Biodiversidade
- 29/02/2008 - Abelha sem ferrão do gênero
Melipona
A importância das abelhas para o ecossistema
vai além da produção do mel.
Elas são responsáveis por 30% a 90%
do processo de polinização que resulta
na produção de frutos de plantas floríferas
dos diferentes biomas brasileiros.
O Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (Inpa/MCT) realiza estudos referentes
a esse processo e comprovou o terceiro caso registrado
no mundo de dispersão de sementes de plantas
por abelhas.
De acordo com Alexandre Coletto
da Silva, biólogo que acompanhou a pesquisa,
esse é o segundo caso registrado na Amazônia.
Uma outra ocorrência havia sido detectada
na Austrália. Coletto explica haver dificuldades
para comprovar o fenômeno porque é
necessário identificar as sementes dentro
das colméias.
"No caso do nosso trabalho,
conseguimos demonstrar que elas levam para dentro
do ninho as sementes e que algumas caem no trajeto.
Conseguimos filmar usando técnicas de escalada,
para poder ter acesso aos frutos no alto das árvores.
Confirmamos a presença das abelhas coletando
a resina e as sementes", relatou.
Hoje, o Inpa desenvolve estudo
sobre a dispersão de sementes por abelhas
sem ferrão para a reprodução
do camu-camu (Myrciaria dubia), fruta nativa da
Amazônia, encontrada nas áreas de várzea.
Um das suas características é a riqueza
no teor de vitamina C (ácido ascórbico)
em quantidades maiores que as encontradas na acerola,
no limão e na laranja, entre outras frutas.
Além da descrição
morfológica do camu-camu, a pesquisa visa
ao estudo da biologia floral e à exploração
de técnicas de polinização
nessas culturas. Com o trabalho, os pesquisadores
também pretendem contribuir para o aumento
da produção de frutos em plantio de
terra-firme utilizando colméias racionais
de abelhas sem ferrão da espécie Melipona
seminigra merrilae Cockrell. Os principais polinizadores
do camu-camu são abelhas do gênero
Melipona e do grupo das Trigonas, embora outros
grupos de insetos estejam envolvidos.
A bióloga Christinny Giselly
Bacelar Lima, que participa do estudo, explica que
o trabalho de dispersão de sementes é
importante tanto para as plantas quanto para as
abelhas. "O benefício é mútuo.
Para a abelha porque, visitando a planta, consegue
o seu recurso floral. Para a planta, que por meio
deste agente polinizador estará, conseqüentemente,
frutificando e perpetuando a sua espécie".
Ainda segundo Christinny, a pesquisa
contribui para conservar a vegetação
nas áreas de várzea, desde que se
saiba fazer o manejo dessas plantas. Ela alerta
que muitas vezes a própria população
ribeirinha retira os frutos ou desmata, promovendo
o desequilíbrio ecológico, visto que
para coletar os frutos, as colméias são
destruídas.
Proteção para as
abelhas
O Projeto de Lei 1634/07, do deputado João
Dado (PDT-SP), em tramitação no Congresso
Nacional, prevê proteção especial
às espécies de abelhas polinizadoras.
Na sua justificativa, o parlamentar diz que entre
as ameaças que as abelhas enfrentam estão
a monocultura, o uso intensivo de agrotóxicos,
o desmatamento e as queimadas.
Com a redução das
colônias de abelhas podem ocorrer diversos
prejuízos para a biodiversidade e também
para a agricultura, indústria e comércio
de produtos derivados do pólen e do mel.
A diminuição dessas populações
também poderá afetar a produção
de derivados obtidos das plantas que se reproduzem
pelo processo de dispersão de sementes realizado
pelo inseto.
A bióloga Christinny é
a favor do projeto de lei. Ela assegura que os danos
para a biodiversidade com a redução
das populações de abelhas seriam inestimáveis.
"Muito do que temos em nossa mesa como alimento
depende exclusivamente dos polinizadores desse processo
natural. Então, se não há abelha,
não teremos fruto e muitos outros alimentos".
Monalisa Silva - Assessoria de Comunicação
do MCT