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de Novembro de 2007 - A legislação
brasileira determina que alimentos transgênicos
ou que tenham sido produzidos com matéria-prima
transgênica tragam este símbolo
em seus rótulos, mas a lei não
vem sendo cumprida no país.
São Paulo, Brasil Diretor executivo
do Instituto pela Tecnologia Responsável
e autor de dois livros-bomba contra os transgênicos
Sementes da Decepção e Roleta
Genética -, Jeffrey Smith dedica boa
parte do seu tempo viajando o mundo para dar
palestras e alertar governos sobre os riscos
da biotecnologia aplicada aos alimentos. Não
são poucos.
Diferentemente da poluição
química, os transgênicos se auto-propagam
e podem se tornar elementos fixos de nosso
meio ambiente. Com tamanha herança,
me parece razoável e prudente congelar
qualquer novo lançamento de transgênicos
até que tenhamos uma melhor compreensão
do DNA, e as ramificações de
nossa intervenção, afirma Smith,
que esteve no Brasil em outubro e participou
do seminário Alimentos transgênicos
e seus impactos na saúde, no meio ambiente
e na economia. Em seguida, concedeu esta entrevista
à Revista do Greenpeace.
1 Qual é a sua
principal preocupação em relação
aos transgênicos hoje em dia: contaminação
genética, riscos à saúde
humana ou a ameaça econômica
dessa tecnologia?
R Eu me especializei nos
perigos à saúde dos organismos
geneticamente modificados (OGMs), que hoje
estão ligados a milhares de doenças,
casos de esterilidade e morte, milhares de
reações tóxicas e alérgicas
em humanos, e danos a virtualmente todo órgão
e sistema estudados em animais de laboratórios.
Esses perigos, no entanto, ganham ainda mais
força pelo fato dos OGMs contaminarem
as plantações não-transgênicas
e as espécies selvagens, permanecendo
no meio ambiente por muito tempo.
2 O governo francês
anunciou recentemente que vai congelar o cultivo
de transgênicos no país até
que seja possível provar que esses
organismos não oferecem risco aos humanos
e ao meio ambiente. Outros países europeus
fizeram o mesmo. Por outro lado, países
como Brasil, China e Índia estão
ampliando suas plantações de
transgênicos. Como você explica
isso?
R Está claro para
mim que o assunto ganhou força no Brasil
graças a uma combinação
de desinformação e forte influência
da Monsanto e outras corporações
multinacionais, além dos Estados Unidos.
Isso é também verdade para outros
países que estão apostando nos
transgênicos, mas sua adoção
é um passo ruim em termos econômicos
para os agricultores e para a economia do
país em geral.
O impacto dos transgênicos
nos Estados Unidos e no Canadá foi
um desastre econômico. As exportações
de milho e canola para a Europa se perderam,
as vendas de soja estão baixas e o
governo americano gasta de US$ 3 bilhões
a US$ 5 bilhões por ano para assegurar
os preços das colheitas de transgênicos
que ninguém quer. A expansão
dos transgênicos no Brasil prejudica
a oportunidade do país de se aproveitar
do crescente mercado para produtos não-transgênicos.
3 Muitos países
têm regras sobre a rotulagem de produtos
que são fabricados com matéria-prima
transgênica, mas quase ninguém
as respeita. No Brasil, acontece o mesmo.
Como o direito do consumidor de escolher entre
transgênicos e não-transgênicos
pode ser respeitado?
R A rotulagem funciona
bem na União Européia, mas é
praticamente ignorada no Brasil. Isso é
uma vergonha terrível e deixa os consumidores
sem escolha de obter produtos não-transgênicos
mais saudáveis. Não conheço
os recursos legais ou legislativos que os
brasileiro podem ter para forçar as
empresas a seguir a lei. Nos Estados Unidos,
não temos regras de rotulagem para
transgênicos. Como uma alternativa,
estamos promovendo um rótulo que diz
Não-transgênico. Já
os vi em alguns produtos no Brasil. Sem essa
afirmação (ou um rótulo
de produto orgânico), consumidores teriam
que evitar todos os produtos brasileiros contendo
derivados de soja ou óleo de semente
de algodão que são plantados
no país. Para produtos americanos,
os consumidores também teriam que evitar
derivados de milho e canola, que são
em sua maioria transgênicos.
4 Em sua apresentação
no seminário sobre transgênicos
da Fundação Getúlio Vargas
(FGV), em São Paulo, você observou
que quanto mais os consumidores sabem sobre
os transgênicos, mais eles o rejeitam.
Que tipo de informação ainda
não chegou ao público e que
deveria chegar imediatamente, devido à
sua importância?
R Variedades de milho
e algodão são geneticamente
modificados para produzir uma proteína
pesticida chamada toxina Bt (do Bacillus thuringiensis).
Ela é usada por agricultores na forma
de spray e por isso foi considerada inofensiva
para o ser humano. Mas isso é claramente
equivocado. As pessoas expostas ao spray com
a toxina Bt tiveram todos os tipos de sintomas
alérgicos e ratos que ingeriram o Bt
tiveram alterados seus sistemas imunológicos
e apresentaram crescimento anormal e excessivo
de células. O Bt encontrado em alguns
transgênicos é mais tóxico
e milhares de vezes mais concentrado do que
o spray, e vem sendo acusado por inúmeros
casos de doenças em humanos e outros
seres vivos.
