Thais Alves
(23/07/2013) - Desvendar o comportamento migratório
de tartarugas em estágio inicial de
vida é o objetivo de uma das pesquisas
em desenvolvimento pelo Centro Nacional de
Pesquisa e Conservação das Tartarugas
Marinhas (Tamar), do Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio). A iniciativa, em parceria com a
Universidade Atlântica da Flórida,
sob a coordenação da pesquisadora
Kate Mansfield, investiga os primeiros momentos
de vida das tartarugas marinhas em águas
oceânicas, período que os pesquisadores
denominam "anos perdidos" - Lost
Years. Apesar de décadas de estudo,
pouco se sabe sobre o que acontece com a maioria
das espécies de tartarugas marinhas
durante esse tempo. O estudo busca investigar
para onde vão os filhotes, identificar
as áreas de berçário
e uso de habitat necessário.
O início
As primeiras três
tartaruguinhas foram soltas ao mar em novembro
de 2012 a dez quilômetros da costa da
Praia do Forte. A duração da
recepção de sinais foi de quatro,
cinco e 65 dias para cada tartaruga respectivamente.
As posições das duas tartarugas
monitoradas por poucos dias indicaram que
seguiram rumo ao sul, na mesma direção
das correntes marinhas predominantes no mês
de novembro. Uma delas se deslocou paralelamente
ao talude continental e a outra seguiu rumo
a águas oceânicas, percorrendo
uma distância de 90 quilômetros
e 145 quilômetros respectivamente.
A tartaruga monitorada por
mais tempo se deslocou em direção
sul, até o Banco dos Abrolhos. Permaneceu
vários dias em águas oceânicas
e seguiu rumo ao litoral norte da Bahia. Durante
todo o período, percorreu mais de 1700
quilômetros. Inicialmente, essa tartaruga
seguiu na mesma direção das
correntes marinhas. Já em águas
oceânicas, demonstrou autonomia, nadando
ativamente em várias direções.
Estes resultados preliminares serão
analisados conjuntamente com os resultados
das próximas duas solturas de tartarugas,
no final da temporada reprodutiva, coincidindo
com as mudanças das correntes predominantes
fora da plataforma continental.
A segunda fase da pesquisa
Nesta etapa, cinco tartaruguinhas
foram soltas no mar da Praia do Forte, na
Bahia, com transmissores durante o mês
de abril. O mapa atualizado com dados enviados
por satélite sobre o deslocamento de
uma delas está disponível no
site: http://www.seaturtle.org/
Fim da etapa de campo
A pesquisa encerrou sua
terceira fase com a interrupção
dos últimos sinais emitidos pelos transmissores
de satélite (julho/2013). A partir
de agora, terá início o processo
de análise dos dados de localização
registrados durante o deslocamento dos filhotes,
desvendando resultados relevantes sobre o
comportamento migratório de tartarugas
em estágio inicial de vida. Durante
o período de monitoramento dessa terceira
fase, os indivíduos foram até
o norte do Brasil, acompanhando a linha do
talude continental, na mesma direção
das correntes predominantes nos meses de outono.
Fêmeas adultas da espécie Caretta
caretta, popularmente conhecida como cabeçuda,
monitoradas por satélite desde as praias
de desova na Bahia, migraram até a
costa do Ceará para se alimentar, fato
muito interessante, dizem os pesquisadores,
já que as tartaruguinhas também
se deslocaram, ao menos inicialmente, na mesma
direção.
Transmissores
O estudo utiliza um transmissor,
pequeno dispositivo retangular com uma antena
(com peso de 320 a 500 gramas), que permite
obter informações sobre a localização
e movimentos do animal. O dispositivo envia
dados sobre a posição geográfica
da tartaruga, sem necessidade de recuperar
o objeto. Possui uma bateria que permite autonomia
de alguns meses até pouco mais de três
anos.
Uma vez colocado em uma
tartaruga marinha, o transmissor está
programado para enviar sinais aos satélites,
em intervalos periódicos. São
utilizados satélites de órbita
polar, que captam os sinais dos transmissores,
armazenam e retransmitem em tempo real. A
estação receptora encarregada
de receber os dados dos satélites está
conectada a centros de processamento de informações
global e regional, encarregados de receber
os dados e a localização dos
transmissores colocados nas tartarugas.
(Com informações do Tamar)