06 de Novembro de 2009 - Encontro
internacional discute amaça
ao atum-azul no Mediterrâneo.
São Paulo (SP) — Comissão Internacional
para Conservação dos Atuns (Iccat)
se reúne de 6 a 15 de novembro em Porto de
Galinhas/PE. Na pauta, o futuro do atum-azul.
O encontro da Iccat ocorre num
contexto de pressão de organizações
ambientais, cientistas e até celebridades
para que o órgão, responsável
pela proteção do atum-azul proíba
a pesca da espécie no Atlântico, onde
seus estoques entraram em colapso.
A Iccat regula a pesca do atum-azul
cedendo à pressão da indústria
pesqueira. Em 2008, por exemplo, o órgão
definiu uma cota de pesca da espécie 47%
maior do que o recomendado pelos cientistas.
Nesse ritmo, não restará
nenhum indivíduo da espécie para ser
comercializado no Mediterrâneo, região
que abastece o principal mercado consumidor do mundo,
o Japão. Na costa do Brasil, o atum-azul
é considerado extinto. Seu último
exemplar foi pescado aqui há mais de 10 anos.
A escassez do atum-azul transformou
sua carne em artigo de luxo. Em 2001, 200 kg chegou
a ser vendido por 220 mil dólares. No Brasil,
poucos restaurantes, como o Sakamoto, em São
Paulo, têm a espécie no cardápio.
“A situação do estoque
de atum-azul no Mediterrâneo comprova que
a Iccat se tornou um órgão de governança
falido, que precisa retomar a liderança política
de proteção da espécie”, afirma
Leandra Gonçalves, coordenadora da campanha
de Oceanos do Greenpeace.
“Se a Iccat, mais uma vez esse
ano, não atender as recomendações
de fechar a pesca do atum-azul, iremos recorrer
aos procedimentos legais para proibição
da pesca através da Cites, afirma Sebastian
Losada, coordenador político para oceanos
do Greenpeace.
A triste história do atum-azul
é a mesma de outros estoques marinhos, vítimas
de má gestão e de um modelo de pesca
industrial que captura mais do que a capacidade
de reprodução das espécies.
No mundo, 75% dos recursos pesqueiros encontram-se
ameaçados. O cenário no Brasil é
pior, atingindo até 80% de nossos estoques.
Para salvar o atum-azul, além
de proibir a pesca, a Iccat precisa pressionar governos
de países da região a criar áreas
marinhas protegidas, capazes de acelerar a recuperação
dos estoques do peixe. Se eles crescerem, o resultado
terá conseqüências benéficas
tanto para o ecossistema marinho como para a indústria
pesqueira.
No caso brasileiro, as áreas
marinhas protegidas, ao funcionarem como berçários
livres da predação humana, trariam
o mesmo tipo de benefício, contribuindo para
a recuperação dos estoques pesqueiros.
O Greenpeace defende que o país destine 30%
de suas águas territoriais para áreas
de proteção. Atualmente, apenas 0,4%
da costa brasileira está protegida. No mundo,
a taxa é um pouco melhor. Mas não
muito. Fica em torno de 1%.
“Para o Greenpeace, a ampliação
das chamadas áreas marinhas protegidas é
fundamental para a superação deste
cenário, evitando que o pescado desapareça
das redes dos pescadores e, em conseqüência,
do prato dos consumidores”, diz Leandra.