A votação
das propostas apresentadas na III Conferência
Estadual do Meio Ambiente, realizada em Praia de
Leste, no litoral do Paraná atravessou a
madrugada deste domingo (30). A participação
maciça dos delegados durante os três
dias de evento surpreendeu os representantes do
Ministério do Meio Ambiente (MMA) que acompanhavam
as discussões.
A primeira votação
(propostas que serão levadas à Conferência
Nacional do Meio Ambiente) foi encerrada às
4h30 deste domingo.
Segundo o articulador da região
Sul da Conferência Nacional do Meio Ambiente,
Jeferson Pereira, este foi o evento com a votação
mais extensa da região. “E o melhor: com
quórum e com qualidade de debates. A plenária
era composta por cerca de 80% dos delegados que
estavam presentes e credenciados. Foi uma excelente
participação dos paranaenses”, elogiou.
“Apesar de ter sido cansativo,
foi louvável”, disse um dos representantes
do MMA, Mauro Soares. Segundo ele, a interação
e o nível de participação dos
delegados é resultado do trabalho integrado
entre MMA e Secretaria do Meio Ambiente e Recursos
Hídrico – que estava simbolizado na condução
da mesa, feita pelas duas instituições.
A segunda votação (propostas para
as políticas públicas paranaenses)
continua na tarde deste domingo (30). O término
das discussões está previsto para
esta noite.
Outro aspecto destacado por Mauro
foram as apresentações culturais que
ajudaram a equipe a relaxar e dar continuidade aos
trabalhos. “Além de enriquecer os debates,
isso fortificou a participação dos
delegados neste processo todo. Esta foi uma iniciativa
diferenciada das outras conferências realizadas
em todo o Brasil e assim o Paraná se destacou
em todo o processo nacional”, afirmou.
GRUPOS DE TRABALHO – Não
foram apenas os representantes do MMA que ficaram
satisfeitos com a Conferência; seus participantes
que representavam os Movimentos Sociais também
aprovaram a forma como o evento foi realizado.
“Essa bela receptividade nos mostra
que garantimos que o principal objetivo da Conferência,
que era dar oportunidade de participação
na formulação de políticas
públicas aos mais diversos segmentos da sociedade,
foi atingido”, destacou o secretário do Meio
Ambiente e Recursos Hídricos, Rasca Rodrigues.
Para Antônio Laiola, que
mora no assentamento Emiliano Zapata (em Ponta Grossa)
e representa o MST, o direito de todos apresentarem
suas idéias foi respeitado. “As discussões
foram muito produtivas e, em determinados assuntos,
polêmicas. Mas o que realmente importou é
que todos tiveram a chance de expressar suas opiniões”,
afirmou.
O calor das discussões
simbolizou o exercício da democracia, de
acordo com a representante de 25 mil famílias
associadas à Via Campesina, Indianara Pires.
“As discussões foram polêmicas, assim
como devem ser em um evento destes onde setores
antagônicos se confrontam ideologicamente.
Afinal, são pessoas de diversos segmentos
e diferentes pontos de vista que colocam seus argumentos
para, juntos, decidir o que é melhor para
a sociedade”, disse.
Segundo a ambientalista Leni Jesus
de Oliveira da ONG Povo Novo, de Guapirama, a abertura
para os mais diversos segmentos sociais participarem
das conferências já havia se consolidado
nos eventos regionais. “Ali começou a chance
de entidades como a nossa deixarem de apenas criticar,
o que é fácil. Esta foi a hora de
participarmos do processo de decisão. O governo
só ganha pontos com iniciativas como esta”,
comentou.
Mas, além de discutir políticas
públicas, a conferência foi também
um espaço de educação ambiental,
lembrou Márcio Kokoj, da reserva de Mangueirinha,
que representou as comunidades indígenas.
“Nós, indígenas, nascemos sabendo
que dependemos da natureza para sobreviver e nossa
relação com os rios e a floresta,
por exemplo, é muito diferente. De maneira
instintiva, nós cuidamos destes recursos
naturais. Foi isso que tentei mostrar nas discussões
em que participei”, destacou.
Já Pablo Melo, da Organização
Não-Governamental Tudo Verde, de Londrina,
fez uma comparação entre a Conferência
Estadual do Meio Ambiente paranaense e a realizada
pelo estado de São Paulo. “Acompanhamos as
conferências nos dois lados do Rio Paranapanema
e no lado paulista eles não conseguiram metade
do que o Paraná conseguiu, como os debates
consistentes”, ressaltou. Segundo ele, em São
Paulo as propostas foram “simplesmente colocadas
na tela e as aprovadas, sem discussões ou
novas idéias”.
+ Mais
Proposta polêmica é
vetada na Conferência do Meio Ambiente
A proposta apresentada por um
cidadão, durante a Conferência Regional
de Meio Ambiente de Antonina – que contou com a
participação de moradores dos sete
municípios do Litoral - de “Promover a sustentabilidade
entre comunidades alternativas liberando o cultivo
de ervas medicinais, incluindo a canabis sativa,
entre outras” foi vetada por 404 delegados presentes
a plenária da III Conferência Estadual
do Meio Ambiente, no ultimo sábado (29).
Além de não aprovar
a proposta, os participantes do evento estadual
também redigiram uma moção
de repúdio à forma como a Conferência
vem sendo divulgada na mídia paranaense.
Com isso, esta não será uma das idéias
a ser apresentada pelo Paraná na Conferência
Nacional do Meio Ambiente, que acontece em Brasília
no mês de maio.
INDIGNAÇÃO - Muitos
participantes foram desrespeitados e ofendidos devido
à distorção dos objetivos da
Conferência. Carlos Eduardo da Silva, que
coordenou um grupo de trabalho, estava revoltado.
