6 de Fevereiro de 2008
- Marco Antônio Soalheiro - Repórter
da Agência Brasil - Brasília - Depois
de apontar um desmatamento na região amazônica
nos meses de novembro e dezembro de 1.922 quilômetros
quadrados de floresta, o Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe) teve os dados questionados pelo
governo de Mato Grosso. Segundo o Inpe, o estado
foi responsável por 53,7% do total desmatado
entre agosto e dezembro de 2007.
O governador Blairo Maggi chegou
a pedir publicamente uma revisão dos números,
mas, de acordo com o climatologista do Inpe Carlos
Nobre, não há possibilidade de mudança.
“Não é verídico
que o Inpe está refazendo os cálculos
e que os números vão mudar. Eles foram
muito checados antes de sua divulgação,”
afirmou Nobre, em entrevista à Agência
Brasil. “Estamos colocando os números num
contexto mais amplo em relação a anos
anteriores, mas isso não é modificação”,
acrescentou.
Nobre ressaltou que o Sistema
de Detecção do Desmatamento em Tempo
Real (Deter) tem méritos e limitações.
Sua função não seria calcular
as áreas desmatadas com precisão,
mas sim indicar locais com sinais de grandes derrubadas
de floresta: “O sistema permite passar informações
detectadas a cada 15 dias para o Ibama [Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis] e órgãos estaduais
do meio ambiente intensificarem a fiscalização
in loco. A ferramenta dá uma idéia
aproximada das tendências e, dentro do que
ela foi projetada, os números são
bastante confiáveis.O alerta é real”.
Pequenos desmatamentos não
são identificados pelo Deter. O mínimo
é uma devastação equivalente
a 10 campos de futebol, disse Nobre. O Deter também
não consegue apontar se o estrago na floresta
se deu a partir do uso de tratores, motosserras,
machados ou incêndios. “O sistema não
enxerga o trator abrindo ou o gado lá embaixo,
mas enxerga a fisionomia de uma região que
antes tinha cobertura vegetal densa e que, numa
outra imagem, essa cobertura não está
mais lá”.
Carlos Nobre admitiu que um erro
técnico no sistema de monitoramento levou
à divulgação de dados imprecisos
sobre o desmatamento na Amazônia nos meses
de junho, julho e agosto de 2007, mas garantiu que
a falha foi corrigida e não se repetiu em
relação aos últimos meses do
ano.
Ele informou que o Inpe pretende
estabelecer discussões técnicas com
o Ibama e órgãos de estados da Amazônia
no sentido de interpretarem corretamente as modificações
de uso da terra que estão ocorrendo. O sobrevôo
realizado na última semana em Mato Grosso
mostrou aos técnicos uma devastação
com características pouco comuns até
agora.
“Foi encontrado lá um padrão
de desmatamento com muitas árvores ainda
de pé, a maioria delas mortas, uma ou outra
com vegetação, mas embaixo já
semeado e com boi. Aquela área não
desempenha mais o papel biológico de floresta,
não armazena carbono, não mantém
biodiversidade. É pastagem com troncos mortos
e calcinados em pé”, descreveu Nobre.
“É um novo modo em que
a transformação da floresta em outro
uso não acontece de uma vez só, depois
que o trator passou derrubando tudo. Um processo
mais gradual em que a floresta vai morrendo aos
poucos quando repetidamente se coloca fogo”, concluiu.
+ Mais
Superintendente do Ibama confirma
casos de atividade ilegal em reservas extrativistas
9 de Fevereiro de 2008 - Alex
Rodrigues - Repórter da Agência Brasil
- Brasília - Responsável pela equipe
de 14 servidores a quem compete fiscalizar os 8,5
milhões de hectares de unidades de conservação
existentes na Terra do Meio, no Pará, o superintendente
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) em Altamira,
Roberto Scarpari, confirma a presença de
pecuaristas em áreas de proteção
ambiental. E acusa também a pressão
dos sojicultores mato-grossenses sobre as unidades
de conservação.
Scarpari alega que a atividade
agropecuária diminuiu nas unidades de proteção
integral (aquelas que não podem ser habitadas
pelo homem e que admitem apenas o uso indireto dos
seus recursos naturais), mas persiste nas áreas
de uso sustentável, principalmente nas reservas
extrativistas (resex) criadas recentemente e ainda
não regulamentadas. “Nessas, ainda existe
algumas atividades que têm de ser proibidas.
Não só a pecuária, mas também
o garimpo e a extração de madeira”.
As unidades de uso sustentável
permitem a utilização dos recursos
naturais, desde que fique comprovada a sustentabilidade
da atividade, como, por exemplo, a extração
de óleos, resinas e fibras vegetais. À
Agência Brasil, o procurador da República
no estado, Ubiratan Cazetta, explicou que em nenhuma
das duas categorias de unidades é permitida
a produção extensiva de gado.
Segundo Scarpari, embora as reservas
indígenas localizadas próximas à
fronteira do Pará com o Mato Grosso ajudem
a impedir o avanço da agricultura, os produtores
de gado já se instalaram muito próximo
às áreas de proteção.
“Mais de um terço do rebanho do estado se
concentra a partir de São Félix, ao
sul da Estação Ecológica Terra
do Meio e do Parque Nacional do Pardo”.
