
Episódios de capturas
acidentais em redes são freqüentes,
exigindo uma solução rápida,
próxima ao local de ocorrência,
para atendimento do animal e devolução
à população natural no
mais curto espaço de tempo possível,
diminuindo os custos de manutenção
e aumentando as chances de readaptação.
Sobre o projeto -
O Grupo de Mamíferos Aquáticos
do IDSM estuda a biologia e ecologia de cinco
espécies de mamíferos aquáticos
da região (peixe-boi, boto vermelho,
tucuxi, lontra e ariranha). Exemplares de
peixes-boi têm sido monitorados intensamente
para identificar movimentos diários
e sazonais. Dessa forma, foi possível
determinar pelo menos um padrão de
deslocamento anual, quando deixam os lagos
de várzea de Mamirauá na época
em que as águas começam a baixar
e refugiam-se durante o período de
seca nas águas pretas e profundas do
lago de terra firme do Amanã. Com a
chegada da enchente, os peixes-boi realizam
o movimento de retorno aos lagos de origem.
Esse ciclo salienta a importância da
manutenção de grandes áreas
para preservação do peixe-boi,
assim como a existência de uma variedade
de ambientes, incluindo canais para deslocamento
livres de ameaças.
Maria Carolina Ramos - Assessoria de Imprensa
do Instituto Mamirauá