23/01/2013 - 19h04
Meio Ambiente Nacional
Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília - Índios Pukobjê-Gavião
da Terra Indígena Governador, em Amarante
(MA), apreenderam, na semana passada, quatro
caminhões e um trator que transportavam
cerca de 20 metros cúbicos de ipê
e de sapucaia derrubados por madeireiros que
atuavam irregularmente no interior da terra
indígena, localizada a cerca de 110
quilômetros de Imperatriz. Com medo
de represálias dos madeireiros, os
índios pedem a presença da Polícia
Federal na reserva indígena.
A apreensão provocou
revolta de moradores da cidade e continua
gerando medo entre os índios, que,
mesmo assim, prometem agir para impedir que
os madeireiros continuem agindo impunemente
no interior da terra indígena. "Estava
demais. Eles estavam se aproximando cada vez
mais das nossas aldeias, nos desrespeitando
e levando nossas árvores", disse
à Agência Brasil, por telefone,
Ubirajara Guará, cacique da Aldeia
Nova, uma das três existentes no interior
da reserva.
Os Pukobjê-Gavião
temem que, sem a presença da Polícia
Federal (PF) na área, os madeireiros
prejudicados pela iniciativa indígena
cumpram os boatos que tem corrido na cidade.
"Andam dizendo que madeireiros prometeram
pegar um por um os líderes das três
aldeias. Isso quem disse foram as pessoas
de fora da aldeia com quem temos contato.
Tememos que aconteça algo como o que
já ocorre em várias partes do
país, onde índios são
mortos. Por isso pedimos a presença
da Polícia Federal”, disse o cacique.
Ubirajara afirma que ao
menos um índio foi agredido durante
os tumultos ocorridos em Amarante na semana
passada e que, esta semana, desconhecidos
sabotaram o fornecimento de energia elétrica
para a Aldeia Nova e espalharam tábuas
com pregos na estrada próxima à
entrada da Aldeia Governador. Além
disso, alguns comerciantes deixaram de atender
aos índios.
Inicialmente, nem os próprios
policiais federais e fiscais do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama) escaparam
de ser alvo dos protestos de pessoas contrárias
à iniciativa indígena. Procurada,
a assessoria da PF revelou que uma das viaturas
policiais foi atingida por dois tiros durante
os protestos da semana passada.
O gerente executivo substituto
do Ibama em Imperatriz, Felippe Dias Lucas,
disse à Agência Brasil que ele
e outro fiscal ambiental, além de seis
policiais federais, foram impedidos, por falta
de segurança, de levar para Imperatriz
(MA) os caminhões e o trator apreendidos
pelos índios, tendo que permanecer
na aldeia até que policiais militares
deslocados de cidades próximas chegassem
à Amarante. Segundo Lucas, ao menos
60 pessoas participavam dos protestos e muitas
estavam visivelmente alcoolizadas.
“Fomos acionados pelos próprios
índios e chegamos à aldeia por
volta do meio-dia do dia 15. Só então
soubemos da manifestação na
cidade e que populares, provavelmente incitados
por madeireiros, tinham feito uma barreira
na estrada que liga a aldeia ao município.
O delegado federal tentou negociar com alguns
manifestantes o fim do bloqueio, mas como
não obteve sucesso, tivemos que permanecer
na aldeia até a madrugada do dia seguinte,
quando chegou reforço policial e o
número de manifestantes diminuiu”,
disse o gerente executivo a Agência
Brasil.
Após essa primeira
tentativa, as autoridades retornaram a Amarante
na madrugada de quinta-feira (17). Dessa vez
o grupo era formado por 16 agentes federais,
30 policiais militares e servidores da Fundação
Nacional do Índio (Funai). Segundo
a assessoria da PF em Imperatriz, o aparato
policial serviu para coibir novos protestos
e o grupo, enfim, conseguiu transferir os
veículos apreendidos para o pátio
da Funai, em Imperatriz. Já a madeira
extraída ilegalmente permanece na aldeia,
à espera de que o Ibama conclua o processo
de apreensão.
Esta não é
a primeira vez que algo parecido ocorre em
Amarante. Em 2010, homens armados invadiram
a aldeia Rubiácea, na mesma Terra Indígena
Governador, para tentar recuperar três
caminhões carregados de madeira ilegal
apreendidos durante a Operação
Arco de Fogo, do Ibama.
“Naquela e em outra regiões
do estado há poucas áreas com
potencial para fornecer madeira legalmente.
Isso faz com que a pressão sobre as
terras indígenas e outras áreas
de proteção ambiental seja muito
grande. Além disso, a Terra Indígena
Governador é um alvo fácil,
já que fica muito próxima a
Amarante”, explica Lucas.
Para o missionário
do Conselho Indigenista Missionário
(Cimi) no Maranhã, os órgãos
responsáveis, sobretudo a Funai, não
está conseguindo dar uma resposta satisfatória
aos problemas da Terra Indígena Governador.
“Daí os próprios índios
estarem tomando suas medidas. Só que,
com isso, a tensão tem crescido e o
clima de animosidade de parte da população
contra a comunidade está crescendo”.
Ubirajara disse que como
as autoridades dificilmente conseguiam flagrar
a extração ilegal de madeira
na terra indígena, os Pukobjê-Gavião
decidiram criar grupos para vigiar a área.
“Nossa impressão é que os madeireiros
eram avisados da operação e,
por isso, os governos gastavam um dinheirão
e nunca pegavam ninguém. Por isso montamos
nossa própria estratégia. Não
temos poder para prender ou multar ninguém,
mas podemos apreender o material de quem está
acostumado a ganhar dinheiro fácil
desrespeitando nossa terra e comunicar as
autoridades”.
Para evitar retaliações,
a comunidade está limitando o acesso
de pessoas estranhas ao interior da reserva,
interrompendo após as 18 horas o tráfego
de veículos pela estrada que corta
a terra indígena e que liga Amarante
a Campo Formoso. De acordo com o cacique,
a passagem só é permitida à
ambulâncias e em casos de emergência.
Questionada sobre o assunto,
a assessoria da PF informou que a delegacia
de Imperatriz tem apenas 22 agentes, um efetivo
pequeno para viabilizar operações
permanentes no interior da reserva indígena.
A PF assegurou ainda que, sempre que acionada
ou necessário, realiza ações
pontuais, mas que não há, por
enquanto, nenhum plano sendo discutido em
função do medo dos índios
de sofrerem represálias.