Posted on 06 November 2009 - Diretor
do Instituto Floresta Tropical,
organização parceira do WWF-Brasil,
afirma que Amazônia não tem vocação
agrícola e que o manejo assegura conservação
da floresta e renda para populações
locais
A utilização dos
recursos naturais da Amazônia por meio do
manejo florestal é mais vantajosa que as
atividades tradicionais de agricultura, pecuária
e exploração madeireira, tanto do
ponto de vista da conservação da floresta
como em relação aos ganhos econômicos.
A constatação é de estudos
realizados pelo Instituto Floresta Tropical (IFT),
organização parceira do WWF-Brasil.
O IFT comparou resultados da exploração
madeireira feita de forma convencional com o modelo
do manejo florestal. As áreas manejadas provocam
danos 50% menores às árvores remanescentes,
o nível de desperdício de madeira
é 67% menor, estradas, trilhas e pátios
abertos na floresta ocupam áreas 50% menores
e, por fim, os custos são 12% inferiores
quando se opta pelo manejo florestal em lugar dos
métodos usuais e predatórios de exploração.
De acordo com Marco Lentini, diretor-adjunto
do IFT, os números demonstram que, em todos
os aspectos, o manejo florestal é mais vantajoso:
para o meio ambiente, para as comunidades locais
e para o empresário que explora a área.
“Em igualdade de condições, o manejo
é bem mais interessante, inclusive do ponto
de vista econômico”, resume.
Marco Lentini acrescenta que a
Amazônia, devido ao solo, ao excesso de umidade,
aos problemas de infraestrutura e consequentes dificuldades
de acesso, não tem vocação
para atividades agropecuárias. “O manejo
é a única alternativa para conservar
a Amazônia e garantir a inclusão social
de milhões de pessoas que vivem da floresta”,
sentencia.
Ele lembra também que,
atualmente, o mundo demanda uma economia de baixo
carbono, especialmente para conter os efeitos das
mudanças climáticas, o que acaba desqualificando
as atividades de agricultura e pecuária como
opções viáveis para o desenvolvimento
da região.
Questionado sobre alegações
de que a pecuária ainda é mais rentável
na região e que, portanto, seria difícil
convencer os moradores da floresta a praticar o
manejo, o diretor do IFT argumenta que a comparação
não se sustenta. “Durante décadas
o Brasil subsidiou e financiou com recursos públicos
a agropecuária na Amazônia. É
preciso também investir no manejo e capacitar
mão-de-obra para que as duas atividades passem
a competir de igual para igual. Desta forma, não
há dúvidas de que o manejo é
bem mais atrativo”, analisa.
Marco Lentini, que é engenheiro
florestal e mestre em economia florestal, acrescenta
que o Brasil precisa se preparar para uma cultura
florestal. Na Suécia, por exemplo, o tempo
que a floresta precisa para se regenerar é
de cerca de 150 anos. Isso significa que, se alguém
fizer o manejo madeireiro hoje em determinada área,
provavelmente apenas os bisnetos poderão
voltar para retirar madeira do mesmo local. Na Amazônia,
devido às características naturais,
o tempo necessário é de aproximadamente
35 anos. “Isso representa uma substancial vantagem
competitiva para o Brasil”, explica.
Estudos do IFT demonstram que,
para a Amazônia se tornar líder mundial
na produção de madeira tropical manejada,
seria necessária a qualificação
de pelo menos 30 mil pessoas no longo prazo. “Não
estamos nem perto disso, o governo precisa dar mais
atenção a esse tema. Além disso,
parcerias como as que existem entre IFT, WWF-Brasil
e outras organizações, são
fundamentais para a capacitação de
profissionais para o manejo florestal na Amazônia”,
conclui.
Em outubro deste ano, o IFT e
o WWF-Brasil, em parceria com o Serviço Florestal
dos Estados Unidos, realizou no Pará um curso
para capacitar técnicos, engenheiros e agentes
de governo na construção sustentável
de estradas florestais na Amazônia.
+ Mais
Negociações de clima:
hora de mostrar vontade política
Posted on 06 November 2009 - Barcelona,
Espanha - Um acordo global de clima ambicioso ainda
pode ser alcançado em Copenhague, em dezembro,
apesar do final inconclusivo das negociações
em Barcelona hoje (06/11). Infelizmente, durante
essa última reunião, os delegados
focaram mais no que consideram não ser possível
atingir do que no que seria factível fazer
para conter as mudanças climáticas
e prevenir seus piores impactos no planeta.
