26/10/2011
Maria Carla Borba
No início de 2012, as famílias do
assentamento Patativa do Assaré vão
beber, pela primeira vez, água potável
dessalinizada e produzir peixe na região
semiárida pernambucana. Para isso, o Ministério
do Meio Ambiente (MMA), em conjunto com a Prefeitura
de Ouricuri, as Embrapas
Semiárido e Meio Ambiente, a Associação
Técnico-Científica Ernesto Luiz de
Oliveira Júnior (Atecel) da Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG) e o Núcleo
Estadual do Programa Água Doce de Pernambuco
- coordenada pela Secretaria de Recursos Hídricos
e Energético -, iniciou nesta terça-feira
(25/10) a instalação de uma Unidade
Demonstrativa (UD) do Programa Água Doce
na comunidade.
As equipes dos órgãos
envolvidos no programa estão na região
para demarcar a área de dois hectares na
qual será instalada a UD. Patativa do Assaré
integra os 982.563,3 quilômetros quadrados
(11% do total do território nacional) do
s emiárido brasileiro, local de água
escassa e salobra, com solo formado por rochas de
cristalino, cuja rigidez muitas vezes impede a perfuração
de poços para retirada do mineral e favorece
a desertificação do solo. Situado
a 200 km de Petrolina e a 12 de Ouricuri, o assentamento
vai abrigar uma UD completa, que deverá ficar
pronta em três meses.
A coordenadora de Convênios
da Prefeitura de Ouricuri, Valdenora Freire, disse
que a UD do assentamento beneficiará uma
comunidade que sofre para obter água potável.
Segundo ela, na região há, ao todo,
22 assentamentos e uma população de
67 mil habitantes. "Lideranças de vários
assentamentos vieram à Prefeitura pedir ao
governo para implantar UDs em suas comunidades",
informou. A iniciativa, que faz parte do Programa
Água para Todos do Plano Brasil Sem Miséria,
assumiu a meta de aplicar a metodologia do programa
na recuperação, implantação
e gestão de 1.200 sistemas de dessalinização
até 2014 e beneficiar, com isso, 500 mil
pessoas, com investimentos de R$ 168 milhões.
Para cumprir a meta, novas unidades
serão inauguradas a partir do próximo
mês. Cinco estão prontas. A previsão
é de que entrem em operação
ainda este ano, para beneficiar mais de mil
habitantes do semiárido nordestino. Na comunidade
Calumbi, com 500 habitantes e situada em Tauá,
Ceará, será inaugurada uma UD. Nos
municípios paraibanos de Aroeiras e Sumé,
mais duas: uma UD na comunidade de Cachoeira Grande
e outra na de Tigre.
No semiárido pernambucano,
serão inauguradas mais duas UDs: uma na Agrovila
08 DNOCS e outra na comunidade de Atalho. As comunidades
abrigam cerca de 500 habitantes e estão situadas,
respectivamente, em Ibimirim e em Petrolina. Ao
todo o governo investiu R$ 600 mil na construção
dessas cinco UDs. Foram financiadas pelo Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),
com exceção da unidade da comunidade
de Atalho, financiada pela Fundação
Banco do Brasil.
Ouricuri - A unidade de Patativa
do Assaré vai ocupar dois hectares de um
espaço coletivo do assentamento do Incra
e seu poço deverá produzir uma vazão
de mais de cinco mil litros por hora. De acordo
com o diretor do Departamento de Revitalização
de Bacias Hidrográficas da
Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente
Urbano do MMA, Renato Ferreira, o assentamento Patativa
do Assaré é um dos poucos locais do
semiárido pernambucano com todas as condições
previstas no Programa Água Doce para instalação
de um sistema produtivo integrado completo.
"Além de apresentar
todas as características exigidas o poço
do assentamento tem uma vazão acima do mínimo
recomendado de 2 mil litros por hora; qualidade
química adequada do concentrado da dessalinização;
solo com propriedades compatíveis com o sistema
de irrigação da erva sal (textura,
profundidade, relevo/declividade); disponibilidade
de área para implantação do
sistema (com titularidade pública); presença
de exploração pecuária (caprinos/ovinos);
presença de comunidade com experiência
cooperativa", disse.
Segundo ele, as UDs são
uma forma de gerar água potável, aumentar
a segurança alimentar com a produção
da tilápia e o aumento de renda com a engorda
do gado ovino e caprino que será alimentado
com a forrageira erva-sal - planta típica
da Austrália introduzida no processo de dessalinização
da água e preservação do solo.
Como funciona - O sistema produtivo
é formado por dois viveiros para criação
de tilápia, um tanque para reciclagem do
concentrado enriquecido em matéria orgânica
(um hectare) e uma área irrigada para cultivo
da erva-sal (um hectare), além de uma área
para a fenação. A
água subterrânea salina é captada
de um poço tubular profundo e armazenada
em um reservatório de água bruta.
Em seguida passa pelo dessalinizador, que por meio
da osmose inversa separa o sal da água que
será potável.
Diferentemente do que ocorre comumente
na região do semiárido, em que a água
é retirada dos poços e, depois de
usada, lançada no solo sem nenhum tratamento
e, com isso, favorecendo cada vez mais a salinização
e a desertificação da região,
o uso do dessalinizador faz o contrário:
ele dessaliniza a água e recicla o rejeito
produzido pelo sistema de
abastecimento.
De acordo com o método,
água salgada é usada como adubo e
alimento e a dessalinizada é usada no consumo
diário pela população e para
irrigação. No processo, metade da
água retirada é dessalinizada e armazenada
num reservatório de água potável
e a outra metade se torna um concentrado salinizado
que é enviado a tanques de criação
de tilápia - peixe que se adapta com facilidade
tanto à água doce como à água
salgada. Periodicamente a água desses tanques
é trocada e esse rejeito, em vez de ser lançado
no solo, é enriquecido de matéria
orgânica e aproveitado na agricultura.
+ Mais
Governo apoia consórcios
públicos para Planos de Resíduos Sólidos
26/10/2011
Aída Carla de Araújo
O apoio aos Estados, Distrito Federal, Consórcios
Públicos e Municípios para a elaboração
dos Planos de Resíduos Sólidos já
foi formalizado pelo Ministério do Meio Ambiente.
O edital de Chamada Pública da Secretaria
de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano já
está disponível no sítio eletrônico
do Ministério: www.mma.gov.br desde o início
da semana.
Esta Chamada Pública, de
acordo com a Lei nº 12.305 de 02 de Agosto
de 2010 e seu Decreto Regulamentador nº 7.404
de 23 de Dezembro de 2010, que deram origem à
Política Nacional de Resíduos Sólidos,
estará recebendo as propostas de apoio à
elaboração dos Planos de Resíduos
Sólidos até o dia 18 de novembro deste
ano.
Pela justificativa do Governo,
isso se faz necessário frente ao processo
acelerado de urbanização que o Brasil
passou no último século. Nas primeiras
décadas do século XX a maioria da
população brasileira vivia na zona
rural e em poucas décadas, com o processo
de industrialização e a migração
para os centros urbanos, o País tornou-se
predominantemente urbano.
Em 2000 a população
urbana chegou a 81,3% da população
total. Esta rápida inversão provocou
um enorme déficit no serviço de limpeza
urbana e manejo de resíduos sólidos.
É preocupante a quantidade de galpões
de triagem, pontos de entrega voluntária,
aterros sanitários etc, financiados pelo
Governo que, depois de implantados, são abandonados,
resultando em desperdício de recursos e prejuízos
sociais e ambientais.