16/08/2013 - 18h14
Meio Ambiente
Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Por mais de 20 anos, o
agricultor Éder Gadioli, 51 anos, pensou
que estava descartando corretamente as embalagens
de agrotóxicos que utilizava nas plantações
de feijão, arroz e milho no município
de Roseira, a 160 quilômetros da capital
paulista. Queimava o recipiente, reutilizava
para transportar água ou descartava-o
de forma indiscriminada. “Eram coisas absurdas.
A gente não tinha informação,
não sabia o que estava fazendo”, diz
o agricultor. Há dez anos o procedimento
mudou: a embalagem é lavada três
vezes, estocada de maneira adequada e encaminhada
para centrais de reciclagem específicas.
É a chamada logística reversa.
Enquanto muitos setores
da economia estudam formas de se adequarem
à Política Nacional de Resíduos
Sólidos (Lei 12.305/2010), que impõe
à cadeia produtiva a responsabilidade
de dar a destinação correta
aos resíduos sólidos produzidos,
o setor de defensivos agrícolas já
colhe resultados de uma política implantada
há mais de dez anos sob as normas da
Lei 9.974/2000. Atualmente, 94% das embalagens
vazias estão sendo recolhidas de forma
adequada e gerando novos insumos plásticos,
inclusive novos recipientes para agrotóxicos.
Para reforçar a necessidade
de ampliar, cada vez mais, uma postura consciente
no meio rural, no próximo dia 18 agosto,
será celebrado o Dia Nacional do Campo
Limpo. As comemorações da data
tiveram início hoje (16) na cidade
de Taubaté, no Vale do Paraíba.
Na próxima semana, oficinas, palestras
e gincanas ocorrerão em escolas e comunidades
localizadas nas proximidades das 100 unidades
de recebimento das embalagens em 24 estados
do país.
“Conseguimos esses resultados
com o envolvimento de toda a cadeia produtiva,
do fabricante ao agricultor. Isso pode servir
de exemplo ao meio urbano”, destacou João
César Rando, presidente do Instituto
Nacional de Processamento de Embalagens Vazias
(inpEV), entidade que representa a indústria
fabricante.
Segundo o Ministério
do Meio Ambiente, o Brasil produz diariamente
cerca de 240 mil toneladas de lixo, grande
parte depositada de forma inadequada em lixões.
Entre 2002 e 2012, foram
retiradas do meio ambiente 260 mil toneladas
de embalagens de agrotóxicos, de acordo
com o inpEV. A destinação correta
gerou uma economia de energia suficiente para
abastecer 1,4 milhão de casas no período,
segundo levantamento da Fundação
Espaço ECO, que reúne especialistas
responsáveis pela análise da
eficiência de ações sustentáveis
implementadas por algumas empresas.
As mudanças trazidas
com a integração do sistema
agrícola facilitaram a vida de Éder.
“Hoje tenho até menos trabalho [com
os recipientes]. Antes tinha que queimar tudo,
poluía tudo, produzia muita fumaça.
Agora a gente tem a informação.
Não é só porque a lei
manda, é fazer a nossa parte mesmo”,
disse.
A nova postura dos agricultores
em relação aos agrotóxicos
está refletida na diminuição
do número de autuações
relacionadas à armazenagem e à
destinação dos resíduos
dos defensivos no interior paulista. “Elas
têm diminuído porque está
sendo feito um trabalho que é sobretudo
de educação. As pessoas agora
têm uma consciência disso. São
os próprios produtores que trazem as
embalagens”, declarou a secretária
de Meio Ambiente e Abastecimento do Estado
de São Paulo, Mônica Bergamaschi.