No Ano Internacional das Florestas
- lançado pela ONU no último dia 24
e cuja inauguração oficial está
marcada para hoje (02/02) em Nova Iorque -, a Conservação
Internacional chama a atenção para
a necessidade de se proteger as florestas
Arlington, VA – EUA, 02 de fevereiro
de 2011 — Para marcar o início do Ano Internacional
das Florestas, a Conservação Internacional
(CI) lança hoje a lista dos dez hotspots
florestais mais ameaçados do mundo. Os chamados
”hotspots de biodiversidade” são áreas
de extrema riqueza biológica, com elevado
índice de espécies únicas de
animais e plantas, e que se encontram altamente
degradados e sob risco de extinção.
No caso dos dez hotspots florestais
mais críticos, todos já perderam 90%
ou mais de sua cobertura original e cada um abriga
pelo menos 1.500 espécies de plantas endêmicas,
ou seja, que só existem ali. Eles incluem
florestas no sudeste asiático, na Nova Zelândia,
nas montanhas do sudoeste da China, na região
costeira da África Oriental e na ilha de
Madagascar. O Brasil aparece na lista com a Mata
Atlântica, da qual restam apenas 8% da cobertura
original, e que abriga cerca de 20 mil espécies
de plantas, 40% das quais endêmicas. (Veja
no quadro abaixo a localização e detalhes
de cada uma das florestas).
“O Ano Internacional de Florestas
deve chamar a atenção do mundo para
a necessidade do aumento de proteção
das florestas, pela sua vital importância
para a conservação da biodiversidade,
a estabilização do clima e o desenvolvimento
econômico”, afirma Olivier Langrand, diretor
de política internacional da CI.
As florestas cobrem apenas 30%
da área de nosso planeta e ainda assim abrigam
80% da biodiversidade terrestre do mundo. Elas também
garantem o sustento de 1,6 bilhão de pessoas,
que dependem diretamente de florestas saudáveis
para sobreviver. As interações entre
as espécies e os ecossistemas fornecem muitas
das necessidades mais básicas para a sobrevivência
humana na Terra, tal como ar puro, solos saudáveis,
remédios, polinização de safras
agrícolas e água doce.
A função das florestas
na estabilização do clima também
deve ser reconhecida, visto que emissões
resultantes da destruição de florestas
representam aproximadamente 15% das emissões
totais de gases do efeito estufa. Os dez hotspots
florestais mais ameaçados do mundo armazenam
mais de 25 gigatons de carbono, auxiliando na mitigação
dos efeitos da mudança climática.
“As florestas estão sendo
destruídas a uma taxa alarmante para dar
lugar a pastagens, plantações, mineração
e expansão de áreas urbanas. Com isso,
estamos destruindo nossa própria capacidade
de sobreviver,” aponta Langrand. “As florestas não
podem ser vistas apenas como um grupo de árvores,
mas como fornecedores de benefícios vitais.
Elas são importante fator econômico
no desenvolvimento de diversas cidades, fornecendo
madeira, alimento, abrigo e recreação,
e possuem um potencial ainda maior que precisa ser
percebido em termos de provisão de água,
prevenção de erosão e remoção
de carbono”.
Em adição a sua
relevância para a biodiversidade e a estabilização
do clima, as florestas são os mais importantes
reservatórios de água doce do planeta.
Cerca de três quartos da água doce
acessível do mundo vêm de vertentes
florestais e dois terços de todas as maiores
cidades em países em desenvolvimento dependem
das florestas em suas cercanias para seu suprimento
de água limpa.
“Visto que a população
global está projetada para atingir o total
de até 9 bilhões de pessoas nos próximos
30 anos, o acesso à água ficará
mais difícil se milhões de hectares
de florestas tropicais continuarem a ser queimados
todos os anos”, explica Tracy Farrell, diretora
do Programa de Conservação de Água
Doce da Conservação Internacional.
“Excetuando-se as instalações de dessalinização,
que são economicamente muito caras, ainda
não encontramos outra forma de manter nosso
suprimento de água doce a não ser
protegendo as florestas remanescentes ao redor do
mundo”.