Chamando a atenção
para a grilagem de terras públicas, Scarpari
garante que o Ibama, além de autuar fazendeiros
que ocupam áreas ilegais, tem procurado obter
autorizações judiciais para retirá-los
do interior das unidades de conservação.
“Com mandados expedidos pela Justiça Federal,
estamos prestes a efetivamente desativar esses empreendimentos.
O pessoal simplesmente grilou essas terras, destruíram
florestas e instalaram pastos”.
O secretário estadual de
Meio Ambiente, Valmir Ortega, admite o problema,
mas afirma que a situação melhorou.
“Eu diria que hoje há um número menor
[de grandes criadores]. Temos algumas situações
que já vêm desde antes da criação
das unidades, e ainda não houve um esforço
de regularizar essas áreas. E há sinais
de que alguns produtores tenham entrado nas unidades
depois de elas terem sido criadas”.
Recentemente, após o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) ter divulgado
os dados do desmatamento na Amazônia entre
os meses de agosto e dezembro de 2007, o próprio
secretário afirmou que a expansão
da pecuária no Pará era o principal
fator para o estado ter ficado em segundo lugar
no ranking dos que mais desmataram, tendo derrubado
uma área de 591 quilômetros quadrados.
Ortega afirma que está
preparando com o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade e o Ibama um conjunto de ações
para enfrentar não só o desmatamento,
mas também a questão da regularização
fundiária. “Estimamos que deve haver, dentro
das duas unidades estaduais [Floresta do Iriri,
com 500 mil hectares, e a Área de Proteção
Ambiental Triunfo do Xingu, de 1.679 milhão
de hectares, ambas criadas em dezembro de 2006]
mais de 500 famílias. Elas terão de
ser remanejadas. Os que forem pequenos produtores
terão de ser reassentados. E as grandes fazendas,
fruto de grilagem, devem ser retomadas”.
A reportagem tentou ouvir o Instituto
Chico Mendes, mas o órgão não
se manifestou até a matéria ser publicada.
Criado em abril do ano passado, a partir de uma
divisão do Ibama, cabe ao instituto propor,
implantar, gerir, proteger, fiscalizar e monitorar
as unidades de conservação instituídas
pela União, o que, segundo a Medida Provisória
que o criou, não exclui o “exercício
supletivo do poder de polícia ambiental”
do Ibama.
+ Mais
Estudo mostra que mudanças
climáticas podem agravar fome no mundo
10 de Fevereiro de 2008 - Marco
Antônio Soalheiro* - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - As mudanças climáticas
poderão, já nas próximas duas
décadas, ter efeitos negativos profundos
sobre a agricultura e o sistema de alimentação,
com conseqüências graves especialmente
para os países mais pobres. É o que
aponta artigo publicado na edição
da Revista Science do dia 1º deste mês.
O autor principal do estudo detalhado
é David Lobell, do Instituto Woods para o
Meio Ambiente, da Universidade de Stanford. No boletim
eletrônico da Science , assinam o texto Molly
Brown, da Agência Espacial Norte Americana
(Nasa), e Christopher Funk, da Universidade da Califórnia.
“O aumento das temperaturas e
o declínio das precipitações
nas regiões semi-áridas vão
reduzir os rendimentos do milho, trigo, arroz e
outras culturas primárias. As mudanças
podem ter impacto substancial na segurança
alimentar global”, destaca a publicação.
Eventos naturais como o aquecimento
do Oceano Índico e o agravamento do fenômeno
El Niño deverão, segundo os autores
do estudo, reduzir as temporadas de chuva nas Américas,
África e Ásia, onde comunidades já
têm sofrido, desde 11000, com o aumento dos
preços das commodities (produtos primários
negociados em bolsas de mercadorias) e o declínio
da área per capita cultivada .
Os cientistas garantem já
ser possível projetar uma situação
de insegurança alimentar consolidada. “Muitos
fazendeiros consomem seus próprios produtos
e vendem nos mercados locais. Expostos às
variações climáticas, produzem
menos, a renda diminui e aumentam os custos de manutenção
do consumo básico. A fome em larga escala
pode acontecer mesmo se houver comida nos mercados,
importada de outros lugares”, explicam no estudo.
Como milhões de pessoas
sobrevivem com o que produzem, o estudo sustenta
que “provavelmente haverá mais fome” se as
mudanças climáticas reduzirem a produção
e a população aumentar. Países
de pequeno orçamento que tiveram a receita
nacional afetada pela seca já enfrentam mais
dificuldade de comprar grãos no mercado internacional.
Browm e Funk citam o exemplo da
Tanzânia, onde o acesso à comida para
os pobres foi reduzido em função de
recentes aumentos do preço de grãos.
E, ressalta a publicação, o país
da África Oriental ainda teria que “competir
pelo milho” com a produção de etanol
e com criadores de suínos nos Estados Unidos.
Combinados com a produção
reduzida, o aumento dos preços do óleo,
a globalização do mercado de grãos,
o aumento da demanda por biocombustíveis
e o aumento do consumo per capita na Índia
e na China foram citados como fatores agravantes.
“Estas mudanças podem elevar o custo dos
alimentos em 40% ou mais em muitas áreas
de insegurança alimentar”.