27 Setembro 2013 | As mudanças
climáticas estão ocorrendo mais
rapidamente, de forma mais intensiva e, em
muitos casos, em níveis sem precedentes,
de acordo com o primeiro volume do 5º
Relatório de Avaliação
do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáticas (IPCC), que trata das bases
físicas da ciência do clima,
divulgado hoje, em Estocolmo, Suécia,
na conferência que reuniu representantes
de governos de 195 países durante esta
semana. O resultado demanda ações
urgentes.
“Há poucas surpresas
no relatório, mas o aumento da certeza
sobre muitas das observações
dos cientistas apenas valida aquilo que observamos
ao nosso redor. Desde que o IPCC lançou
o seu último grande relatório,
em 2007, a perda de massas de gelo terrestre
e o aumento do nível dos oceanos se
acelerou de forma dramática, principalmente
no verão Ártico, pois a perda
de gelo é maior do que a projetada
anteriormente. Concluiu-se também que
a última década foi a mais quente
desde 1850,” afirma Samantha Smith, líder
da Iniciativa Global de Clima e Energia da
rede WWF.
Em particular, os resultados
que demonstram maiores impactos em nossos
oceanos são altamente preocupantes,
considerando-se que mais de 1 bilhão
de pessoas depende deles como sua principal
fonte de alimentos e sobrevivência.
A acidificação dos mares aumentou
em 30% desde 1900 e é provavelmente
a maior em muitos milhões de anos.
Oceanos mais quentes e mais ácidos
geram impactos severos aos peixes, recifes
de corais e a todos os ecossistemas marinhos.
“É o CO2, principalmente
gerado pela queima de combustíveis
fósseis, que se dissolve nos oceanos
e pode destruir um ecossistema que é
muito frágil, de forma irreversível”,
afirma Stephan Singer, diretor global de políticas
de energia da rede WWF. “Cabe a todos os setores
da sociedade, incluindo os atuais governantes,
agir sobre os fatos e em resposta à
ciência apresentada neste relatório,
que passou por um rigorosíssimo processo
de revisão sem precedentes,” acrescenta
Singer.
“Nós não podemos
ignorar a realidade de que precisamos agir
ou então teremos que encarar impactos
assustadores. Sabemos que a maior parte das
emissões de gases que causam o aquecimento
global vem da queima de combustíveis
fósseis. A rede WWF demanda dos governos
e investidores que parem de investir em energia
suja e que passem a uma transição
imediata para investimentos em energias renováveis
e sustentáveis,” conclui Samanta Smith.
Para o WWF-Brasil, as informações
científicas contidas no balanço
do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas,
lançado há algumas semanas,
e agora neste relatório do IPCC, lançado
hoje são mais do que suficientes para
demonstrar ao governo brasileiro que as mudanças
climáticas não podem mais ser
tratadas como tema de segunda importância
em políticas públicas. No Brasil,
temos o exemplo da realidade do clima extremo,
que agora afetando de forma crítica
o sul de São Paulo, o vale do Itajaí
e o semiárido do Nordeste.
“Temos de investir nos recursos
abundantes de fontes renováveis de
energia de baixo impacto que temos à
nossa disposição, como a energia
solar, eólica e de biomassa, em vez
de colocar 70% dos nossos investimentos em
combustíveis fósseis. O governo
federal não deve oferecer incentivos
indecentes a combustíveis como o carvão
mineral e explorar de forma precipitada o
chamado gás não convencional
(shale gas, em inglês),” afirma Carlos
Rittl, coordenador do Programa de Mudanças
Climáticas e Energia do WWF-Brasil.
“Por ora, o Brasil segue
na contramão da ciência e na
contramão da história. Nosso
país vem investindo continuamente em
grandes planos para expansão da infraestrutura,
da geração de energia, da agricultura
e pecuária e no fomento à indústria
que irão provocar aumento das emissões
de gases de efeito estufa do país,
hoje ainda um dos grandes poluidores do planeta”,
conclui Rittl.