Outro problema é
que os genes inseridos nesses organismos geneticamente
modificados podem ser transferidos da comida
para a bactéria que temos em nosso
aparelho digestivo ou outros órgãos
internos. Essa possibilidade foi descartada
antes baseada suposição de que
genes ingeridos são destruídos
rapidamente pelo sistema digestivo. Não
é bem assim.Estudos em animais demonstraram
que o DNA ingerido por viajar pelo corpo,
até mesmo até o feto por meio
da placenta. Os transgenes de plantações
geneticamente modificadas ingeridos por animais
foram encontrados no sangue, fígado
e rins. O único teste publicado sobre
alimentação humana com comida
transgênica verificou que o material
genético inserido na soja transgênica
foi transferido para o DNA das bactérias
do intestino.
Agora, junte os dois riscos
acima a um terceiro. Se o gene do milho que
cria a toxina Bt for transferido para as bactérias
de nosso sistema digestivo (como partes do
gene da soja vem fazendo), nossa flora intestinal
pode ser transformada numa fábrica
viva de pesticida.
Além desse problema,
animais de laboratório alimentados
com comida transgênica tiveram problemas
de crescimento, no sistema imunológico,
sangramento estomacal, crescimento anormal
e potencialmente cancerígeno de células
no intestino, desenvolvimento anormal de células
sanguíneas, problemas nas estruturas
celulares do fígado, pâncreas
e testículos, alteração
da expressão genética e do metabolismo
celular, lesões no fígado e
rins, fígados parcialmente atrofiados,
rins inflamados, cérebros e testículos
menos desenvolvidos, fígados, pâncreas
e intestinos inchados, redução
das enzimas digestivas, alta no açúcar
no sangue, inflamação no tecido
pulmonar, e aumento nas taxas de mortalidade.
Dezenas de agricultores relataram que variedades
transgênicas de milho causaram esterilidade
em seus porcos e vacas, pastores afirmam que
25% de suas ovelhas morreram ao comer plantas
de algodão Bt (cerca de 10 mil ovelhas
mortas), e outros afirmam que vacas, búfalos,
galinhas e cavalos também morreram
após comerem plantações
transgênicas. Agricultores filipinos
em pelo menos cinco vilarejos ficaram doentes
quando o milho Bt de plantações
vizinhas estava polinizando e centenas de
trabalhadores na Índia relataram reações
alérgicas ao manusear algodão
Bt.
5 Pessoas que comem produtos
transgênicos por longos períodos
podem ter problemas de saúde? Há
casos ou evidências disso?
R Uma das afirmações
mais anti-científica e perigosa já
feita pela indústria de biotecnologia
é que milhões de pessoas nos
Estados Unidos comeram alimentos transgênicos
durante uma década e ninguém
ficou doente. Pelo contrário, os transgênicos
já podem estar contribuindo para sérios
problemas de saúde, mas como ninguém
estava monitorando isso, pode levar várias
décadas até que seja possível
identificar esses problemas.
Nos anos 80, cerca de 100
americanos morreram e entre 5 mil e 10 mil
ficaram doentes devido a um suplemento alimentar
transgênico chamado L-tryptophan. Apesar
de ter havido um esforço concentrado
para desviar a culpa para outras causas, é
quase certo que a epidemia aconteceu devido
ao processo de engenharia genética.
A epidemia quase foi ignorada. A razão
pela qual foi descoberta foi que os sintomas
eram únicos, agudos e apareceram rapidamente.
Na Inglaterra, alergias
à soja dispararam em 50% depois que
a soja transgênica foi introduzida no
mercado. Mas sem pesquisas e testes clínicos
em seres humanos, não podemos saber
se a soja transgênica é realmente
a culpada. Os alimentos transgênicos
podem estar contribuindo para vários
tipos de problemas de saúde nas pessoas,
mas a essa ligação pode não
ser descoberta em anos, se é que vai.
6 Em suas apresentações
pelo mundo e em seus livros, você fala
sobre vários estudos que relatam sérios
problemas com os transgênicos. Sendo
assim, como órgãos governamentais
nos Estados Unidos, Brasil e na Europa aprovam
esses produtos?
R Autoridades governamentais
pelo mundo têm sido coagidas, pressionadas
e pagas pela indústria de biotecnologia.
Na Indonésia, a Monsanto pagou propinas
e fez pagamentos questionáveis a pelo
menos 140 autoridades, para ter seu algodão
transgênico aprovado. Na Índia,
uma autoridade alterou o relatório
sobre o algodão Bt da Monsanto para
melhorar os dados de rentabilidade do produto.
