16/02/2023
– Por Andreia Verdélio, da Agência Brasil - 14/02/2023
07h30 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou na
segunda-feira (13) decreto que institui o Programa Diogo Sant’ana
Pró-Catadoras e Catadores para a Reciclagem Popular, uma
atualização do antigo Programa Pró-Catador,
extinto em 2020. O objetivo é colocar novamente os catadores
como atores centrais na cadeia de reaproveitamento de materiais
recicláveis e reutilizáveis no Brasil e realizar uma
mudança no modelo atual de economia circular e logística
reversa do país.
Lula também assinou decreto que revê conceitos da logística
reversa, que revoga o programa Recicla+, lançado no ano passado,
e institui três novos instrumentos: o Certificado de Crédito
de Reciclagem; o Certificado de Estruturação e Reciclagem
de Embalagens em Geral; e o Crédito de Massa Futura.
A ministra do Meio Ambiente
e Mudança do Clima, Marina Silva, destacou que os catadores
fazem a parte mais importante e mais difícil do gerenciamento
de resíduos, “coletando materiais nas ruas, em pontos
de coletas seletivas e até mesmo em circunstâncias
bastante penosas e inaceitáveis, como é o caso dos
lixões”.
“Graças
ao trabalho deles é possível que grande parte dos
resíduos retornem ao ciclo produtivo como matéria-prima,
diminuindo a emissão de gases e evitando que sejam depositados
em lixões, contaminando o solo, a água e causando
doenças”, disse. “Ao mesmo tempo, fazer apoio
a esse segmento da sociedade é um beneficio social, ambiental
e compromisso ético e político de cuidar do meio ambiente
ao mesmo tempo em que se cuida das pessoas”, completou.
Reprodução/Marcelo
Camargo/Agência Brasil
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Segundo Marina, os dois
decretos trazem instrumentos que possibilitarão aos catadores
receber um adicional à renda. “E que esse pagamento
possa ser feito de forma a que o catador não tenha que ficar
dependendo apenas daquele que vai comprar o seu material, porque
antecipadamente ele já tem esse direito como se fosse espécie
de crédito pelo trabalho que presta”, explicou, sem
detalhar a medida.
A ministra destacou ainda
que dar protagonismo à classe dos catadores é uma
forma de combater o racismo ambiental. “A maior parte das
pessoas que trabalham com materiais recicláveis são
pessoas pretas, sobretudo mulheres chefes de famílias, que
são obrigadas a buscar essa alternativa para poder sobreviver”,
disse. “Por isso, quando se faz políticas públicas
que restauram a dignidade, que os tratam como profissionais, que
os remuneram para além dos materiais que são coletados,
mas pelo trabalho que prestam de serviços ambientais à
comunidade, é uma forma de combate o racismo ambiental”,
ressaltou.
Apoio financeiro
Os decretos foram elaborados
por um grupo técnico de trabalho coordenado pela Secretaria-Geral
da Presidência da República. O grupo contou, ao longo
de 12 reuniões, com a participação de representantes
das cooperativas de catadores de materiais reutilizáveis
e recicláveis e do setor empresarial que atua na política
de logística reversa, além de membros convidados de
oito órgãos governamentais.
Para o ministro da Secretaria-Geral,
Marcio Macêdo, os catadores realizam um serviço de
utilidade pública de preservação ambiental
e não podem estar no mesmo patamar que empresas e cooperativas
de catadores na cadeia da logística reversa, que tem tecnologia
para processar os materiais. Ainda assim, segundo ele, é
preciso “reconhecer o papel das empresas na medida correta
da sua contribuição, da importância da reciclagem
para alavancar a economia”.
“O novo decreto
reconhece o papel das empresas, recoloca os atores centrais do processo
de reciclagem no seu devido lugar, ajusta os mecanismos da logística
reversa para que catadores, individualmente ou em cooperativas,
possam continuar exercendo sua profissão com dignidade”,
disse.
Segundo Macêdo,
as instituições financeiras - BNDES, Caixa e Banco
do Brasil – se colocaram à disposição
para criarem medidas indutoras e linhas de financiamento para execução
dos projetos do Programa Pró-Catador para reciclagem popular,
para dar iguais condições de se tornarem empreendedores
nas mesmas condições que a indústria. Entre
os projetos, ele citou construção e ampliação
de unidades de recuperação de recicláveis,
aquisição de equipamentos e de veículos para
coleta e transporte de materiais.
“É fundamental
ter apoio financeiro de implementação de projetos
de coleta e reciclagem, contemplando intervenções
que visam contribuir para aumentar postos de trabalho e capacidade
de beneficiamento dos resíduos passíveis de reciclagem,
bem como melhorar as condições de trabalho e renda
dos catadores”, disse Macêdo.
Monitoramento
Os decretos também instituem o Comitê Interministerial
para Inclusão Socioeconômica das Catadoras e dos Catadores
de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis. O órgão
terá como objetivo a coordenação, a execução
e realização do acompanhamento, do monitoramento e
da avaliação do programa.
Ele será formado
por representantes de 15 pastas. Da Presidência, integram
a Secretaria-Geral, a Casa Civil e a Secretaria de Relações
Institucionais, e os ministérios da Justiça e Segurança
Pública; Educação; Saúde; Trabalho e
Emprego; Meio Ambiente e Mudança do Clima; Desenvolvimento
e Assistência Social, Família e Combate à Fome;
Cidades; Planejamento e Orçamento; Gestão e Inovação
em Serviços Públicos; Direitos Humanos e Cidadania;
Mulheres e Igualdade Racial. Os trabalhos serão coordenados
pela Secretaria-Geral.
Homenagem
O Programa Pró-Catador foi criado durante o segundo governo
do presidente Lula, em 2010, e reunia ações de apoio
a trabalhadores de baixa renda que se dedicavam a coletar materiais
reutilizáveis e recicláveis. Em 2020, o programa foi
extinto e, agora, com a recriação, será rebatizado.
A pedido dos catadores
receberá o nome de Diogo Sant'ana, em homenagem ao advogado
e professor que, em 2010, foi responsável pelo programa no
âmbito da Secretaria-Geral da Presidência. Ele faleceu
em 31 de dezembro de 2020 aos 41 anos de idade. Além da Secretaria-Geral,
Diogo Sant’ana também trabalhou no gabinete da Presidência
da República e na Casa Civil durante os governos de Lula
e Dilma Rousseff.
“Pessoas que têm
um coração do tamanho do que o Diogo tinha não
morrem nunca”, disse Lula durante seu breve discurso. “O
corpo vai embora, mas os ideais do Diogo estão perambulando
aqui na cabeça de cada catador e catadora”, completou.
Com informações
da Agência Brasil
Foto: Reprodução/Pixabay/Marcelo Camargo/Agência
Brasil
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