9 de Fevereiro
de 2008 - Alana Gandra - Repórter da Agência
Brasil - Rio de Janeiro - O Ministério Público
Federal do Rio Grande do Norte abriu no ano passado,
somente no município de Areias, onde existe
a Lagoa Guaraíra, 35 ações
contra carcinicultores (produtores de camarão
em cativeiro). Os viveiros ou fazendas marinhas
estão sendo acusados de provocar danos aos
manguezais.
O procurador federal Fábio
Venzon reconhece que a indústria do camarão
em cativeiro é uma atividade importante para
o Rio Grande do Norte, mas que não pode ocorrer
em manguezais, protegidos por leis federais e estaduais.
“Tem muita lei protegendo o manguezal.
E realmente aonde tem mangue, não se pode
colocar um viveiro de camarão”, observa Venzon.
O procurador disse que além
dos danos causados ao manguezal, os viveiros podem
acarretar outros prejuízos ao ecossistema,
como a salinização do lençol
freático, se não forem impermeabilizados
de forma adequada.
Venzon denuncia que algumas comunidades
de assentados rurais do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra) não estão
conseguindo mais plantar porque a terra ficou salinizada
pela atividade de carcinicultura.
O procurador alerta ainda que
os viveiros ocupam as margens de rios e lagoas,
conhecidas como mata ciliar, também consideradas
áreas de preservação permanente.
No Ceará, o Instituto Terramar,
organização não-governamental
que tem como principal missão promover, organizar
e incentivar o desenvolvimento integrado junto às
populações costeiras cearenses, tem
denunciado a degradação do meio ambiente
pelos carcinicultores.
Gigi Castro, assessora do instituto,
disse que as entidades ambientalistas não
são contra o desenvolvimento, mas repudiam
qualquer atividade econômica que não
respeite o meio ambiente.
A assessora lembra que um relatório
elaborado pelo então deputado federal João
Alfredo, em 2005, encaminhado à Comissão
de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
da Câmara dos Deputados, já apontava
que os viveiros de camarões eram responsáveis
por danos socioambientais elevados no ecossistema
manguezal em toda a Região Nordeste.
O relatório apontava desmatamento
do manguezal, da mata ciliar e do carnaubal; o soterramento
de canais de maré; a contaminação
da água por efluentes dos viveiros; a salinização
de terrenos; a fuga do camarão exótico
para ambientes fluviais e fluviomarinhos; e a redução
e extinção de habitats de numerosas
espécies, entre outros prejuízos.
A preocupação do
Instituto Terramar é que o cultivo do camarão
em cativeiro rume para o Maranhão, onde se
encontra a região mais rica em termos de
manguezais do Brasil, disse Gigi Castro.
Cresce no país consumo
de camarão criado em cativeiro
9 de Fevereiro de 2008 - Alana
Gandra - Repórter da Agência Brasil
- Rio de Janeiro - O consumo do camarão de
cultivo (carcinicultura) foi multiplicado por cinco
no Brasil nos últimos anos. De acordo com
o diretor de Comercialização da Secretaria
Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência
da República, Guilherme Crispim, apenas 10%
dessa espécie de camarão ficavam no
país em 2003, e agora de 60% a 70% são
comercializados internamente.
“Então eu imagino que esse
consumo quintuplicou no período de três
anos”, disse Crispim.
O Rio de Janeiro, segundo a Associação
de Pregoeiros de Pescados do Rio de Janeiro (Appaerj),
apresenta um dos mais elevados consumos de camarão
cinza do país, equivalente a 23 quilos per
capita por ano.
Crispim disse que a secretaria
vê com bons olhos o direcionamento do produto
para o mercado interno. “A gente vê a importância
de exportar, de gerar divisas para o país.
Mas é muito importante que o consumo de pescado
no Brasil aumente, e que a cadeia produtiva se desenvolva
equilibrada em dois pilares, o da exportação
e o do mercado interno”, afirmou o diretor.
Na avaliação de
Crispim, o mercado interno se fortaleceu devido
às flutuações cambiais e econômicas.
A carcinicultura começou
a crescer no Nordeste principalmente, além
dos estados do Rio de Janeiro, do Espírito
Santo e de Santa Catarina, a partir de 1998, baseado
no mercado exportador. E o setor experimentou um
aumento exponencial até 2003, quando os Estados
Unidos abriram uma ação antidumping
(de proteção à indústria
nacional) contra os seis maiores exportadores mundiais
de camarão, entre eles o Brasil.
De acordo com Crispim, essa ação
inviabilizou as exportações brasileiras
de camarão para os Estados Unidos, que foram
direcionadas para o mercado europeu. Com a valorização
do real frente ao dólar e ao euro, ainda
de acordo com Crispim, a exportação
começou a se tornar menos lucrativa.
O produtor se tornou então
mais eficiente na produção de camarão,
concentrando seus esforços no mercado doméstico
a partir de 2006. Esse processo foi consolidado
ao longo de 2007, quando os camarões estavam
sendo vendidos abaixo do preço de custo,
e se mantém hoje, explicou Crispim.
O presidente da Associação
Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC),
Itamar de Paiva Rocha, prevê que a tendência
é de aumento da produção do
camarão de cativeiro no país, por
causa da capacidade ociosa.
Segundo Itamar, o Brasil já
chegou a produzir 90 mil toneladas de camarão
cinza em 2003, mas com a crise cambial a produção
baseada na exportação sofreu uma redução,
sendo direcionada para o mercado interno.
“E a gente está descobrindo
que tem condições de competitividade
nesse mercado em relação às
principais carnes vermelhas, em relação
ao salmão e ao bacalhau”, afirmou.
Hoje o Brasil importa cerca de
30 mil toneladas de salmão e 20 mil toneladas
de bacalhau por ano.
Segundo Itamar, em 2003 o setor
vendeu 18 mil toneladas de camarão de cultivo
no mercado interno. Já no ano passado, esse
número subiu para 50 mil toneladas. “Ou seja,
76% da nossa produção ficaram no mercado
interno. E nós acreditamos que cada vez mais,
com os investimentos que estão sendo feitos
em tecnologia, em processamento, nós vamos
conquistar uma fatia maior do mercado interno”.
Itamar disse que o setor dispõe
atualmente da mais moderna tecnologia para exploração
e cultivo do camarão, de modo a garantir
maior qualidade ao produto. E destacou que o processo
é feito com respeito ao meio ambiente, “para
produzir um alimento saudável, em condições
de competitividade de preço, para ampliar
ainda mais sua participação no mercado
interno”.