Brasília (28/10/2011) -
Avistar um peixe-boi nos rios e lagos da Amazônia
é um evento muito raro. Apesar de subir regularmente
à superfície para respirar, este animal
de 300 quilos possui hábitos bem discretos.
O segredo é não chamar muito a atenção,
já que o menor ruído pode fazer com
que os animais dispersem, tornando a tentativa de
avistamento frustrada. Mas três
desses indivíduos foram avistados no rio
Negro, Amazonas.
O resultado é fruto do
projeto coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa
e Conservação da Biodiversidade Amazônica
(Cepam/ICMBio) e o Instituto de Pesquisas Ecológicas
(Ipê) intitulado “Peixe-boi-amazônico:
Pesquisa e Conservação no Mosaico
de Unidades de Conservação do Baixo
Rio Negro/AM”, que está mapeando as áreas
de uso e alimentação do mamífero
e monitorando a qualidade da água nos lagos
da região estudada.
Desenvolvido em parceria com o
Centro de Mamíferos Aquáticos (CMA/ICMBio,
a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e o Instituto
de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
(IDSM), o projeto também realiza ações
de educação ambiental na região
de Novo Airão, no Amazonas.
Segundo a pesquisadora do IPÊ
e coordenadora científica do projeto Cristina
Tófoli, quase não existem informações
sobre os peixes-bois da Amazônia em vida livre.
“O que temos são informações
de animais de cativeiro. Ainda não temos
estimativas confiáveis do tamanho da população
dessa espécie no Parque Nacional de Anavilhanas,
que é uma área importante por ser
central e contígua à quase todas as
unidades de conservação do Baixo Rio
Negro”, afirmou. Avistar três indivíduos
foi considerado um grande feito já que o
peixe-boi é um animal tímido e quase
ninguém consegue ver.
Um das novidades do projeto foi
a utilização de um sonar com a finalidade
de estimar o tamanho da população.
Em parceria com o IDSM, o projeto desenvolve um
protocolo de uso do equipamento com testes em campo
realizados em julho e agosto em Mamirauá.
Até o final do ano, o equipamento deve ser
testado nos lagos do parque.
Na próxima expedição,
prevista para o final de outubro, a equipe vai realizar
o monitoramento da qualidade da água dos
lagos e colher amostras de possíveis espécies
de plantas presentes na dieta dos peixes-bois.
Segundo a coordenadora técnica
do projeto, Luciana Crema, esta coleta é
de extrema importância, uma vez que permitirá
a comparação dos dados da estação
seca com os dados já obtidos em maio, durante
a cheia dos rios. “Isto nos possibilitará
analisar a variação sazonal das características
físicas e químicas da água
no ambiente em que vivem os peixes-boi, além
de ampliar o conhecimento sobre a sua dieta”, frisa
Crema.
Vale destacar que o peixe-boi
da Amazônia está classificado como
“vulnerável” na Lista Nacional de Espécies
da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção
e no Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas
da Fauna e Flora.
O declínio drástico
da população de peixes-bois tem ocorrido
em virtue da caça, baixa taxa reprodutiva
da espécie e destruição de
seus habitats. Pesquisas como esta são relevantes
para que se possa ter ideia do quantitativo populacional
destes animais na natureza e auxiliar no desenvolvimento
de ações de conservação,
principalmente as previstas no Plano de Ação
Nacional de Sirênios.
+ Mais
PAN Primatas do Nordeste fecha
rol de espécies ameaçadas de extinção
na Mata Atlântica
Brasília (31/10/2011) -
Plano de Ação Nacional para Conservação
(PAN) dos Primatas do Nordeste. Este é o
mais novo PAN que, juntamente com o PAN dos Mamíferos
da Mata Atlântica Central e dos Muriquis,
abarca todas as espécies de primatas ameaçadas
de extinção na Mata Atlântica
– que correspondem a 50% dos mamíferos brasileiros
considerados criticamente ameaçados.
