O estado
da Bahia passa a contar com um total de 65.070 hectares
de área protegida na Mata Atlântica
Belo Horizonte, 14 de junho de
2010 — O presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva, assinou no dia 10 de junho, os decretos
de criação de quatro novas unidades
de conservação e ampliação
de uma já existente, todas no estado da Bahia
e inseridas no bioma Mata Atlântica, em ambientes
de alta diversidade biológica.
Com a criação dos
Parques Nacionais do Alto Cariri (19.264 ha), de
Boa Nova (12.065 ha) e Serra das Lontras (11.336
ha), e do Refúgio de Vida Silvestre de Boa
Nova, somados à ampliação do
Parque Nacional do Pau Brasil (agora abrangendo
18.934 ha), houve um incremento de 61% da área
protegida no estado da Bahia. No total, essas novas
unidades de conservação passarão
a proteger 65.070 hectares de área de Mata
Atlântica. As novas áreas decretadas
estão inseridas no Corredor de Biodiversidade
Central da Mata Atlântica, uma das regiões
mais ricas em quantidade de espécies de animais
e plantas e elevado número de endemismo.
A assinatura do decreto para criação
dessas unidades de conservação (UCs)
foi conseguida por meio de uma ampla negociação
coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente
(MMA), o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio) e o governo do estado
da Bahia. A realização dos estudos
que subsidiaram a proposição de novas
UCs no sul da Bahia, envolveu levantamentos biológicos
e sócio econômicos que foram elaborados
por uma equipe técnico-científica
(ETC) composta por universidades e organizações
da sociedade civil. O grupo foi liderado pela Associação
Flora Brasil que contou com o apoio da Conservação
Internacional, por meio das parcerias com o Global
Conservation Fund (GCF) e com o Fundo de Parceria
para Ecossistemas Críticos (CEPF).
Além dessas unidades de
conservação públicas, mais
20 Reservas Privadas do Patrimônio Natural
(RPPN), que protegem cerca de 5.000 hectares, foram
criadas no âmbito dessa iniciativa. A ETC
incentivou a criação de reservas privadas
em torno da área proposta para a expansão
e/ou criação de áreas públicas
protegidas seguindo alguns critérios específicos,
especialmente considerando as necessidades de gestão
e concepção de novas fronteiras das
áreas públicas protegidas. Segundo
Luiz Paulo Pinto, diretor do programa Mata Atlântica
da Conservação Internacional, “o número
de reservas particulares criados é muito
importante. Foi um processo interessante e inovador
no Brasil, combinando a proteção pelo
poder público e pelo setor privado, com menos
custo para o governo, e que certamente pode ser
usado como modelo a ser replicado em outras partes
do país.”
Outros processos de criação
de novas áreas ainda estão em andamento,
porém quando esse esforço for concluído,
a criação das novas áreas protegidas
atingirá metas de conservação
estabelecidas para pelo menos 34 espécies
de vertebrados terrestres ameaçados. Estas
representam 54% de todas as espécies de vertebrados
endêmicos e ameaçados no Corredor Central,
ou 78% das espécies que ocorrem no sul da
Bahia. Com a criação dessas UCs no
estado bahiano, o trabalho da ETC atingirá
aproximadamente 208 mil hectares em 14 unidades
de conservação no Corredor Central.
Destas 14 áreas, 13 estão sob proteção
integral, o que representa um incremento de aproximadamente
230% da superfície da região sob proteção
integral.
A região do Parque Nacional
do Alto Cariri, com área de 19.264 hectares
e localizado no município de Guaratinga,
possui grande importância biológica
para a conservação e é indicada
como área prioritária para a criação
de unidade de conservação de proteção
integral. A UC contém o primeiro registro
do muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) na
Bahia, espécie de primata considerada até
recentemente extinta no estado. Abriga o último
conjunto de fragmentos de Mata Atlântica (floresta
ombrófila densa montana, floresta estacional
semidecidual e floresta estacional decidual) de
grande porte da região leste do sul da Bahia
e nordeste do estado de Minas Gerais. Abrange nascentes
das bacias dos rios Buranhém e Jequitinhonha.
O Parque Nacional de Boa Nova
e o Refúgio de Vida Silvestre de Boa Nova
protegem uma área total de 27.089 hectares,
sendo 12.065 pertencentes ao Parque e 15.024 ao
Refúgio, e abrangem os municípios
de Boa Nova, Manoel Vitorino e Dario Meira.
