11 de Abril de 2008 - Marco Antônio
Soalheiro - Enviado especial - Roosewelt Pinheiro/Abr
- Vila Surumu (RR) - O líder dos arrozeiros
Paulo Cesar Quartiero fala que os índios
da Terra Indígena Raposa Serra do sol precisam
de progresso
Vila Surumu (RR) - No portal
de entrada da Terra Indígena Raposa Serra
do Sol, separados por uma rua, índios do
povo Macuxi se dividem entre o apoio e o repúdio
aos produtores de arroz, os chamados arrozeiros.
Do lado esquerdo de quem chega, está a Comunidade
do Barro, ligada ao Conselho Indígena de
Roraima (CIR) e marcada pela atuação
dos padres. Do lado direito, índios aliados
aos arrozeiros.
Envolvido na retirada do aparato
da base de resistência que fora montada na
ponte do Rio Surumu, Valdenir dos Santos, de 46
anos, faz uma pausa e mostra-se satisfeito com a
suspensão da Operação Upatakon
3: “Creio que vai ser bom. Onde tem os brancos estamos
com eles trabalhando para ganhar o pão de
cada dia que sustenta nossos filhos.”
Na Comunidade do Barro, muitos ficaram desapontados
com a decisão liminar do Supremo Tribunal
Federal (STF) que impediu a retirada imediata dos
não-índios da área. “Para nós,
foi uma surpresa. Contávamos que tudo ia
dar certo. O STF, pensando que vai amenizar, piorou
ainda mais a situação. Os ministros
serão responsáveis pelos atos que
acontecerem na Raposa”, reclamou Edinaldo Pereira
André, 39 anos, coordenador de um centro
cultural na Raposa Serra do Sol.
André conta que tuxauas
– caciques – contrários aos arrozeiros são
ameaçados de morte. Próximo a ele,
Cristóvão Galvão relata o que
ocorreria durante a noite na Comunidade do Barro:
“Motoqueiros começam a beber, a nos xingar
e a soltar foguetes. Queremos a retirada deles para
vivermos em paz”. Sem ser perguntada, Irlanda de
Lima lembra que a comunidade planta milho, feijão
e batata: “Ninguém morre de fome sem arrozeiro
aqui.”
O fator religião também
está presente. Valdenir do Santos, evangélico,
que apóia os arrozeiros, diz que são
os padres que semeiam a discórdia entre parte
dos índios e os produtores.
André, entretanto, afirma
que isso não é verdade: “Somos contra
[a permanência dos arrozeiros] porque conhecemos
a lei”. A possibilidade de um confronto entre índios
é cogitada pelos dois grupos: “Não
negociamos nenhum palmo mais. Os não-índigenas
têm que se retirar”, afirma André,
que é ligado ao CIR e que garante ter o apoio,
se necessário, de Xavante e Cinta-Larga.
O índio Edílson
Rodrigues, que apóia os arrozeiros, não
se intimida: “Temos balas e bombas preparadas aqui.”
O líder dos arrozeiros, Paulo César
Quartiero, desconsidera as ameaças: “Isso
é bravata.”
A Polícia Federal e a Força
Nacional de Segurança vão iniciar
patrulhamento na região.
+ Mais
Coordenador da Funasa contesta
relatório do Cimi sobre mortes de crianças
indígenas
11 de Abril de 2008 - Adriana
Brendler e Wellton Máximo - Repórteres
da Agência Brasil - Brasília - O coordenador-geral
de Atenção à Saúde Indígena
da Fundação Nacional da Saúde
(Funasa), Flávio Pereira Nunes, contestou
hoje (11) o relatório do Conselho Indigenista
Missionário (Cimi) sobre a mortalidade infantil
na população indígena em 2006
e 2007. Na avaliação de Nunes, o levantamento,
divulgado ontem (10) pelo Cimi, não representa
um estudo contextualizado nem pode ser usado para
indicar tendências.
A maior falha do relatório,
de acordo com Nunes, foi o fato de apresentar apenas
o total de mortes nos últimos dois anos,
sem calcular o número de óbitos a
cada grupo de mil crianças. “Os dados não
estão na forma de indicadores, só
em números absolutos. Para que seja feita
uma análise, é necessário apontar
de que maneira se comporta cada indicador, o que
não foi feito”, criticou.
O coordenador da Funasa alegou
que faltou ao estudo mencionar que esse índice
está em declínio. Em 2006, ressaltou
Nunes, morreram 48,5 crianças indígenas
a cada mil nascimentos, contra 74,6 em 2000. “Tivemos
uma redução importante em seis anos,
saindo de um patamar elevado para moderado”, destacou.
Nunes, no entanto, reconheceu
que a mortalidade de crianças indígenas
ainda é alta em relação à
média nacional, que é de 22 óbitos
a cada mil nascimentos. Na avaliação
dele, isso ocorre porque a maior parte dos índios
brasileiros vive no meio rural das Regiões
Norte e Nordeste, áreas onde as mortes de
crianças são mais freqüentes.
“É importante lembrar que
75% da população indígena vive
no Norte e no Nordeste. Em alguns municípios
do Nordeste, a mortalidade infantil chega a 40 crianças
por mil, não muito distante da média
entre os índios”, disse.
Segundo Nunes, a mortalidade infantil
entre os índios é elevada porque o
país está reduzindo o número
de mortes de crianças na população
em geral. Para ele, o desafio da Funasa é
justamente fazer com que essa diminuição
nas comunidades indígenas ocorra de forma
mais rápida em relação à
média nacional. “Para isso é que investimos
nas ações de atenção
à saúde indígena”.
De acordo com o relatório
Violência contra os Povos Indígenas,
apresentado pelo Cimi, houve 51 mortes de crianças
indígenas nos últimos dois anos –
29, em 2006 e 22, em 2007. Os estados com mais óbitos
infantis foram o de Mato Grosso (17), do Tocantins
(11) e de Rondônia (7).