O plano atenderá a cinco
espécies ameaçadas de extinção
- macaco-prego-galego (Cebus flavius), guariba-de-mãos-ruivas
(Alouatta belzebul), guigó-da-Caatinga (Callicebus
barbarabrownae), guigó-de-Coimbra-Filho (Callicebus
coimbrai) e macaco-prego-do-peito-amarelo (Cebus
xanthosternos) – em áreas que englobam os
estados do Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.
O documento tem como objetivo
ampliar o habitat disponível para esses animais
e reduzir os conflitos sócio-ambientais na
área, como caça e tráfico,
a fim de garantir populações viáveis
para as espécies-alvo. “Esta é uma
marca de relevância mundial”, comemora Leandro
Jerusalinsky, o coordenador do CPB/ICMBio.
Segundo ele, a Mata Atlântica
é considerada um dos hot spots de biodiversidade
do planeta, devido ao grande número de espécies
endêmicas, ou seja, que só são
encontradas nesse bioma e também ao alto
nível de ameaça sobre elas. “Os primatas
contribuem decisivamente para esse status, porque
23 de suas espécies apresentam ocorrência
nesse bioma, sendo 16 delas endêmicas e 65%
ameaçadas de extinção”, acrescenta
Leandro.
O terceiro PAN de primatas foi
construído entre os dias 19 e 21 de outubro,
pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação
de Primatas Brasileiros (CPB) em oficina de trabalho
no Hotel Ouro Branco, em João Pessoa, na
Paraíba. O trabalho integrou a programação
da semana em comemoração ao décimo
aniversário do centro.
PAN dos Mamíferos da Mata
Atlântica Central
Nos dias 16 e 17 de outubro, no mesmo local, o Centro
coordenou a primeira reunião de monitoria
referente ao PAN dos Mamíferos da Mata Atlântica
Central, que abrange os estados da Bahia, São
Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e partes
de Minas Gerais e do Paraná. O Plano atende
a 27 espécies – incluindo 13 primatas – ameaçadas
de extinção. Na ocasião, foram
apresentados os resultados parciais das ações
atribuídas a cada entidade envolvida no PAN,
aprovado em dezembro de 2010.
“A avaliação foi
positiva, mas percebemos que precisamos avançar
em alguns pontos, como a captação
de recursos junto ao governo e empresas interessadas
em abraçar a ideia”, pondera Leandro. De
acordo com Leandro para ser plenamente executado,
o PAN precisa de mais de R$ 50 milhões. “Temos
de considerar que se trata de uma iniciativa para
salvar 27 espécies ameaçadas e ainda
beneficiar várias outras, que não
correm risco ou não são mamíferos,
mas também habitam a área assistida
e poderão desfrutar das medidas de conservação”,
avalia o coordenador.
Nova logomarca e exposição
itinerante
Celebrado no dia 18 de outubro, o aniversário
dos 10 anos do CPB foi marcado pelo lançamento
da nova logomarca da entidade, inspirada no macaco
Alouatta – gênero conhecido pela poderosa
vocalização e que está presente
em todos os estados brasileiros, com exceção
de Sergipe, onde foi extinto.
A imagem do Alouatta evoca significado
particularmente especial para o Centro, uma vez
que a fundação da entidade foi motivada
pelo sucesso de um projeto de repovoamento de indivíduos
do gênero na Reserva Biológica Guaribas,
situada nos municípios de Mamanguape (PB)
e Rio Tinto (PB).
O evento inaugurou ainda a exposição
itinerante “Primatas Brasileiros: Diversidade, Pesquisa
e Conservação”, composta por banners
sobre a variedade de espécies encontradas
no território nacional e o papel do CPB ao
longo da última década para a conservação
desta significativa porção da fauna
brasileira. A mostra, que deverá passar por
ambientes e cenários diversos – como shoppings,
universidades e aeroportos –, também integrará
a programação do XIV Congresso Brasileiro
de Primatologia, previsto para entre 13 e 16 de
dezembro em Curitiba (PR).