"Pode-se dizer que houve
progresso na formulação do texto em
negociação durante a reunião
de Barcelona. Mas isso é insuficiente diante
do pouco tempo e dos impasses ainda existentes,
como, por exemplo, a indefinição de
metas dos países desenvolvidos e das contribuições
das nações em desenvolvimento",
avalia Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, superintendente
de Conservação do WWF-Brasil. "Porém
a questão-chave não é tempo,
e sim vontade política. E esse tipo de decisão
pode ser tomada em questão de segundos",
ressalta.
Durante a última semana,
os países desenvolvidos sugeriram que não
acreditam na possibilidade de assinatura de um acordo
ambicioso e com força de lei em Copenhague.
A Dinamarca, que preside as reuniões de clima
este ano, tem sido um dos países a indicar
que não será possível atingir
um novo acordo com força de lei.
"Isso não pode continuar
assim. Cabe à presidência elevar o
nível de ambição e buscar o
melhor acordo para o mundo. Parece que estão
querendo agradar aos EUA e a outros países
desenvolvidos e esse não é o papel
da presidência", afirma Scaramuzza. "Pensar
que podemos chegar ao fim do ano sem um acordo em
que os países possam ser cobrados pelo que
se comprometeram seria completamente improdutivo",
pontua.
O papel do Brasil
"As negociações
de clima parecem ser uma corrida. Só que
o ganhador é quem chega por último.
O nível de ambição dos países
desenvolvidos é frustrante, existe um jogo
de espera que é inaceitável",
comenta Carlos Rittl, coordenador do programa Mudanças
Climáticas e Energia do WWF-Brasil.
"O Brasil poderia trazer
um fôlego novo a este processo e apresentar
ao mundo qual será o seu esforço nacional
para reduzir nossas emissões em todos os
setores de nossa economia", afirma.
"Na conferência de
clima do ano passado, o Brasil apresentou o Plano
Nacional de Mudanças Climáticas com
as metas de redução do desmatamento.
Após este anúncio, outros países
em desenvolvimento como China e Índia seguiram
o exemplo e também apresentaram seus esforços
de redução de emissões no fórum
internacional," lembra Rittl.
Contexto nacional
Infelizmente, a semana no Brasil
também não foi muito animadora. O
presidente Lula, após reunião com
seus ministros, não indicou a opção
por um compromisso voluntário de redução
de emissões em relação à
curva de crescimento prevista até 2020 para
toda a economia. Ele não só postergou
a divulgação de resultados práticos
até dia 14, como ainda sugeriu que o anúncio
pode não passar de uma lista de atividades
de redução de emissões.
"Seria muito frustrante,
neste momento crítico das negociações,
um país que busca consolidar seu papel nos
fóruns globais não demonstrar a vontade
política para liderar pelo exemplo. As baixas
emissões do setor energético e as
reduções no desmatamento nos últimos
anos são vantagens comparativas que nos possibilitam
ousar", avalia Denise Hamú, secretária-geral
do WWF-Brasil.
Ao mesmo tempo, o Congresso Nacional
tem emitido sinais trocados. Em uma semana, aprova
a Política Nacional de Mudança do
Clima e o Fundo Clima. Na seguinte, ocorre mais
uma tentativa de desfigurar o Código Florestal
durante votação do Projeto de Lei
6424, na Comissão de Meio Ambiente.
Entre as alterações
desastrosas previstas nesse projeto, há anistia
do desmatamento ilegal em extensas áreas
- que segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental
da Amazônia (IPAM) resultaria em 34 milhões
de hectares na Amazônia e no cerrado -, estímulo
ao desmatamento e, consequentemente, à elevação
as emissões brasileiras de gases de efeito
estufa. O projeto só não foi votado
esta semana por uma "alegada" falta de
quórum da bancada ruralista, que não
compareceu depois de toda a crítica da mídia
e da sociedade em torno do tema.
"Não dá mais
para ficarmos deitados em berço esplêndido
esperando o futuro chegar. O futuro exige coerência,
compromisso com desenvolvimento limpo, sustentável
e de baixo carbono. É hora de mostrarmos
que isso é possível e que o país
está engajado", finaliza Denise Hamú.