“Durante este Ano Internacional
das Florestas, encorajamos fortemente os países
a realizar uma nova abordagem na proteção
e preservação de suas florestas, que
são ativos importantes globalmente,” adiciona
Langrand. “Florestas saudáveis são
uma parte importante do capital natural e nos oferecem
os melhores meios econômicos para enfrentar
os diversos desafios ambientais da mudança
climática e a crescente demanda por produtos
florestais”.
Veja abaixo a classificação
e os detalhes sobre os 10 Hotsposts Florestais Mais
Ameaçados do Mundo, por percentual de hábitat
original remanescente:
1 - Regiões da Indo-Birmânia
(Ásia-Pacífico)
Os rios e pântanos desse
hotspot são extremamente importantes para
a conservação de aves, tartarugas
e peixes de água doce, incluindo alguns dos
maiores peixes de água doce do mundo. O Lago
Tonle Sap e o Rio Mekong são hábitats
para a lampreia gigante Mekong (Pangasianodon gigas)
e a carpa dourada de Jullien (Probarbus jullieni).
Seus ecossistemas aquáticos estão
sob intensa pressão em diversas áreas,
e muitas áreas alagáveis de suas planícies
aluviais de água doce foram destruídas
pelo cultivo de arroz. Os rios foram represados
para gerar eletricidade, resultando no alagamento
de bancos de areia e outros hábitats que
normalmente seriam expostos durante a estação
seca, com impactos severos sobre ninhos de aves
e espécies de tartarugas. A conversão
de mangues em reservatórios de aquicultura
de camarão, a pesca excessiva e o uso de
técnicas de pesca destrutiva são também
problemas graves para os ecossistemas costeiros
e de água doce. Hoje subsistem apenas 5%
do hábitat original.
2 – Nova Caledônia (Oceania)
Um arquipélago montanhoso
uma vez dominado pelas florestas temperadas, a Nova
Zelândia é uma terra de paisagens variadas
e abriga extraordinários índices de
espécies endêmicas, incluindo seu representante
mais famoso, o kiwi. Nenhum de seus mamíferos,
anfíbios ou répteis é encontrado
em outro lugar do mundo. Curiosamente, as duas espécies
registradas de mamíferos terrestres endêmicos
são morcegos. Hoje, espécies invasoras
representam uma séria ameaça à
flora e à fauna das ilhas da Nova Zelândia.
Com a chegada dos europeus no início do século
19, foram levadas ao arquipélago 34 espécies
exóticas de mamíferos (incluindo gambás,
coelhos, gatos, cabras e furões) e centenas
de espécies de ervas daninhas invasoras.
Somando-se o impacto da caça e da destruição
de hábitats, os últimos duzentos anos
testemunharam a extinção de inúmeras
espécies de aves, invertebrados, plantas
e de um morcego e um peixe endêmicos. Diversas
outras espécies sobrevivem apenas em pequenas
populações nas ilhas. A destruição
de hábitats, de florestas e a drenagem de
pântanos são também problemas-chave.
Há apenas 5% de remanescentes do hábitat
original do arquipélago.
3 - Sunda (Indonésia, Malásia
e Brunei – Ásia-Pacífico)
O hotspot de Sunda cobre a metade
ocidental do arquipélago Indo-Maláio,
um arco de cerca de 17 mil ilhas equatoriais, dominado
pelas duas maiores ilhas do mundo: Boréo
e Sumatra. Suas espetaculares flora e fauna estão
sucumbindo devido ao crescimento explosivo da indústria
florestal e do comércio internacional de
animais que consome tigres, macacos e espécies
de tartarugas para alimentos e remédios em
outros países. Populações de
orangotangos, encontradas apenas nessas florestas,
estão em dramático declínio.
Alguns dos maiores refúgios de espécies
de rinocerontes do sudeste asiático são
também encontrados nas ilhas de Java e Sumatra.
Assim como ocorre na maioria das áreas tropicais,
suas florestas estão sendo dizimadas para
usos comerciais. A produção de borracha,
óleo de dendê e celulose são
os três principais fatores que levam à
degradação e destruição
da biodiversidade de Sunda. Em Sumatra, o corte
e extração insustentável e
ilegal de madeira e outros produtos florestais são
generalizados para abastecer a alta demanda da China,
América do Norte, Europa e Japão.
Hoje, apenas cerca de 7% da extensão original
da floresta permanecem mais ou menos intactos.
