Sandra Tavares Brasília
(28/10/09) – Como uma espécie rara em um
parque pode ajudar a contar a história ambiental
da região? Essa e outras perguntas
inquietam um grupo de pesquisadores do Parque Nacional
da Chapada Diamantina, unidade de conservação
gerida pelo Instituto Chico Mendes na Bahia. Isso
porque o buriti, espécie largamente distribuída
pela América do Sul, especialmente em regiões
de Cerrado, é exemplar raro de flora na chapada.
A pesquisa, toda conduzida por
analistas ambientais do Instituto – Cezar Neubert
Gonçalves, Luanne Helena Augusto Lima, Bruno
Soares Lintomen, Pablo Lacaze de Camargo Casella
e Christian Niel Berlinck, com a colaboração
do auxiliar Márcio de Souza Oliveira –, busca
responder exatamente por que esses buritis são
raros. “Queremos entender por que é assim
e que fatores fizeram esta espécie ser incomum
na região. A resposta pode dar indicativos
sobre a história ambiental da Chapada Diamantina”,
destaca Cezar Gonçalves.
A equipe fez um censo de cinco
populações de buritis localizadas
no município de Palmeiras (BA), avaliando
suas estruturas e aspectos ecológicos. Dessas,
duas se encontram dentro dos limites do parque,
duas no Vale do Cercado e uma em Conceição
de Baixo.
De cada buriti foi medido o perímetro, a
altura do peito, contado o número de folhas
e identificada a presença sinais reprodutivos.
Ao todo, foram contabilizados 35 indivíduos.
Os próximos passos serão verificar
a viabilidade de se desenvolver outros estudos sobre
a planta, buscando apoio de outras instituições
de pesquisa, como universidades.
Como a equipe já conseguiu
fazer germinar sementes oriundas dos buritis da
região, a expectativa é de se trabalhar
na recomposição dessas populações.
“Se chegarmos a conclusão de que é
viável e pertinente, a ideia é montar
um programa que promova estas ações”,
destaca Gonçalves.
Mesmo em poucos exemplares, os
dados obtidos até agora levam a equipe a
crer que esta espécie seja nativa da região,
e não introduzida, como o buriti encontrado
na Serra do Cipó, por exemplo, cuja presença
esteve ligada a ocupações humanas.
Ainda não dá para afirmar ao certo,
mas há outras populações na
região que deverão ser amostradas
como parte do estudo e é possível
que estas dêem as respostas que a equipe precisa.
“As populações de
buritis existentes se encontram em áreas
próximas ao leito de rios ou alagados, onde
se esperaria encontrá-los, mesmo naquelas
onde já houve algum impacto provocado pelo
ser humano. Mesmo assim, não há nessas
últimas sinais de que tenha havido moradias
ou coisa similar”, explica Cezar.
Os buritis são fonte de
alimentação de araras, que não
existem na Chapada Diamantina. “Tudo indica que
roedores façam uso de seus frutos, quando
caem das palmeiras”, frisa o pesquisador.
O uso do buriti na região
do parque é restrito e apenas uma família
da comunidade de Campos de São João,
em Palmeiras, produz de forma esporádica
doces com os frutos das palmeiras. “Há nove
comunidades dentro do parque e o processo de regularização
delas deverá ocorrer paulatinamente, a medida
que forem resolvidos os problemas fundiários
da unidade. Mesmo assim, não há nenhum
envolvimento dos moradores com as populações
de buritis do parque”, esclarece Gonçalves.
É provável que se
chegue ao final do estudo com nove ou dez populações
de buritis estudadas. “Estamos pensando em avaliar,
num projeto específico e já numa segunda
fase da pesquisa, a estrutura genética da
espécie para verificar se as populações
da Chapada são vinculadas as populações
do oeste baiano ou a outras regiões, como
o sul do Piauí”.
O buriti (Mauritia flexuosa L.f.)
é uma palmeira usada na produção
de óleo, alimentos, fibras vegetais e mesmo
como material de construção, sendo
amplamente distribuída na região central
do Brasil, Amazônia e América Central.
Ascom/ICMBio