Vanessa Bitencourt - Brasília
(16/10/2013) – Pesquisadores
de todo o país estiveram reunidos na
ACADEBio nos dias 02 e 04 de outubro, com
o objetivo de realizar a monitoria e avaliação
final do Plano de Ação Nacional
(PAN) para a Conservação do
Mutum-de-Alagoas (Pauxi mitu). Por mais de
300 anos, o mutum-de-alagoas era confundido
e até considerado como sendo o mutum-cavalo
(Pauxi tuberosa) ou até mesmo uma subespécie.
Somente em 1951, o mutum-de-alagoas foi reconhecido
como uma nova espécie, sendo protagonista
de uma história marcada por perseguições,
caças e perda de hábitat, com
a devastação da Mata Atlântica
do Nordeste, que abriu espaço para
plantação de cana-de-açúcar.
Apenas três indivíduos do mutum-de-alagoas
sobreviveram, sendo um macho e duas fêmeas,
em cativeiro, resgatados da natureza pelo
criador de aves Pedro Nardelli, constituindo-se
em um dos mais severos gargalos populacionais
conhecidos no mundo. Desde então, a
população aumentou graças
ao empenho de mantenedores que se dedicam
a reprodução destas aves (Fundação
Crax, Criadouro Científico Poços
de Caldas).
Um programa de monitoramento
genético, capitaneado pela UFSCar,
foi iniciado, visando identificar indivíduos
geneticamente puros e com os menores níveis
de similaridade genética para reprodução,
assistido por um rigoroso controle sanitário
realizado pelo setor de doença das
aves da Escola de Medicina Veterinária
da UFMG para prevenção de doenças.
Estudos revelaram que da população
existente em 2008 (121 indivíduos),
54 eram geneticamente puros.
Com isso, os melhores pareamentos
foram recomendados na tentativa de obter maior
sucesso reprodutivo. Os resultados foram surpreendentes.
De uma população de 121 animais
vivos (55 puros e 65 híbridos) em 2011,
houve um salto para 186 em 2012, com um aumento
de 55% numa única temporada. O próximo
passo será distribuir esses animais
para criadouros que irão participar
do Programa de Cativeiro: CESP, Paraíso
das Aves, Fazenda Cachoeira, Tropicus, Onça
Pintada.
Com resultados animadores
e para garantir a sobrevivência da espécie,
está em andamento um trabalho desenvolvido
pelo Instituto para Preservação
da Mata Atlântica – IPMA, USP e Ministério
Público de Alagoas para seleção
e proteção das potenciais áreas
para reintrodução da espécie
no estado. O setor sucroalcooleiro, responsável
pela maioria dos mais representativos remanescentes
de mata nativa está motivado e colabora
com o projeto "Vamos trazer esse alagoano
de volta".
Antonio Eduardo Barbosa,
analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa
e Conservação de Aves Silvestres
(CEMAVE/ICMBio) e coordenador do PAN explica
que a constante degradação e
a caça levaram à extinção
da espécie na natureza. "O mutum-do-nordeste
é uma espécie que só
existe em cativeiro. O PAN tem seu encerramento
previsto para dezembro deste ano, mas as ações
não realizadas serão incorporadas
dentro do PAN das Aves Ameaçadas da
Mata Atlântica do Nordeste", destacou.
Também foi pauta de discussão
a consolidação do programa de
cativeiro, que tem como objetivo ampliar a
população, visando à
reintrodução da espécie
na sua área de distribuição
original até 2016.
Entre os participantes da
reunião estava o ator Victor Fasano,
que há 30 anos possui o Criadouro Tropicus,
de animais em extinção, o qual
abriga principalmente a jacutinga, a harpia
e algumas espécies de cracídeos,
entre eles o mutum. Victor comenta que o trabalho
com espécies em risco de extinção
é imprescindível e que, se não
fosse a preocupação e a criação
em cativeiro de algumas espécies ameaçadas,
elas já estariam extintas. "O
mais importante é que o Estado dê
o apoio que os criadores precisam, porque,
muitas vezes eles realizam o trabalho sozinhos
e sem nenhum tipo de recurso. O mutum-de-alagoas
é um caso atípico, onde os criadores
são amigos e a parte científica,
o Estado e a educação ambiental
funcionam como um todo. Este é um projeto
que deveria ser copiado para todos os planos
de manejo de outras espécies",
afirma o ator.
Victor também frisou
que a sociedade precisa entender a importância
da conservação. "É
preciso investir muito em educação,
para que as pessoas entendam a importância
das áreas preservadas. Não adianta
a pessoa cuidar da espécie em cativeiro
sem ter como devolver essa espécie
para o hábitat natural".
+ Mais
PARQUE DA TIJUCA É
ELEITO O MELHOR LUGAR DO MUNDO PARA CAMINHADAS
Brasília (21/10/2013)
- O Parque Nacional da Tijuca, unidade de
conservação (UC), gerida pelo
Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio), no Rio de Janeiro,
foi eleito esta semana pelo Lonely Planet,
considerado o maior guia de viagens do mundo,
o melhor lugar para caminhadas em área
urbana. A nova edição do Lonely
Planet lista mil aventuras ao redor do planeta
e faz um ranking dos melhores locais. O ranking
coloca as trilhas do parque carioca acima
das de outros lugares como Londres, capital
inglesa; Cidade do Cabo, na África
do Sul; Sidney, na Austrália; e Vancouver,
no Canadá.
A escolha foi feita pelos
editores do próprio Lonely Planet e
foi bem recebida pelo chefe do Parque Nacional
da Tijuca, Ernesto Castro. Para Ernesto, "o
prêmio é um reconhecimento ao
parque como um local privilegiado em uma cidade
inigualável e também um reconhecimento
aos funcionários e voluntários
que fazem a sinalização e manutenção
das trilhas para garantir a segurança
e o lazer dos visitantes", disse o chefe.
O Parque Nacional da Tijuca
tem quase 200 quilômetros de trilhas
abertas e sinalizadas, além de mirantes,
recantos e lagos. O parque recebe cerca de
7 mil visitantes por dia e oferece muitos
atrativos como o Corcovado, a Vista Chinesa,
a Floresta da Tijuca e a Pedra da Gávea.
Segundo o chefe do parque,
a UC passa por obras para melhor atender aos
visitantes. "O parque está passando
por muitas melhorias, como a construção
do complexo Paineiras, centro de visitantes
com exposição educativa, restaurantes,
banheiros, estacionamentos e lojas de suvenires
no acesso ao Morro do Corcovado e a Trilha
Transcarioca, que ligará vários
parques, cruzando toda a cidade. No parque
estão prontos 30 quilômetros
de trilhas, ligando o Alto da Boa Vista ao
Corcovado", disse Ernesto.
Sobre a segurança
do parque, ele declarou que, com as medidas
de vigilância adotadas, as ocorrências
diminuíram. "Os acessos oficiais
são controlados por vigilantes e agentes
do ICMBio e as trilhas patrulhadas com apoio
da Guarda Municipal e Polícia Militar.
Apesar de ser um parque nacional, ele não
está isolado do contexto da metrópole
em que está inserido. O parque é
o lugar mais seguro da cidade e em 4 mil hectares,
foram registrados cinco assaltos este ano.
A título de comparação,
isso representa 0,4% do número de assaltos
registrados no bairro de Santa Teresa, vizinho
ao parque", disse.