4 – Filipinas (Ásia-Pacífico)
Mais de 7.100 ilhas estão
dentro das fronteiras do hotspot das Filipinas,
identificado como um dos países mais ricos
em biodiversidade do mundo. Diversas espécies
endêmicas estão confinadas a fragmentos
de florestas que cobrem apenas 7% da extensão
original do hotspot. Isso inclui cerca de 6 mil
espécies de plantas e diversas espécies
de aves tais como a águia das Filipinas (Pithecophaga
jefferyi), a segunda maior águia do mundo.
Anfíbios endêmicos são também
extraordinariamente grandes e ostentam espécies
únicas tais como o sapo voador pantera (Rhacophorus
pardalis), que passou por diversas adaptações
para planar, incluindo abas extras na pele e membranas
entre os dedos para gerar elevação
ao planar. As florestas filipinas são também
uma das áreas em maior perigo de destruição.
Historicamente devastadas pela atividade madeireira,
os hoje poucos remanescentes estão sendo
dizimados pela agricultura e para acomodar as necessidades
da alta taxa de crescimento populacional e severa
pobreza rural do país. O sustento de cerca
de 80 milhões de pessoas depende principalmente
de recursos naturais provenientes das florestas.
5 – Mata Atlântica (América
do Sul)
A Mata Atlântica se estende
por toda a costa atlântica brasileira, alongando-se
para partes do Paraguai, Argentina e Uruguai, incluindo
também ilhas oceânicas e o arquipélago
de Fernando de Noronha. A Mata Atlântica abriga
20 mil espécies de plantas, sendo 40% delas
endêmicas. Ainda assim, menos de 10% da floresta
permanece de pé. Mais de duas dúzias
de espécies de vertebrados ameaçadas
de extinção – listadas na categoria
“Criticamente em Perigo” - estão lutando
para sobreviver na região, incluindo micos-leões-dourados
e seis espécies de aves que habitam uma pequena
faixa da floresta no Nordeste. Começando
com o ciclo da cana-de-açúcar, seguido
das plantações de café, a região
vem sendo desmatada há centenas de anos.
Agora, a Mata Atlântica está enfrentando
pressão por conta da crescente urbanização
e industrialização do Rio de Janeiro
e São Paulo. Mais de 100 milhões de
pessoas, além da indústria têxtil,
agricultura, fazendas de gado e atividade madeireira
da região dependem do suprimento de água
doce desse remanescente florestal.
6 – Montanhas do Centro-Sul da
China (Ásia)
As Montanhas do Centro-Sul da
China apresentam uma ampla gama de hábitats
incluindo a flora temperada com a maior taxa de
endemismo no mundo. O ameaçado panda gigante
(Ailuropoda melanoleuca), que é quase totalmente
restrito a essas pequenas florestas, é a
bandeira da conservação da região.
Essas montanhas também alimentam a maioria
dos sistemas hídricos da Ásia, incluindo
diversas ramificações do rio Yangtze.
O Rio Mekong corta a província de Yunnan
e o Laos, o Camboja e o Vietnã em seu curso
até o mar do sul da China. O Nujiang atinge
o Oceano Índico pela província de
Yunnan e Burma. As atividades ilegais de caça,
coleta de lenha e pastagem são algumas das
principais ameaças à biodiversidade
da região. A construção da
maior barragem do mundo, a de Três Gargantas,
no rio Yangtze, já ameaçou e continua
ameaçando fortemente a biodiversidade da
área. A construção de barragens
está sendo planejada em todos os rios principais
da floresta, o que deve afetar os ecossistemas e
a subsistência de milhões de pessoas.
Ao todo, apenas cerca de 8% da extensão original
do hotspot permanecem em condições
inalteradas.
7 – Província Florística
da Califórnia (América do Norte)
A Província Florística
da Califórnia é uma zona de clima
do tipo mediterrâneo, que possui altos índices
de plantas endêmicas. É o lar da sequoia
gigante, o maior organismo vivo do planeta, e alguns
dos últimos condores da Califórnia,
a maior ave da América do Norte. É
o local de maior reprodução de aves
dos Estados Unidos. Diversas espécies de
grandes mamíferos antes encontrados nesse
local estão extintas, incluindo o urso cinzento
(Ursus arctos), que aparece na bandeira da Califórnia
e tem sido símbolo do estado há mais
de 150 anos. A vasta destruição causada
pela agricultura comercial é uma grande ameaça
para a região, que gera metade de todos os
produtos agrícolas utilizados pelos consumidores
dos EUA. O hotspot é também fortemente
ameaçado pela expansão de áreas
urbanas, poluição e construção
de estradas, o que tornou a Califórnia um
dos quatro estados mais ambientalmente degradados
do país. Hoje, apenas cerca de 10% da vegetação
original permanecem mais ou menos intacta.
