19 de
Novembro de 2008 - Ivan Richard - Enviado Especial
- Anapu (PA) - Um trator, uma patrol, uma caçamba
e uma pá mecânica são os equipamentos
de que dispõe a prefeitura de Anapu, no sudeste
do Pará, para atuar em todo o município,
de aproximadamente 12 mil quilômetros quadrados.
Na cidade, que completa 16 anos em 2009, não
há hospital e a prefeitura ainda não
tem uma sede.
A falta de estrutura do município,
que se tornou nacionalmente conhecido depois do
assassinato da missionária americana Dorothy
Stang, em 2005, dificulta o trabalho de fiscalização
da área de floresta amazônica, segundo
informou o prefeito eleito, Francisco Assis (PT),
conhecido como Chiquinho.
Ele promete combater a extração
ilegal de madeira, mas reconhece de antemão
que a prefeitura sozinha não dará
conta da tarefa. Apesar de a cidade estar no raio
de ação da Operação
Arco de Fogo, ao cair da noite é comum ver
caminhões que transportam madeira seguir
para dentro da mata.
"Temos que combater, veementemente,
a ilegalidade e incentivar aquele que quer trabalhar
conforme as leis. Por meio de projetos de manejo,
há condições de se extrair
recursos da floresta sem danificar tanto o meio
ambiente", disse à Agência Brasil.
O prefeito eleito também
cobra que o governo federal faça sua parte
na preservação da floresta.
"Toda essa área foi
licitada pelo governo e vendida para alguém.
Essas pessoas precisam sobreviver e é preciso
fazer com que elas façam isso com responsabilidade".
Para Chiquinho, o governo deveria,
antes de montar uma equipe de repressão,
como a Arco de Fogo, enviar técnicos agrícolas
para capacitar agricultores.
"Nas Regiões Sul e
Sudeste pensam que nós vivemos como índios
e essa não é a verdade", afirmou
ao comentar as críticas de que o município
não trabalha para preservar a floresta.
"A população
precisa comer e se desenvolver. Hoje, até
um agricultor que desmata uma pequena área
para plantar e extrair sua subsistência é
visto como bandido".
Um exemplo da "complexa"
tarefa de manter a floresta em pé, cita o
prefeito, é o fato de que, apenas em 2006,
mais de 1,2 mil famílias foram assentadas
no município. "Cada uma pode desmatar,
por lei, três hectares do lote por ano. É
só fazer o cálculo de toda essa área".
Para o prefeito, o Instituto de
Colonização e Reforma Agrária
(Incra) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
deveriam trabalhar no sentido de agilizar a regularização
das terras na região e na autorização
de projetos.
"Uma autorização
para início de um projeto de manejo só
sai após um ano. Uma licença de operação
só com dois anos", reclamou. "Embora
queira trabalhar de forma legal, o Estado não
oferece condições. A melhor forma
de combater a ilegalidade é facilitar a legalidade",
afirmou.
O prefeito disse não ver
problemas na criação de gado na floresta,
desde que seja no percentual de 20% em que é
legalmente permitido o desmatamento.
"O produtor pode desmatar
20% da propriedade e usar essa área de acordo
com sua vocação. Não conheço
uma lei que proíba a criação
de gado [na Amazônia], mas preferimos incentivar
o cultivo de lavouras de clico longo, como o cacau,
que são uma boa fonte de renda e ainda auxiliam
da preservação da floresta".
Outra preocupação
do futuro prefeito é com a possibilidade
de construção da hidrelétrica
de Belo Monte. Segundo ele, antes mesmo do início
da obra, pessoas têm chegado à cidade
com a perspectiva de emprego durante a construção
da barragem.
"Chegam cerca de três
famílias por semana. Com o início
das obras, a população deve saltar,
facilmente, para 60 mil habitante e não temos
uma rede de atendimento público para suprir
essa expansão", disse.
+ Mais
Prefeito eleito de Anapu diz que
prefere alimentar população a preservar
floresta
19 de Novembro de 2008 - Ivan
Richard - Enviado especial - Antônio Cruz/Abr
- Anapu (PA) - Área no município de
Anapu, onde existe o Projeto de Desenvolvimento
Sustentável Esperança, idealizado
pela missionária norte-americana Dorothy
Stang
Anapu (PA) - O prefeito eleito do município
de Anapu (PA), Francisco de Assis (PT), afirma que
a preservação da floresta e o desenvolvimento
de programas de exploração sustentável
serão bandeiras de sua administração.
No entanto, ele reconhece que
o trabalho de preservar a mata é complexo
e diz que, entre alimentar a população
e não derrubar árvores, escolhe a
primeira opção.
"Algumas pessoas pensam que
vivemos aqui como índios, mas essa não
é a verdade. Reconhecemos a importância
da preservação da Amazônia e
trabalharemos por isso, mas a população
também precisa comer, trabalhar, ter saúde",
disse o futuro prefeito, afirmando que o próprio
Estado incentivou a ida de migrantes para a Amazônia
para "desenvolver" a região, ainda
na década de 70.
A extração de madeira,
a agropecuária e a agricultura familiar são
as principais atividades econômicas do município,
onde a missionária americana Dorothy Stang
foi assassinada, em 2005. As três contrastam
com uma das principais preocupações
mundiais relacionadas ao meio ambiente: a preservação
da floresta amazônica.
Com mais de 12 mil quilômetros
quadrados de extensão, Anapu concentra cerca
de 85% de sua população, estimada
em 19 mil habitantes, na zona rural. Ou seja, dentro
da floresta.
Situada no sudeste do Pará,
a 1000 quilômetros da capital Belém
– entre os municípios de Altamira e Marabá
– a cidade de Anapu é cortada pela Rodovia
Transamazônica. Para chegar ao município,
é preciso enfrentar muitos buracos e cerca
de 150 quilômetros de estrada de terra saindo
de Altamira.
Se viagem for por Marabá,
o caminho é ainda mais difícil. São
aproximadamente 360 quilômetros de Transamazônica
que, nos meses de chuva, ficam intrafegáveis.
"Quando chove, alguns fazendeiros colocam tratores
à beira da estrada para rebocar os vários
caminhões que ficam atolados. Eles cobram
R$ 50 para cada socorro", conta o taxista Leopoldo
Pereira, morador de Altamira que também transporta
passageiros para Anapu.