Brasília
(28/03/08) - O Ibama participou ontem (27) do Fórum
Nacional do Circo Brasileiro realizado na Câmara
dos Deputados. Foi debatida no evento a questão
da presença de animais em circos, dos métodos
de contenção e treinamento, e da falta
de assistência veterinária adequada.Segundo
o analista ambiental do Ibama, Anderson do Valle,
a discussão baseou-se nas premissas de que
muitos circos utilizam métodos de adestramento
agressivo, além de não possuírem
condições de dar segurança
ao público. A questão de zoonoses
(infecções e doenças que podem
ser adquiridas em contato com animais) também
foi citada como um fator de preocupação
da Instituição.
“A Constituição
Federal prevê o apoio à cultura, mas
de forma que resguardem práticas e manifestações
condizentes com valores éticos universais.
Não há graça nenhuma em ver
animais sendo mal-tratados”, afirmou Anderson.
A representante da Sociedade Mundial
de Proteção Animal (WSPA Brasil),
a veterinária Ana Nira, fez questão
de frizar que a WSPA é contra a presença
de animais em circos. “Nos circos os animais sofrem
privações constantes, desde treinamentos
cruéis a base de chicotadas, choques elétricos,
retiradas de dentes e garras, e em muitos casos
passam até fome. Sem contar que não
recebem assistência veterinária adequada
e vivem em jaulas minúsculas”, afirmou a
veterinária. Ela completou que há
também a questão do aspecto itinerante
do circo, que faz com que os animais sofram muito
tendo que viajar longas distâncias.
Ana afirmou que para alcançarmos
um desenvolvimento verdadeiramente sustentável,
é preciso trabalhar valores como a compaixão
e o respeito a todas as formas de vida. “Além
disso, é preciso quebrar o círculo
da violência que envolve animais”, garante.
Tramita hoje na Câmara dos
Deputados um Projeto de Lei que proíbe animais
em circos, que já tem apoio do Ibama, Ministério
do Meio Ambiente, Procuradoria Geral de Justiça
(PGJ), Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios (MPDFT), além
de vários deputados e Organizações
não-governamentais (ONGs).
O projeto, originário do
Senado, já passou pela Comissão de
Meio Ambiente e atualmente se encontra na Comissão
de Educação e Cultura. Já foi
relatado pelo deputado Biffi (PT- MS), que se manifestou
contra a presença de animais em circos, e
aguarda ser votado.
Segurança
A questão da segurança nos circos
também preocupa muito as autoridades. Já
ocorreram dezenas de acidentes envolvendo mortes
de pessoas e animais.
O caso mais divulgado aconteceu
em Pernambuco, onde um menino de seis anos foi morto
por leões e depois a perícia indicou
que os animais não comiam há vários
dias e havia falhas graves em relação
à segurança (jaulas velhas e enferrujadas).
Ana Nira relatou que os próprios
palhaços que participaram do Fórum
comentaram que presenciam maus-tratos aos bichos.
“O fim da violência contra os animais já
é lei em vários estados e municípios,
e agora buscamos uma legislação federal
que definitivamente cesse os maus-tratos e o abandono
dos animais”.
O Ibama possuía quase
uma centena de leões abandonados pelos circos
e que estavam aguardando destinação.
Hoje são apenas 42, alguns já foram
destinados a zoológicos.
“A graça do circo é valorizar a cultura
e prestigiar profissionais que passam anos treinando
técnicas para nos divertir”, comentou Anderson
do Valle.
Luciana Melo