Estas UCs estão localizadas em área
de transição entre florestas úmidas
do leste e a vegetação seca da Caatinga,
onde ocorre a Mata de Cipó uma das fitofisionomias
mais ameaçadas da Mata Atlântica, com
apenas 2,6% de remanescentes preservados. Por se
tratar de uma área de transição
de estreita faixa vegetacional, possui alta diversidade
biológica, abrigando espécies dos
biomas Mata Atlântica e Caatinga, muitas delas
raras e endêmicas. A região possui
alto potencial para ecoturismo e observação
de aves, por conter espécies endêmicas
e de distribuição restrita, e já
é internacionalmente considerada em rotas
de observadores de pássaros. É aí
que ocorre o gravatazeiro (Rhoponis ardesiaca),
ave conhecida mundialmente por ser uma das mais
raras das Américas. Ela é endêmica
da Mata de Cipó e consta nas listas brasileiras
e mundiais de espécies ameaçadas de
extinção.
O Parque Nacional de Serra das
Lontras localiza-se nos municípios de Una
e Arataca e abrange uma área de 11.336 hectares.
Tem elevada riqueza de espécies e significativa
importância biogeográfica. Trata-se
de um centro de endemismos de diversas espécies
de aves e plantas.
O Parque visa proteger fitofisionomias
florestais do bioma Mata Atlântica, em especial
a floresta montana que ocorre acima de 400 metros
de altitude e cabrucas (sistema de plantio do cacau
sombreado) abandonadas a seu redor.
As Serras das Lontras, Javi e
Quati chegam a mil metros de altitude e abrigam
raras formações de florestas de altitude.
Nos últimos anos, foram descobertas novas
espécies de aves e plantas no local.
Área sob intensa pressão
antrópica, principalmente por desmatamentos,
é uma das mais chuvosas e úmidas da
região cacaueira, onde os plantios de cacau
em seu sopé foram muito afetados pela vassoura-de-bruxa
e a maioria encontra-se em estado de abandono há
mais de 20 anos.
A região abriga um dos
maiores mananciais de água da região
cacaueira, abastecendo as cidades de Una e São
José da Vitória. Apresenta grande
potencial para ecoturismo pela beleza cênica
e proximidade com a BR-101.
O Parque Nacional do Pau Brasil,
localizado no município de Porto Seguro,
foi ampliado em 7.381 hectares, e totaliza agora
uma área de 18.934 hectares. A área
de ampliação possui áreas ocupadas
por floresta ombrófila em estágio
avançado de regeneração e formações
geológicas singulares. A fauna é bastante
diversificada e inclui espécies ameaçadas.
Entre as aves, destacam-se o papagaio-chauá,
o anambé-de-asa-branca, o balança-rabo-canela
- um beija-flor criticamente ameaçado – e
o gavião-real, recentemente avistado.
Entre os mamíferos, foi
descoberta uma espécie nova de roedor, que
ainda está sendo descrita (Trinomys sp.).
Há também espécies
vegetais endêmicas e ameaçadas de extinção
tais como: braúna, paraju, maçaranduba,
bicuíba,juerana-vermelha e arapati; esta
última só encontrada na Bahia. Nas
áreas mais arenosas, perto da praia, ocorrem
muitas plantas raras, entre elas o óleo-comumbá,
mucujê, pau-de-jangada e imbirema, além
de muitas orquídeas e bromélias.
A vegetação da área
proposta para ampliação do Parque
do Pau Brasil protege inúmeros mananciais
e as nascentes das bacias dos rios Trancoso, da
Barra e Taípe, o que garante a conservação
e a qualidade desses recursos hídricos e
beneficia toda a população do município
localizado no entorno da unidade.
Para os próximos dias está
prevista a finalização do processo
e assinatura do decreto de ampliação
do Parque Nacional do Descobrimento, localizado
no município de Prado, também na Bahia,
que será ampliado em 1.548 hectares, totalizando
22.693 hectares.
A área de ampliação
está localizada em uma região de grande
importância ecológica no bioma Mata
Atlântica, com ocorrência de floresta
ombrófila densa e mussunungas e abriga uma
diversidade biológica ímpar. A fauna
é bastante diversificada, incluindo espécies
ameaçadas. Entre as aves destacam-se a suia,
o papagaio-chauá, o anambé-de-asa-branca,
o gavião-real e os criticamente ameaçados
mutum-do-sudeste e balança-rabo-canela. Abragem
nascentes das bacias dos rios Cahy, Imbaçuaba,
Peixe e Jucuruçu.