05 de
Abril de 2008 - Ativistas do Greenpeace protestam
durante reunião da ONU sobre o clima em Bangcoc.
Bangcoc, Tailândia — A proposta dos países
desenvolvidos de usar florestas como sumidouro de
carbono foi rejeitada pelo Brasil na reunião
da ONU sobre clima realizada em Bangcoc.
Se em Bali o acordo na Convenção
da ONU sobre mudanças climáticas só
saiu na prorrogação, em Bangcoc não
foi muito diferente. As negociações
entre representantes de 159 países duraram
até os 48 minutos do segundo tempo, o que
indica claramente que estamos perdendo tempo precioso
para garantir passos muito modestos.
Os países desenvolvidos
tentaram aprovar o uso das florestas como sumidouros
de carbono, numa alternativa barata para deixarem
de fazer sua lição de casa na redução
de suas emissões de gases do efeito estufa.
A proposta, criticada pelo Greenpeace, foi rejeitada
por países como o Brasil, que aproveitou
para defender a alocação de recursos
para a adaptação e transferência
de tecnologia, além da mitigação
nos países em desenvolvimento.
“A responsabilidade do governo
brasileiro só ira aumentar neste processo
pois além de deter a presidência do
grupo de negociação do novo acordo,
temos a responsabilidade de liderar pelo exemplo
positivo e acabar com o desmatamento de nossas florestas
para contribuir na redução de nossas
emissões de gases de efeito estufa”, afirma
Marcelo Furtado, diretor de Campanhas do Greenpeace
Brasil que participou do encontro na capital tailandesa.
Durante toda a semana o Japão
(com o apoio incondicional dos EUA, Canadá
e Austrália) teve um papel extremamente destrutivo.
Para complicar mais a situação, o
grupo como um todo perdeu horas e horas de negociação
para chegar a um acordo sobre um mero plano de trabalho
e uma lista de seminários. Com toda essa
falta de confiança, podemos apenas imaginar
como vai ficar esta dinâmica quando iniciarem
as verdadeiras negociações para um
novo acordo de redução de emissões.
Apesar de ainda vacilante, as
negociações realizadas em Bangcoc
deram seus primeiros passos nos rumos indicados
pela Convenção da ONU sobre Mudanças
Climáticas realizada em Bali, no final do
ano passado. Para a próxima rodada de compromissos
do Protocolo de Kyoto, foram incluídas as
emissões de CO2 do transporte aéreo
e marítimo internacional, mas o Greenpeace
alerta para o fato de que os governos não
terem a última palavra para determinar de
fato a redução dessas emissões.
A questão foi entregue
às organizações internacionais
de transporte marítimo e de aviação
civil, seguindo um acordo feito durante as negociações
do Protocolo de Kyoto há mais de 10 anos.
Como resultado da decisão tomada nesta sexta-feira,
há um grande risco de essas organizações,
controladas pela indústria, continuarem a
ter permissão para gerenciar suas emissões
como bem entenderem.
“Diminuir a poluição
produzida pela aviação e navegação
é crucial se quisermos evitar as mudanças
climáticas, mas essas organizações
nada fizeram além de conversar sobre o assunto
durante anos”, afirmou Stephanie Tunmore, da campanha
de Clima e Energia do Greenpeace Internacional.
“Agora, mais uma vez, a raposa
pode ficar tomando conta do galinheiro. Não
temos razão alguma para acreditar que essas
indústrias vão agir responsavelmente
e limitar ou reduzir voluntariamente suas emissões
de gases do efeito estufa.”
Para Tunmore, os governos é
que deveriam ficar responsáveis por acordos
firmes para reduzir as emissões desses setores
da indústria. “Os governos não devem
abdicar dessa responsabilidade e entregá-la
a organizações dominadas pela indústria.
Este é um grande teste para ver se eles,
os governos, são sérios em relação
à ação necessária para
combater as mudanças climáticas –
como prometeram ao mundo em Bali, em dezembro”,
diz ela.