16 Novembro 2010
por Aldem Bourscheit*
Decretado pelo governo federal em abril de 2009,
o mosaico Sertão Veredas–Peruaçu reúne
doze unidades de conservação federais,
estaduais e particulares, além de uma terra
indígena. São 1,5 milhão de
hectares destinados à proteção
da natureza distribuídos em onze municípios
do norte e noroeste de Minas
Gerais e sudoeste da Bahia. A região tem
metade do tamanho do estado de Alagoas e, sem a
zona de amortecimento no entorno das unidades de
conservação, representa quase 8% da
área hoje protegida no Cerrado.
Previstos na legislação
federal, os mosaicos devem funcionar como pólos
de desenvolvimento em bases que respeitem a ecologia
regional, com gerenciamento integrado e participativo
das áreas protegidas e seus entornos. Trata-se
de algo fundamental para regiões como a do
Sertão Veredas-Peruaçu, que abriga
um dos mais belos patrimônios do Cerrado.
Lá encontramos culturas e paisagens que inspiraram
a literatura brasileira, sítios arqueológicos
e cavernas, veredas, chapadas e campos, o ponto
onde o rio Pandeiros forma o chamado Pantanal Mineiro,
o curioso Vão dos Buracos e as águas
vagarosas do São Francisco cruzando o sertão.
A implantação de
uma “estrada-parque” com cerca de 400 quilômetros
(hoje 85 são asfaltados), com passagens para
animais, estacionamentos e mirantes, facilitará
o acesso a locais que guardam parte da história
e da cultura dos “Gerais” – antigamente treze milhões
de hectares de vegetação conservada
à margem esquerda do São Francisco,
no norte e noroeste mineiro, oeste da Bahia, norte
goiano, leste de Tocantins e sul do Piauí
e do Maranhão.
Arquitetura preservada, festas
e produtos regionais oriundos em grande parte do
extrativismo e riquezas naturais incomparáveis
têm grande potencial para melhorar a qualidade
de vida em municípios predominantemente rurais
onde o índice médio pobreza chega
aos 60%. Os frutos do Cerrado local têm proporcionado
a produção, venda e até exportação
de óleo e polpa de pequi, artesanato, mel,
doces, compotas e geléias, de araçá,
cajá, mangaba, maracujá nativo e araticum.
Cooperativas de extrativistas
e roteiros turísticos vêm sendo estruturados,
mas o maior desafio para a implementação
do mosaico será levar à região
uma economia menos dependente da extração
de Cerrado nativo para produção de
carvão e lenha, atividade presente na maioria
daqueles onze municípios.
A área também é
visada para plantios somando pelo menos 500 mil
hectares de eucaliptos, atividade que depende, no
mínimo, de um zoneamento ecológico-econômico
e de regras claras para seu licenciamento. No passado,
plantios cobriram 1,5 milhão de hectares
na região.
“A estruturação
das equipes para fiscalização e administração
das unidades de conservação (do mosaico)
vão gerar centenas de empregos. Com o turismo
ecocultural, teremos muitas outras atividades gerando
renda com a venda de produtos regionais e prestação
de serviços, como guias turísticos,
transporte local, pousadas e restaurantes”, destacou
em entrevista ao Jornal do Mosaico Cesar Victor
do Espírito Santo, secretário-executivo
do Conselho Consultivo do Mosaico Sertão
Veredas-Peruaçu e superintendente-executivo
da Funatura – Fundação Pró-Natureza.
Entre 2006 e 2008, com recursos
do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA) e em parceria
com o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais,
Instituto Chico Mendes (ICMBio), prefeituras e entidades
civis regionais, a Funatura elaborou um plano de
desenvolvimento para o território do mosaico
com diretrizes conservacionistas, focado na gestão
integrada das unidades de conservação,
no extrativismo sustentável e no turismo.
Está programado ainda para
novembro o lançamento de um edital pelo FNMA
para apoiar com R$ 4 milhões a implantação
do plano de desenvolvimento. “Os recursos trazem
a possibilidade de fortalecer o mosaico e seu território
com uma identidade forte e desenvolvimento em bases
sustentáveis, respeitando o meio ambiente
e as tradições”, disse Rose Mary Paes
de Araújo, do Ministério do Meio Ambiente
(MMA).
Um acordo de cooperação
entre o Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu
e o parque natural francês Escarpe-Escout
está sendo viabilizado pelo MMA para difundir
na região brasileira experiências em
gestão de territórios com base na
valorização de riquezas naturais e
culturais, algo já tradicional em terras
francesas. A cooperação pode ser assinada
até o fim do ano.
“Apoiaremos a consolidação
do mosaico como forma de ampliar a proteção
real das riquezas naturais e culturais do Cerrado,
a formação com savanas mais rica em
vida no planeta. O bioma tem papel importante no
agronegócio brasileiro, mas o avanço
da fronteira produtiva não pode seguir nos
mesmos moldes que levaram à destruição
de metade da vegetação nativa do Cerrado”,
ressaltou Michael Becker, coordenador do Programa
Cerrado Pantanal no WWF-Brasil.