+ Mais
Relatório IPCC mostra
a gravidade e as causas das mudanças
climáticas e WWF alerta que a hora
de agir é agora
23 Setembro 2013 | Representantes
de governos de 195 países se reúnem
de 23 a 27 de setembro em Estocolmo, Suécia,
para aprovação do texto final
do primeiro volume do Quinto Relatório
de Avaliação do Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Este volume traz informações
inéditas, técnicas e socioeconômicas
sobre a ciência do clima, impactos,
tendências e meios para combater os
problemas.
Para a líder da Iniciativa
Global de Clima e Energia da rede WWF, Samantha
Smith, o relatório traz clareza ainda
maior sobre a gravidade e urgência do
problema e a certeza inquestionável
sobre suas causas. "Mais de 800 cientistas
do mundo todo contribuíram para escrever
um relato científico convincente da
situação do planeta. O relatório
irá nos trazer uma realidade aterradora
– a Terra está se aquecendo a um ritmo
alarmante e estas mudanças de temperatura
já trazem consequências graves
às pessoas e para o mundo", afirma
Samantha. “Nosso planeta envia um sinal de
socorro muito claro, mas estamos ignorando
por conta próprio o risco iminente.
No entanto, se os governos agirem agora, de
forma abrangente e imediata, poderão
fazer algo para mudar a trajetória
perigosa em que nos encontramos,” acrescenta.
"O setor de energia
é o principal culpado pela mudança
climática descontrolada. Mas também
contém a solução para
este desafio. Espera-se que este relatório
confirme novamente que a queima de combustíveis
fósseis está impulsionando estas
perigosas mudanças no clima. A extração
de combustíveis fósseis também
é cada vez mais o vetor para a perda
direta de biodiversidade. Mas, por outro lado,
a energia renovável, produzida em bases
sustentáveis, pode ser uma solução
direta e cada vez mais acessível e
segura, com muito menos impactos sociais e
ambientais diretos", conclui Samantha.
Para o WWF-Brasil, o lançamento
deste relatório ocorre em momento crítico
paras as negociações internacionais
de clima. “Em menos de dois meses, entraremos
na 19ª Conferência das Partes da
Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança do Clima (COP19/UNFCCC),
em Varsóvia, Polônia. “É
fundamental que os negociadores ouçam
o chamado da ciência à ação
– o problema é gravíssimo, urgente
e requer decisões e ações
proporcionais, muito mais objetivas e enfáticas
do que o ocorreu até o momento nas
negociações de clima”, afirma
Carlos Rittl, coordenador do Programa de Mudanças
Climáticas e Energia do WWF-Brasil.
“Os governos de todos os países, incluindo
o Brasil, precisam enviar diplomatas com instruções
claras para chegar a acordos ambiciosos, e
não para criar obstáculos ou
prevenir decisões duras”, acrescenta.
Além de esperar um
impulso às negociações
de clima, Rittl considera que o relatório
do IPCC também reforça a mensagem
do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas,
que, nas últimas semanas, lançou
o primeiro volume de seu Primeiro Relatório
de Avaliação Nacional, demonstrando
o alto risco que o Brasil corre frente às
alterações climáticas
provocadas por ações humanas,
e chamando nossos políticos à
ação. “Continuamos em um arcabouço
de políticas de clima fragmentado,
pouco coordenado e cujos potenciais impactos
positivos para o clima do planeta sequer são
sistematicamente monitorados.
Enquanto isso, investimos
trilhões de reais, sem nenhum ou com
poucos critérios de sustentabilidade
ou de baixas emissões de carbono, em
grandes projetos de infraestrutura, em planos
para a expansão de energia baseada
em fontes fósseis e na expansão
do agronegócio”, destaca Rittl. “O
recado da ciência está diante
de nós. Nossos governantes têm,
portanto, que sair da zona de conforto, e
passar a encarar as mudanças climáticas
como um imenso desafio ao desenvolvimento
do país”, conclui Rittl.