Sexta, 25 Outubro 2013 -
LUCIENE DE ASSIS - Quase um bilhão
de pessoas, em várias partes do planeta,
passam fome diariamente.
E o problema maior nem é a escassez
de alimentos, alerta o pesquisador e diretor
técnico do Projeto Fome, Fábio
Vitta. A questão está no desperdício,
diz ele, que apresentou, nesta sexta-feira
(25/10) dados no painel “Resíduos de
alimentos, desperdício e combate à
fome” no segundo dia da 4ª Conferência
Nacional do Meio Ambiente, que vai até
domingo (27/10), em Brasília, sob a
organização do Ministério
do Meio Ambiente (MMA).
De acordo com o relatório
do Fundo das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO),
divulgado dia 16 de outubro, de 30% a 50%
de tudo o que o mundo produz em alimentos
vão parar em lixões e aterros
sanitários, são incinerados
ou servem de alimento a animais. Para Fábio
Vitta, o debate é uma oportunidade
para mobilizar governo e entes sociais pela
responsabilidade social e zelo ao meio ambiente.
Ele acredita que a união de forças
e o estabelecimento de objetivos comuns podem
gerar soluções ambientais e
sociais economicamente viáveis, envolvendo
a indústria de alimentos e supermercados.
DIGNIDADE
Na plateia, a ministra do
Meio Ambiente, Izabella Teixeira, confirmou
a seriedade do problema e a urgência
de se propor soluções de curto
prazo: “Há uma relação
injusta na proporção da produção
de alimentos e do quanto a gente desperdiça,
por isso precisamos compartilhar experiências
exitosas, pois a fome é um problema
que a gente pode solucionar, situação
que os catadores conhecem bem”, disse. “O
desafio é monumental e colocar fim
à fome é uma questão
de dignidade e cidadania”.
De acordo com a representante
da Plataforma Sinergia, Rosana Perroti, é
urgente reduzir o desperdício de comida,
pois tem muita gente passando fome no mundo
e uma pessoa com fome não estuda, não
gera renda nem consome. “Precisamos compor
forças e gerar soluções”,
afirmou.
Segundo dados da Organização
das Nações Unidas (ONU), o mundo
gasta, por ano, cerca de R$ 534 bilhões
na tentativa de amenizar o problema da fome.
E a perda de alimentos chega à casa
dos R$ 1,5 trilhão. A falta de nutrição,
lembra Rosana Perroti, gera um prejuízo
cerebral irreversível. “A solução
é levar os 50% de alimentos que vão
para o lixo para o prato de quem tem fome,
tendo por base um modelo capaz de atender
à demanda ambiental e social”, salientou.
Ela lembrou que alimentar os famintos reduz
custos públicos e privados associados,
elimina impactos ambientais, gera renda para
as cooperativas e evita o desperdício
de recursos naturais”.
SEM COR
O presidente da Associação
Brasileira de Embalagens (Abre), Maurício
Groke, lembrou: “Estamos falando de resíduo
alimentar”. Nesse sentido, a indústria
conta com a ajuda da ciência química,
explicou o presidente regional da empresa
Novozymes América Latina, Pedro Luiz
Fernandes. Ele acredita que, no Brasil, o
desperdício é uma questão
cultural e depende de educação.
O sócio da Deloitte
Touche e Tohmatsu, empresa de origem inglesa,
Ives Muller, chamou a atenção
para um detalhe: “Fome não tem cor,
raça, religião nem nacionalidade”,
com o endosso do diretor geral do Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai)
e diretor de Educação e Tecnologia
da Confederação Nacional da
Indústria (CNI), Rafael Lucchesi. “Estamos
todos sujeitos à fome em situação
de catástrofe ou guerra”, insistiu
o presidente da Confederação
Nacional do Turismo (CNTUR), Nelson de Abreu
Pinto.