Notícia - 15 - mai
– 2013 - Arrecadação recorde
em Rodada de Licitação deixa
claro quais são as escolhas energéticas
para o Brasil
Mapa com os blocos licitados
no Maranhão e no Piauí mostra
a proximidade destes com Unidades de Conservação
(©Greenpeace)
A 11ª Rodada de Licitação
da ANP (Agência Nacional de Petróleo,
Gás Natural e Biocombustíveis)
que estava prevista para acontecer nos dias
14 e 15 de maio (terça-feira e quarta-feira,
respectivamente) terminou antes do imaginado.
Ontem mesmo foi anunciado o resultado de arrecadação
recorde de R$2,8 bi. Muitos devem estar comemorando
o investimento que entra no país, mas
um olhar mais atento revela que não
serão apenas bons frutos que renderão
deste dinheiro.
Esta Rodada marcou o reinício
das atividades de concessão de petróleo
no país, paradas desde 2008, quando
as descobertas do pré-sal foram anunciadas
na Bacia de Santos e o governo suspendeu as
licitações para rediscutir o
regime de exploração.
Esse investimento bilionário
foi utilizado, principalmente por grupos estrangeiros,
para arrematar 143 blocos exploratórios
em 11 bacias sedimentares no Brasil. A ANP
estima que os blocos em terra e em mar, situados
principalmente em território inexplorado
no norte e nordeste do país, tem reservas
estimadas em 9,1 bilhões de barris,
pouco mais de 10% do que estima-se existir
no pré-sal brasileiro, uma das maiores
reservas mundiais.
A gigante petroleira britânica
BP, responsável pelo maior acidente
da história no Golfo do México,
venceu junto com a Petrobras, Total e Petrogal,
seus sócios, as licitações
de oito blocos em águas profundas na
costa brasileira, incluindo vários
na bacia da Foz do Amazonas. A região
é uma das mais frágeis e desconhecidas
da nossa costa.
“Parece que o Brasil não
aprendeu mesmo a lição de que
a exploração de petróleo
não é uma tarefa simples e segura”,
afirma Renata Nitta, da Campanha de Clima
e Energia do Greenpeace Brasil. Ela ainda
completa, “o país continua depositando
suas esperanças econômicas no
óleo negro que parece valer ser explorado
a qualquer custo.”
Em outra regiões
do país, a situação não
foi muito melhor. A filial da norueguesa Statoil
arrematou os seis blocos oferecidos na bacia
marítima do Espírito Santo.
A região é área de influência
para proteção do banco de Abrolhos,
região que abriga rica biodiversidade
marítima e local de reprodução
das baleias jubarte.
Dessa maneira a petroleira
entra, junto com a Perenco, no clube das empresas
que colocam os corais de Abrolhos e a área
de reprodução de baleias do
cone sul vulneráveis a acidentes e
vazamentos. Em terra, a encrenca também
é grande. Os blocos terrestres licitados
nos estados do Piauí, Maranhão,
Alagoas e Bahia estão sobrepostos a
76 assentamentos da reforma agrária.
“Este novo leilão
pode levar o Brasil para mais uma aventura
em alto mar, em regiões sensíveis
do nosso litoral”, diz Renata. Para piorar,
o governo decide permitir a exploração
com tecnologia do passado, parte das plataformas
foram construídas há 30 ou mais
anos, aumentando a probabilidade de termos
acidentes, ela continua.
Também seguimos sem
um Plano Nacional de Contingência, instrumento
que poderia nos ajudar a ter um maior controle
do que acontece na exploração
de petróleo, uma vez que o governo
segue investindo em óleo e gás.
Devido a todos esses problemas, o Greenpeace
lançou o site Lataria, observatório
que monitora as plataformas antigas da região
do pré-sal e apresenta seus dados e
histórico de acidentes.
“O risco de acidentes deveria
incentivar uma mudança para uma matriz
energética mais limpa. Os investimentos
em petróleo poderiam, por exemplo,
ir para energia eólica e solar”, conclui
Renata.
+ Mais
Plataformas mais velhas
concentram acidentes em alto mar
Notícia - 13 - mai
– 2013 - Cerca de 62% dos acidentes da exploração
de petróleo offshore aconteceram em
plataformas com mais de trinta anos. Novo
site do Greenpeace vai monitorar ocorrências
no pré-sal
Anunciado como uma nova
fonte de riquezas para o país, o pré-sal
está longe de ser um pote de ouro do
outro lado do arco-íris. As dificuldades
técnicas para extrair óleo a
uma profundidade de sete quilômetros
abaixo do nível do mar tornam a operação
altamente arriscada. Mesmo assim, o governo
entrou nessa empreitada com tecnologia do
passado.
Aproximadamente uma a cada
três plataformas atualmente em operação
no Brasil foram construídas há
30 anos ou mais e representam maior probabilidade
de vazamentos. Dos 102 acidentes registrados
no Brasil desde o ano 2000 na exploração
petrolífera offshore, 62% aconteceram
nas plataformas mais velhas.
Essas são algumas
das informações que o site “Lataria”,
lançado nesta segunda-feira pelo Greenpeace
Brasil, traz a público para romper
a falta de transparência peculiar da
indústria do petróleo. A proposta
do site é monitorar as ocorrências
nas plataformas mais velhas do pré-sal,
facilitando a interpretação
de dados sobre os acidentes. O site pode ser
acessado por meio do link: www.greenpeace.org.br/lataria
Riscos ignorados
Uma das maiores empresas
de serviços de perfuração
marítima do mundo, a Transocean estima
que a vida útil das plataformas é
de 18 a 35 anos. Mesmo assim, uma de suas
plataformas que operavam no pré-sal,
a Sedco 706, já completou 37 anos de
vida útil. Essa é a mesma plataforma
que, operada pela Chevron, protagonizou em
novembro de 2011 o maior vazamento de petróleo
no mar brasileiro, na costa norte do Estado
do Rio.
“O acidente com a Sedco
706 expôs o óbvio: o Brasil deu
largada à corrida maluca pelo pré-sal
sem tecnologia adequada e sem capacidade de
controlar um vazamento de grandes proporções”,
disse Ricardo Baitelo, coordenador da campanha
de Clima e Energia do Greenpeace.
Como se os acidentes que
já aconteceram no país não
bastassem e ignorando o enorme potencial brasileiro
de energias renováveis ainda inexplorado,
a ANP (Agência Nacional de Petróleo)
realizará a 11a rodada de licitações
de blocos exploratórios nos dias 14
e 15 de maio. Dos 289 blocos que serão
oferecidos em 11 bacias sedimentares, 166
estão localizados no mar, sendo mais
da metade em águas profundas.
De acordo com Baitelo, o
Brasil necessita urgentemente de um Plano
Nacional de Contingência, que fiscalize
e estabeleça as medidas necessárias
a serem tomadas em caso de acidentes. “Desde
2010 o governo promete tirar o plano do papel,
mas o Brasil segue explorando em águas
profundas sem amparo técnico e sem
a definição dos recursos humanos
e materiais necessários para evitar
novos desastres ambientais na costa do país”,
finaliza Baitelo.