“Em uma das reportagens, apareço conversando
com o grupo, dando a falsa impressão de que
estávamos discutindo a tal questão.
Estávamos em debate, sim, mas sobre temas
muito mais importantes e relacionados às
Mudanças Climáticas”, disse. “Foi
uma falta de respeito e de consideração
com os participantes, uma vez que a conferência
não trata sobre o plantio de maconha”, completou.
A conferencista Rafaela Cristine
Sela foi ofendida quando se deslocava do local do
evento – utilizando a camiseta da Conferência
- à sua pousada. “Não sabia o que
estava acontecendo porque passei o dia inteiro envolvida
nas discussões do grupo de trabalho. Ao chegar
à pousada, pessoas me chamaram de maconheira
na rua apenas por estar vestida com a camiseta da
conferência”, lamentou.
A engenheira agrônoma de
Andirá, Monica Gerke, também relatou
sua indignação à organização
da Conferência. “Fiquei escandalizada com
o foco que a imprensa deu para o evento. Me senti
desrespeitada porque eu não vim discutir
isso e sabia que não seria aprovada a proposta.
Estou aqui para defender algo que diz respeito ao
futuro de todos os paranaenses que é o meio
ambiente e medidas para conter o aquecimento global”,
destacou.
Entre as propostas prioritárias
para a região de Andirá, está
o incentivo ao reaproveitamento e reuso da água
nos meios rural e urbano. “Esta sim uma ação
de adaptação às Mudanças
Climáticas imprescindível. O que o
cultivo de maconha influenciaria no combate ao aquecimento
global?”, questionou.
O apicultor de São José
da Boa Vista (Norte Pioneiro), Pedro Panichek, lembrou
que cada uma das 1,3 mil propostas apresentadas
em cada uma das regiões paranaenses seria
uma ‘boa matéria’ para os jornais.
“Isso porque representam os anseios
daqueles que se preocupam realmente, em garantir
o meio ambiente para as futuras gerações.
Entre as realmente necessárias e as polêmicas,
optaram por divulgar justamente a polêmica
e que não foi aprovada”, destacou.
+ Mais
Participação popular
marca abertura da Conferência Estadual do
Meio Ambiente
A diversidade de grupos e propostas
marcou a abertura da IIIa Conferência Estadual
do Meio Ambiente, promovida pela Secretaria do Meio
Ambiente e Recursos Hídricos realizada a
noite da ultima quinta-feira (27), em Praia de Leste,
no Litoral do Paraná. Mais de 1,5 mil pessoas
– entre representantes de movimentos sociais e comunidades
tradicionais, ambientalistas, estudantes, empresários
e autoridades – compareceram à solenidade
que deu início a mais importante oportunidade
de participação popular na definição
de políticas públicas para o setor.
A expectativa do Ministério
do Meio Ambiente para a conferência paranaense
é grande, segundo a secretária nacional
de Biodiversidade e Florestas, Maria Cecília
Brito, que representou a ministra Marina Silva no
evento. “O governo do Paraná, desde o início,
tem auxiliado e participado fortemente desse compromisso
nacional. Entendemos que a conferência, embora
seja uma iniciativa do Ministério, deve ser
apropriada pelos Estados e municípios. E
o Paraná fez isso com firmeza”, afirmou.
O coordenador executivo da Conferência
Nacional, Geraldo Vitor de Abreu, reforçou
que o grande número de propostas é
fruto do trabalho desenvolvido pelo governo estadual.
“Tivemos uma receptividade muito grande da Secretaria
do Meio Ambiente, o que acabou levando a um grande
sucesso as conferências no Paraná.
Prova disso é o número expressivo
de participantes e propostas, pois quando existe
esse envolvimento do governo estadual a sociedade
responde”, analisou.
Até domingo (30), mais
de mil propostas estarão em debate. Neste
ano, o tema sugerido pelo Ministério do Meio
Ambiente é Mudanças Climáticas
– discutido a partir de cinco eixos temáticos:
Redução das Causas, Adaptação
aos Impactos, Educação Ambiental,
Pesquisa, e também Controle Social e Fortalecimento
do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama).
Durante a abertura, o secretário
do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Rasca
Rodrigues, destacou a importância da variedade
das propostas apresentadas. “A conferência
é um exercício de cidadania e democracia,
onde a sociedade é maioria justamente para
espelhar suas demandas”, disse. “Afinal, o futuro
das próximas gerações depende
dos compromissos que todos nós assumimos
no presente”, completou.
As mais de mil sugestões
de políticas públicas – que não
contemplaram apenas propostas relacionadas às
mudanças climáticas, mas também
outras anseios da população com a
implantação de calçadas ecológicas
e pesquisa de formas de mineração
menos impactantes ao meio ambiente, entre outras
- foram reunidas nas conferências regionais
realizadas em cada uma das 13 Unidades Hidrográficas
paranaenses no ano passado, que juntas reuniram
mais de 7 mil pessoas.
Para o deputado estadual Luiz
Eduardo Cheida, presidente da Comissão de
Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa
do Paraná, a conferência se tornou
uma grande consulta popular. “Até o mais
simples cidadão paranaense teve oportunidade
de dizer o que pensa e seu pensamento será
traduzido em leis e iniciativas governamentais que
serão legitimadas pelas discussões
desta grande consulta”, afirmou.
Além da elaboração
de propostas, nos eventos regionais também
foram eleitos 1000 delegados que serão responsáveis
por aprová-las na plenária da Conferência
Estadual. Já neste final de semana, serão
eleitos os 60 delegados que irão defender
as propostas paranaenses na Conferência Nacional
do Meio Ambiente, que acontece em Brasília
em maio deste ano.