22/02/2023
– Publicado em 25/01/2023 - 06:18 - Por Alana Gandra –
Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro - Pesquisadores
da Universidade Federal do Paraná (UFPR), junto com outras
instituições, encontraram rochas compostas por plásticos
no Parcel das Tartarugas, região da Ilha da Trindade, que
é uma ilha vulcânica localizada a 1.140 quilômetros
da capital do Espírito Santo, Vitória. A área
de proteção ambiental é administrada pela Marinha.
A descoberta é da doutoranda
do programa de pós-graduação em Geologia da
UFPR, Fernanda Avelar Santos, em 2019, quando fazia o mapeamento
dos riscos geológicos. Ela explica que todas as rochas encontradas
na ilha são cimentadas por plástico.
“Toda a estrutura dessas rochas
é formada por plástico queimado”. O material
era oriundo de redes de pesca principalmente, que vieram parar na
praia por correntes oceânicas e tiveram ação
humana na queima para eliminar esse lixo.
“Esse plástico derretido,
semelhante a uma lava vulcânica, começou a incorporar
os fragmentos da praia e formar essas novas ocorrências na
geologia”.
Reprodução/Marinha do Brasil/Agência
Brasil
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O achado foi publicado pelos pesquisadores
na revista Marine Pollution Bulletin, que é referência
em poluição marinha. Foram identificados quatro tipos
de formas de detritos plásticos, distintos em composição
e aparência. Os depósitos plásticos na plataforma
litorânea recobriam rochas vulcânicas; sedimentos da
atual praia compostos por cascalhos e areias; e rochas na praia
com superfície irregular devido à erosão provocada
pelas ondas, descreveu a pesquisadora.
A Ilha da Trindade é uma importante
reserva marinha do Atlântico Sul e uma Unidade de Monumento
Natural Brasileiro. As rochas constituídas por plástico
foram identificadas próximo à maior região
de ninhos da tartaruga-verde (Chelonia mydas) e de recifes
de vermetídeos (moluscos marinhos).
Pertencente à chamada Amazônia
Azul, área com riquezas naturais e minerais abundantes que
apenas o Brasil pode explorar economicamente, a ilha é habitat
natural de aves marinhas e tem ecossistema frágil e único
que inclui espécies endêmicas de peixes e diferentes
conjuntos de recifes.
Relato inédito
O estudo é o primeiro relato no Brasil desses detritos plásticos
com aparência de rocha e também o primeiro no mundo
que encontrou um afloramento na superfície da praia com vários
tipos desses detritos que, anteriormente, foram encontrados em outros
locais do mundo.
Os pesquisadores brasileiros estudaram
a dinâmica desses materiais, com sua entrada nos ciclos geológicos,
no ambiente costeiro e marinho. A pesquisadora Fernanda afirmou
que esse é também o primeiro estudo no Brasil e um
dos primeiros do mundo executado por um grupo de geólogos.
Reprodução/Marinha do Brasil/Agência
Brasil
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O tema é objeto de investigação
de pesquisadores de outras áreas como biólogos, químicos,
ecologistas, oceanógrafos, que explicam como o plástico
interage no ciclo biológico. Já a pesquisa da UFPR
e parceiros mostra como o plástico está começando
a interagir com o ciclo da Terra ou ciclo geológico.
“Significa que o ser humano
está interferindo na composição da Terra, está
interferindo nos ciclos naturais, nos ciclos geológicos,
sendo agente na disposição e na formação
desse material”.
“Será que é esse
legado que nós, no presente, queremos deixar para o futuro,
para o registro da Terra, que a poluição chegou a
um nível alarmante?”, indagou Fernanda. O trabalho
dos cientistas levanta outras questões para serem pensadas.
Uma delas diz respeito ao modo correto de se desfazer desse lixo.
Conclusão
O estudo está tendo continuidade. Fernanda e sua equipe,
composta por dois químicos, um oceanógrafo e seis
geólogos da UFPR, Universidade de São Paulo (USP)
e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), foram a campo
no final do ano passado e retornaram com novos dados e ideias, que
continuarão a ser publicados. “Ainda este ano, a gente
quer trazer mais novidades, com certeza”, assegurou Fernanda.
O objetivo de dar continuidade ao
trabalho é entender a dinâmica, ou seja, como o material
plástico se dispersa, como está sendo erodido pelas
ondas, como chega a outras praias.
“A gente vai continuar o trabalho
com microplástico também, tentar encaixar esse material
em modelos geológicos e ver como ele está se preservando
no registro sedimentar da região. A gente vai tentar trazer
coisas novas, novos olhares para essas ocorrências”.
De acordo com o trabalho desenvolvido
pelos cientistas, a poluição, encontrada especialmente
no ambiente marinho e ocasionada, em grande parte, pelos materiais
plásticos, pode alterar até mesmo os cenários
de fauna e de flora do ambiente terrestre. Fonte: Agência
Brasil.
Da Redação, com informações
da Agência Brasil
Foto: Reprodução/Marinha do Brasil/Agência Brasil
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