22/04/2021
– Governo federal da Austrália começa o enfrentamento
de uma crise que cresce vertiginosamente em todo o planeta, por
isso o país acaba de lançar o Plano Nacional de Plásticos.
O projeto governamental pretende combater as várias formas
de poluição desse resíduo, como o banimento
do plástico nas praias, algo em abundância naquele
país. Eliminar embalagens produzidas a partir de poliestireno,
utilizadas para viagens; quer ainda instalar filtros de microplásticos
em lavadoras de roupa; e o plano prevê também a eliminação
do chamado plástico biodegradável.
Na teoria, ou seja, o que geralmente
se pensa é que o plástico biodegradável se
decompõe em partículas naturais quando descartado,
ou seja, o resíduo, em tese, desaparece da terra, dos oceanos,
de aterros ou de qualquer lugar que tenha sido dispensado. A expressão
‘biodegradável’ indica que o plástico,
nesse caso, foi produzido a partir de plantas, mas a verdade não
é bem essa.
Ao menos na Austrália, o principal
problema sobre a produção do plástico biodegradável
é a ausência de regulamentos e protocolos de como esse
termo deve e pode ser usado. Ou seja, muitas embalagens podem estar
sendo classificadas como biodegradável, mas não passam
nem perto disso e trazem consequência para o meio ambiente.
Diversas embalagens plásticas
rotuladas como biodegradáveis, na verdade não passam
de plásticos tradicionais, à base de combustível
fóssil, ou seja, são degradáveis e possuem
aditivos químicos e consequentemente se transformam em microplásticos.
A ideia do governo australiano é proibir até julho
de 2022 esse plástico fragmentado.
Ainda que os plásticos biodegradáveis
sejam feitos de vegetais, como não há rastreamento
do lixo, não se sabe por qual ambiente circularão
e quanto tempo, nesse ambiente, levaria para se degradar. Portanto,
esse resíduo pode durar por décadas em lixões,
aterros sanitários e até nos cursos d’água,
chegando até aos oceanos.
Segundo os especialistas envolvidos
no plano australiano, nem todos os plásticos biodegradáveis
são necessariamente compostáveis, visto que, alguns
polímeros à base de plantas podem se tornar muito
duráveis. Então dar vantagens a essas embalagens pode
não ser uma boa escolha.
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A ideia do governo australiano
é proibir até julho de 2022 esse plástico
fragmentado. Foto: Pixabay/Reprodução |
Com esse raciocínio
é preferível que se evite todos os plásticos
rotulados como biodegradáveis. Ainda não há
evidências sólidas de que o plástico biodegradável
seja melhor para o meio ambiente.
O governo australiano também
pretende fechar o cerco sobre plásticos compostáveis.
Basicamente esse tipo de plástico é projetado para
se decompor em componentes naturais e não tóxicos,
em determinadas condições. Mas ao contrário
dos plásticos biodegradáveis, na Austrália,
os compostáveis têm padrões de certificação,
mas essas embalagens devem trazer o selo de autenticidade.
Mas há um entrave nesse processo
de decomposição. A maioria desses plásticos
compostáveis destina-se a compostos industriais, que atingem
temperaturas muito altas, ou seja, não é factível
que se consiga decompor de maneira adequada em composteiras caseiras,
ainda que essas embalagens tenham o selo “compostáveis
domésticos”. E apesar desse tipo de plástico
ter aumentado sua produção, ainda não há
instalações industriais de compostagem que acompanhem
esse crescimento.
Na Austrália o sistema de coleta
não está adaptado para esse tipo de plástico.
A maioria das lixeiras de reciclagem de orgânicos instaladas
nas ruas não aceita plásticos compostáveis
ou qualquer outra embalagem, portanto, sua presença é
considerada contaminação. Ainda que o cidadão
australiano consiga fazer uma destinação correta dessas
embalagens, seu valor é muito reduzido, pois não podem
ser reutilizados. Por outro lado, podem ser importantes para devolver
nutrientes ao solo e até compensar a energia gasta com sua
produção.
Portanto, se não tivermos um
sistema adequado de coleta e destinação, não
adiantará se o plástico é convencional, biodegradável
ou compostável. Para efeito de comparação,
os plásticos compostáveis podem liberar metano, um
dos gases do efeito estufa, tão prejudicial quanto o dióxido
de carbono, caso sejam descartados inadequadamente nos aterros sanitários.
Apesar da estimativa do Plano
Nacional de Plásticos e das Metas Nacionais
de Embalagem de que ao menos 70% dos plásticos sejam reciclados
ou reutilizados até 2025, ainda não se discutiu como
os sistemas de coleta serão organizados para alcançar
essa meta.
Dados apontam que apenas 9% dos plásticos
no mundo são reciclados, na Austrália isso chega a
18%. A maioria desses resíduos vai para lixões, aterros
sanitários ou acabam na natureza, como nos oceanos. Na Austrália,
o sistema de coleta e reciclagem instalado nas cidades parece eficiente,
mas não consegue atender as diversas formas de embalagem.
Plásticos flexíveis e macios, como sacolas e embalagens
de alimentos, tipo filme, além de tampas de garrafas e itens
descartáveis como talheres e canudos, são produtos
que podem danificar as máquinas de classificação
do lixo.
Outro entrave é que boa parte
dos plásticos recicláveis não tem mercado final,
ou seja, tem baixo valor. Fora o PET (garrafas de refrigerante e
água, por exemplo) e o HDPE (garrafas de leite, xampu, por
exemplo) tem facilidade de se tornar novos produtos. O restante
é classificado como plásticos mistos, aqueles que
costumam ser exportados dos países ricos para os mais pobres,
muitos deles na Ásia. O plano do governo prevê a proibição
dessa exportação e parte desse problema pode ser resolvido.
Diante das diversas características
e desafios para o controle da poluição dos plásticos,
a ação do governo australiano com o Plano Nacional
de Plásticos pode ser uma solução viável
e imperativa para eliminar o problema ambiental gigantesco que se
tornou o plástico de uso único no planeta.
O movimento Plastic
no Thanks entende que os governos são peças
fundamentais na batalha da redução e na eliminação
do plástico de uso único e acredita que o governo
australiano segue no caminho correto.
Da redação, com informações
de agências internacionais e do governo australiano
Fotos: Pixabay/Reprodução |