8 – Florestas Costeiras da África
Oriental (África)
Apesar de pequenos e fragmentados,
os remanescentes que formam as Florestas Costeiras
da África Oriental contêm níveis
extraordinários de biodiversidade. As 40
mil variedades cultivadas da violeta africana, que
forma a base de um comércio global de folhagens
que movimenta US$100 milhões anualmente,
são todas derivadas de um punhado de espécies
encontradas nas florestas costeiras da Tanzânia
e do Quênia. Cerca de 200 mamíferos
são encontrados no hotspot, sendo 11 endêmicos,
incluindo o musaranho-elefante (Rhynchocyon chrysopygus).
Os primatas são espécies-símbolo
para esse hotspot, incluindo três espécies
de macacos endêmicos, duas das quais podem
ser encontradas ao longo do rio Tana, que corta
o Quênia Central. A expansão agrícola
continua sendo a maior ameaça para as Florestas
Costeiras da África Oriental. Devido à
pobre qualidade do solo e a uma tendência
de crescimento populacional, a agricultura de subsistência,
assim como as fazendas comerciais, continua a consumir
mais e mais dos recursos naturais da região,
com apenas 10% restante das florestas originais.
9 - Madagascar e ilhas do Oceano
Índico (África)
Este hotspot é um exemplo
vivo da evolução de espécies
em isolamento. Apesar da proximidade com a África,
as ilhas não compartilham quaisquer dos grupos
típicos de animais do continente vizinho.
Ao invés disso, elas contêm uma exuberante
coleção única de espécies,
com altos níveis de endemismo. Madagascar
e o grupo de ilhas vizinhas possuem um total impressionante
de oito famílias de plantas, quatro famílias
de aves e cinco famílias de primatas que
não existem em nenhum outro lugar da Terra.
As mais de 50 espécies de lêmures de
Madagascar são os carismáticos embaixadores
para a conservação da ilha, embora
diversas espécies já tenham entrado
em extinção. Em uma área que
é das mais prejudicadas economicamente no
mundo, a alta taxa de crescimento populacional está
colocando uma enorme pressão sobre o ambiente
natural. A agricultura, a caça e a extração
não sustentável de madeira, além
da mineração em grande e pequena escalas,
são ameaças crescentes. Estima-se
que restam apenas 10% do hábitat original.
A proteção desses remanescentes é
de suma importância já que metade da
população não tem acesso adequado
à água doce.
10 – Florestas de Afromontane
(África Oriental)
As montanhas do hotspot de Afromontane
Oriental são dispersas ao longo da extremidade
oriental da África, desde a Arábia
Saudita ao norte até o Zimbábue ao
sul. Embora geograficamente dispersas, as montanhas
que compreendem esse hotspot possuem flora extraordinariamente
similar. O gênero de árvore mais frequente
é o Podocarpus, embora o Juniperus seja encontrado
em florestas mais secas da África nordeste
e oriental. Uma zona de bambu é normalmente
encontrada entre as altitudes de 2 e 3 mil metros,
acima da qual existe uma zona de floresta Hagenia,
até uma altitude de 3.600 metros. O Vale
do Rift abriga mais mamíferos, aves e anfíbios
endêmicos do que qualquer outra região
da África. O evento geográfico que
criou as montanhas desse hotspot também gerou
alguns dos mais extraordinários lagos do
mundo. Devido aos grandes lagos, um grande montante
de diversidade de peixes de água doce pode
ser encontrado na região, que é o
hábitat de 617 espécies endêmicas.
Assim como na maioria das áreas tropicais,
a principal ameaça a essas florestas é
a expansão da agricultura, especialmente
com grandes plantações de banana,
feijão e chá. Outra ameaça
relativamente nova, que coincide com o aumento da
população, é o crescente mercado
de carne. Hoje, apenas 11% de seu hábitat
original permanecem intacto.