27 de Novembro de 2009 - Centenas
de peixes mortos se acumulam no rio Manaquiri. A
cena faz lembrar a seca que tomou conta da Amazonia
em 2005.
Brasil — Seca em Manaquiri (AM)dá indícios
de que outra grande estiagem esta prestes a atingir
a Amazônia.
Centenas de peixes mortos se acumulam
em um pequeno fio de água, no centro do leito
do rio. A cena faz lembrar a seca que tomou conta
da Amazônia em 2005. Em contraste com a cheia
recorde que atingiu a região, a vazante intensa
deixou o rio Manaquiri seco e matou milhares de
peixes. Esta semana, ativistas do Greenpeace visitaram
e documentaram a área e a visão é
preocupante. Nas imagens aéreas, canoas e
barcos ficam presos na areia. Milhares de peixes
mortos causam mau cheiro e a bela Amazônia
fica parecida com um lixão. A população
que vive na região, totalmente dependente
dos rios, sofre para se deslocar e o acesso a combustível,
água potável e comida fica restrito.
“A mortandade de peixes é
normal na seca. Mas ela pode ser um fato local ou
o início de um grande problema se não
chover até dezembro. Imaginava-se que o rio
não fosse baixar tanto por conta da cheia
histórica deste ano”, afirma Jansen Zuanon,
coordenador de pesquisa em biologia aquática
do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(INPA).
Desde terça-feira, de acordo
com dados da Superintendência Estadual de
Navegação Portos e Hidrovias (SNPH),
o nível do rio Negro já baixou mais
de 30 cm, e está em 16,19 m.Desde julho,
o rio já baixou mais de 13 metros, o equivalente
a um prédio de mais de quatro andares. “O
nível fluviométrico crítico
para um evento de seca extremo em Manaus situa-se
abaixo de 16 metros e se reflete para a região
de Manaquiri”, diz Naziano Filizola da Rede Estadual
de Meteorologia e Hidrologia da Universidade Estadual
do Amazonas.
Não há dúvidas
de que o principal culpado tanto pela longa estiagem
na região norte amazônica como pelas
chuvas intensas no sul e sudeste do Brasil é
o El Niño. A intensidade do fenômeno
este ano está entre moderada e intensa. O
El Niño produz um padrão de inundações
e secas ao redor do mundo e no Brasil causa secas
na Amazônia, inundações em Santa
Catarina.
“A seca deste ano, até
agora, está associada a uma variabilidade
natural. Com as mudanças climáticas,
esses fenômenos podem se tornar mais intensos,
como indicam os modelos climáticos, mas ainda
é muito cedo para associá-lo diretamente
ao aquecimento global, apesar dos dados desta década
mostrarem um aumento da freqüência destes
eventos extremos”, aponta Antônio Manzi, pesquisador
do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera
na Amazônia (LBA, em inglês).
As modelagens climáticas
apontam que o futuro da Amazônia será
mais quente e mais seco se não estabilizarmos
as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs).
No entanto, ainda há muita discussão
sobre os resultados de diferentes modelos climáticos
quando se trata da Amazônia. Outros estimam
uma perda gradual, mas ainda assim significativa.
Se nada for feito para combater
o aquecimento global, a floresta amazônica
sofrerá sérias consequências.
Algumas previsões indicam que a Amazônia
pode se tornar gradualmente mais quente e mais seca,
causando perda de biodiversidade e prejuízos
para as comunidades locais e populações
indígenas. Outras mostram que mais de 83%
da floresta Amazônica serão destruídas
até 2100. Um dos mais complexos modelos prevê
que a floresta vai desaparecer completamente. Os
estudos que apontam para cenários mais secos
e quentes aparecem mais intensamente em simulações
do clima que usam modelos que relacionam o aquecimento
da água no oceano Pacífico e a ocorrência
do El Niño. No entanto, ninguém arrisca
afirmar que este evento do Rio Manaquiri tem uma
ligação direta com as mudanças
climáticas, mas isso não significa
que ela não exista.
“Não dá pra afirmar,
por exemplo, que uma pessoa que fuma, ficou com
câncer por conta do cigarro. É difícil
comprovar, mas ninguém nega que fumar cigarro
aumenta a probabilidade de ter câncer”, compara
Philip Fearnside, do Departamento de Ecologia do
INPA. “Enchente, seca, mortandade de peixes sempre
existiram, mas a freqüência destes fenômenos
é que está aumentando. Devemos tirar
uma lição disso e não esconder
debaixo do tapete. Se não limitarmos a emissão
de GEEs a tendência é que estes eventos
extremos aumentem”. O desmatamento das florestas
tropicais contribui com 20% das emissões
globais de gases do efeito estufa. Apesar de ter
caído em anos recentes, a destruição
da Amazônia responde por 52% das emissões
nacionais, colocando a Brasil na posição
de 4º maior emissor de gases estufa – o que
aumenta a responsabilidade do país para com
o futuro do planeta.
Para proteger a floresta e combater
o aquecimento global, o Brasil deve assumir um compromisso
concreto, e não somente voluntário,
na redução dos GEEs e cobrar dos países
industrializados, e principalmente dos poluidores
históricos como os EUA, que assumam metas
concretas também. Faltam menos de nove dias
para o início da conferência de Copenhague,
reunião histórica em que os países
precisam se comprometer em reduzir suas emissões
de gases estufa.
+ Mais
Greenpeace denuncia contaminação
nas ruas de Akokam, na Nigéria
27 de Novembro de 2009 - Greenpeace
denuncia contaminação nas ruas de
Akokam, na Nigéria
São Paulo, (SP) — Areva, estatal francesa
e potencial parceria do programa nuclear brasileiro,
é a responsável.
Uma equipe do Greenpeace descobriu
níveis alarmantes de radiação
nas ruas de Akokan, cidade nigeriana que abriga
duas minas de urânio da estatal francesa Areva,
potencial parceira do Brasil no programa nuclear.
A empresa havia declarado que não havia risco
de contaminação. O relatório
do Greenpeace com os primeiros resultados da pesquisa
foi encaminhado para autoridades e empresas envolvidas
com um pedido de uma inspeção independente
e com a recomendação de que a Areva
assuma a responsabilidade pela contaminação.
“Com a operação
da mina, a Areva criou uma ameaça radioativa
para o povo de Akokan”, disse Rianne Teule, do Greenpeace
Internacional. “Tem que haver uma inspeção
independente desta área.”
Em 2007, o laboratório
francês CRIIRAD denunciou que as pedras que
sobram do processo de mineração do
urânio estavam sendo usadas como material
de construção nas ruas de Akokan.
A denúncia foi encaminha a Areva e às
autoridades locais.
De acordo com documentos enviados
para o Greenpeace pela estatal francesa, logo depois
da denúncia os 11 pontos da cidade onde foram
identificados os níveis de radiação
foram descontaminados.
No entanto, uma pesquisa superficial
pelas ruas de Akokan, na região dos 11 pontos
contaminados identificou sete pontos com índices
significantes de radiação. Em uma
das áreas o nível de radiação
era quase 500 vezes acima do normal.
“Esse nível de radiação
representa um perigo para a saúde humana.
As pessoas na rua podem ser expostas a uma dose
de radiação significativa. Há
um risco de que a radiação possa se
desprender dos pontos contaminados. Inalar poeira
radioativa é um risco sério para a
saúde”, disse Paul Johnston da Unidade de
Ciência do Greenpeace da Universidade de Exeter.
“A cidade tem que ser descontaminada imediatamente.”