No México, uma autoridade governamental
ameaçou um professor da Universidade
da Califórnia, afirmando saber qual
escola os filhos dele freqüentavam, tentando
obrigá-lo a não publicar uma
evidência incriminadora que adiaria
a aprovação de transgênicos
no país. A maior parte da manipulação
e pressão política é
mais sutil, mas na FDA americana (órgão
que fiscaliza a produção de
alimentos e medicamentos nos Estados Unidos),
a pessoa encarregada das políticas
de transgênicos era Michael Taylor,
ex-advogado da Monsanto e depois, vice-presidente
da empresa. A FDA afirmava que os transgênicos
não eram substancialmente diferentes
e que nenhum estudo de segurança era
preciso. Anos depois, documentos da FDA tornados
públicos após uma ação
judicial mostraram que a afirmação
do órgão era uma fraude. O consenso
entre os cientistas da própria agência
era que alimentos transgênicos eram
perigosos e podeia criar alergias difíceis
de se detectar, além de toxinas, novas
doenças e problemas nutricionais. Eles
exigiram de seus superiores novos estudos
de segurança.
Outras agências reguladores
estão sob a mesma influência
da indústria de biotecnologia. Além
disso, uma análise pormenorizada das
pesquisas enviadas pelas empresas mostram
como eles são meticulosamente rigorosos
em evitar a descoberta de problemas nos transgênicos.
7 Quando o assunto está
em debate, alguns dizem que a tecnologia dos
transgênicos é importante para
a humanidade enfrentar (e vencer) a forme.
Você acredita nisso?
R Alimentos transgênicos
não contribuem para combater a fome
no mundo. Se os transgênicos fossem
uma solução verdadeira para
a fome, todos as cinco afirmações
abaixo deveriam ser verdadeiras. Então,
os transgênicos deveriam ser:
1 seguros;
2 produzir colheitas maiores;
3 promover colheitas consistentes e confiáveis;
4 Ser melhores que as opções
concorrentes;
5 Ser a fome solucionada pelo aumento da
produtividade nas colheitas.
Todas as cinco afirmações
são falsas. Os alimentos transgênicos
não são seguros. As colheitas
de transgênicos podem ser perigosas
inconsistentes. Milhares de agricultores de
algodão Bt endividados na Índia
cometeram suícidio. Outros métodos
são bem melhores para melhorar as colheitas
e a vida dos agricultores. O aumento na produtividade
da plantação não erradica,
por si só, a fome. Especialistas e
organizações mundo afora condenam
as empresas de biotecnologia por afirmarem
que as plantações de transgênicos
resolverão a fome no mundo. Um relatório
da ActionAid concluiu que em vez de aliviar
a fome no mundo, a tecnologia dos transgênicos
pode exarcebar a insegurança alimentar,
aumentando o número de pessoas com
fome.
8 Você escreveu
um livro Sementes da Enganação
para expor os erros da indústria.
Teve algum sucesso? A indústria mudou
a forma de agir?
R O livro se tornou o
livro sobre transgênicos mais vendido
do mundo e a base de informação
para muitos sobre o assunto. Também
teve um grande impacto nos responsáveis
por elaborar políticas públicas.
Por exemplo, fui informado de que membros
do board de supervisores do condado de Trinity,
na Califórnia leram o livro e criaram
uma zona livre de transgênicos na região.
Teve também impacto crucial no estado
de Vermont, nos EUA, que se tornou o primeiro
no país a regular os transgênicos.
O livro é uma série
de histórias, e sendo assim se torna
difícil de ser usado como referência
específica em relação
a problemas com transgênicos. Meu segundo
livro, Roleta Genética, é muito
mais fácil para ser usado pelos responsáveis
por políticas públicas. Tem
um guia de duas páginas sobre os 65
riscos mais comuns dos transgênicos,
cada um deles com um sumário executivo.
Pode ser então lido com rapidez ou
estudado em detalhe. Tem sido fornecido para
governos em todo o mundo como uma evidência
de que o alimento transgênico é
inseguro e precisa ser banido.
9 Muitos cientistas afirmam
que a tecnologia transgênica não
está pronta para chegar ao mercado
consumidor. Estará algum dia?
R- Difícil dizer
se vamos aprender como alterar o DNA de plantas
de uma forma segura e previsível. Hoje
não estamos nem perto disso; as empresas
estão oferecendo produtos de uma ciência
que ainda está em seu estágio
infantil para milhões de pessoas e
liberando eles no meio ambiente onde podem
alterar permanentemente o ecossistema.
A terapia de genes humanos
e medicamentos transgênicos tem uma
relação de risco/benefícios
bem diferente do que a tecnologia aplicada
em alimentos e plantações. A
exposição é menos e o
controle é maior. É mais fácil
justificar o emprego dessas tecnologias, mas
os processos têm riscos únicos
que devem ser respeitados.
10 Você afirma:
Os transgênicos podem ser o próximo
grande problema, depois do aquecimento global
e do lixo atômico. Por que?
R Diferentemente da poluição
química, os transgênicos se auto-propagam
e podem se tornar elementos fixos de nosso
meio ambiente. Me parece razoável e
prudente congelar qualquer novo lançamento
de transgênicos até que tenhamos
uma melhor compreensão do DNA, e as
ramificações de nossa intervenção.