20 de outubro de 2009 - As mulheres
indígenas sabem do que trata a Lei Maria
da Penha? Será que essa Lei pode ser aplicada
às comunidades indígenas? Essas e
outras perguntas devem ser respondidas por quarenta
mulheres indígenas representantes dos povos
Gerinpankó, Kalancó,
Katockim, Karuazu, Koiupanká, Xukuru Kariri,
Wassu Cocal, Tinguí Botó, Karapató,
Xocó, Aconã, Kariri Xocó, Pataxó
e Tupinambá. Oriundas da Bahia, de Sergipe
e de Alagoas, as indígenas estão reunidas
em Maceió/AL, no VIII Seminário Participativo
sobre a Lei Maria da Penha, realizado pela Coordenação
de Mulheres Indígenas da FUNAI.
O evento começou no dia
20 de outubro, no Recanto Sagrado Coração
de Jesus, com a participação da Secretaria
da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos do Estado
de Alagoas, Secretaria Nacional de Políticas
para as Mulheres, Instituto de Estudos Socieconômicos
– INESC e a Articulação dos Povos
Indígenas do Nordeste, Minas e Espírito
Santo – APOINME, parceiros da FUNAI no estado, que
apoiam projetos de etnodesenvolvimento e a realização
dos seminários participativos.
Irânia Marques, que coordena
a Área de Promoção e Proteção
Social na Diretoria de Assistência da Funai,
fez questão de ressaltar, na abertura do
seminário, a importância de inserir
o tema “gênero” como transversal a todas as
políticas voltadas para os povos indígenas,
bem como de firmar parcerias para trabalhar a rede
de solidariedade para uma maior eficiência
na implementação das políticas.
Irânia fez referência, também,
à memória da liderança indígena
Maninha Xucuru, que trabalhou a “solidariedade com
todos os indígenas do Nordeste”. Ela destacou,
ainda, a parceria de organizações
indígenas, como a APOINME, na articulação
com as organizações da região
para que as mulheres indígenas discutam um
tema tão delicado, como a violência
nas terras indígenas e a possibilidade da
adequação da Lei Maria da Penha para
os povos indígenas da região.
A gerente do Núcleo Indígena
da Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos.
Marinete Pereira de Andrade. fez uma retrospectiva
da atividade da secretaria que foi criada no governo
anterior e que. basicamente. é um trabalho
de articulação política e gerencial
para atender os povos indígenas. O núcleo
está desenvolvendo, em parceria com a FUNAI,
um projeto no município de Joaquim Gomes/AL,
com o povo Wassu Cocal, na produção
de doces regionais, aproveitando a vocação
natural da comunidade que produz doces de forma
artesanal.
Constam na programação
do seminário palestras com especialistas
em leis e gênero, que subsidiarão as
mulheres nos trabalhos em grupo, para responder
às questões sobre a pertinência
em aplicar a Lei Maria da Penha nas comunidades
indígenas. O seminário encerra na
sexta-feira com a apresentação dos
trabalhos dos grupos.
+ Mais
Livro aborda papel do indígena
na criação de uma identidade nacional
23 de outubro de 2009 - Fonte:
Agência Fiocruz de Notícias - Analisar
como se deu a criação da Seção
de Etnografia e Arqueologia no Instituto Histórico
e Geográfico do Brasil (IHGB) pelos homens
da elite letrada imperial oitocentista, comprometidos
em originar um projeto político de desenho
da nação brasileira que considerasse
o papel que caberia ao indígena nesse processo
de gestação. Esse é o principal
objetivo da historiadora Kaori Kodama no livro Os
índios no Império do Brasil – a etnografia
do IHGB entre as décadas de 1840 e 1860,
recém-publicado pela Editora Fiocruz. Fruto
de sua tese de doutorado, a obra é baseada
em uma sólida pesquisa documental e apresenta
uma bibliografia atualizada e faz parte da coleção
História e Saúde, que reúne
trabalhos originais e reedita estudos clássicos
relacionados à história da saúde
pública, da medicina e das ciências
da vida.
Índios botocudo
e puri é uma das raras imagens encontradas
em jornais de época que mostram índios
que ainda viviam nos sertões (Arte: Ostensor
Brasileiro. Jornal Literário e Pictorial
(1845-1846), IHGB)
“O leitor que se debruçar sobre este volume
poderá visitar a identidade nacional do Brasil
no século 19 – em um dos seus aspectos mais
complexos, a questão indígena – por
uma trilha ainda não explorada e que estava
à espera de uma pesquisa, partindo de uma
problemática eminentemente histórica”,
afirma o historiador Manuel Salgado Guimarães,
professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(Uerj) no prefácio do livro. “Aliando reflexão
sobre a constituição de um campo de
conhecimento às demandas políticas
de um Estado em formação, Kaori Kodama
explora adequadamente a relação entre
esses dois campos e seus especialistas, indicando
a importância do papel que a etnografia poderia
desempenhar para a possibilidade de se fundar um
‘povo brasileiro’”.
A autora dividiu seu trabalho
em três partes. A primeira trata de um apanhado
das diversas representações do índio
brasileiro, que passou de um componente da natureza
do país a personificação da
ex-colônia portuguesa na América no
processo de independência. Na segunda parte,
Kaori aponta os pressupostos implícitos na
criação de um campo etnográfico
no Instituto em diálogo com o problema da
nação no Império do Brasil,
enfatizando uma estreita ligação entre
a etnografia realizada e a história nacional.
Por fim, na terceira e última parte, ela
associa a criação do Instituto a certas
práticas etnográficas levadas a diante
em nome do próprio governo imperial, que
traçava diversas políticas direcionadas
as populações indígenas.
“O livro é uma bela operação
historiográfica: dialogando tanto com os
trabalhos sobre história da geografia e da
etnologia como com os autores que se dedicam ao
próprio IHGB e lidando igualmente com artigos
da sua revista, textos literários, debate
parlamentar e relatórios de presidentes de
província, a autora estabelece um quadro
do modo como os índios passam a fazer parte
da nação, seja a imaginada, seja a
vivenciada”, comenta o sociólogo Robert Wegner,
professor do Programa de Pós-Graduação
em História das Ciências e da Saúde
da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), na orelha
do livro.