13/07/2023
– Do Jornal da USP – A economia circular é uma
nova forma de pensar o modelo econômico e que se opõe
à lógica linear de extração de matéria-prima
e descarte dos produtos após o uso. Nesse modelo, o resíduo
do material pós-consumo é reinserido no processo produtivo
para integrar a fabricação de novos produtos. Para
entender as estratégias e os atores dessa economia —
o ecossistema circular —, pesquisadores da Escola de Engenharia
de São Carlos (EESC) da USP analisaram o ecossistema da fabricação
de embalagens cartonadas (feitas de papel, plástico e alumínio).
Com o objetivo de entender melhor
os papéis dos atores de um ecossistema circular brasileiro,
o estudo identificou as três ações principais
de orquestradores nos sistemas: inovar, investir e integrar.
O ator principal
Dentro de um ecossistema circular, há muitos atores envolvidos,
como os fabricantes das embalagens, coletores e recicladores, mas
há um ator fundamental, o orquestrador, que é alguém
que consegue engajar outras pessoas para a ação. “O
orquestrador é uma empresa que tem poder maior dentro do
ecossistema. Esse ator tem mais responsabilidades, e é ele
que vai poder, no nosso caso, como resultado da pesquisa, fazer
as três principais ações”, explica Adriana
Hofmann, doutoranda em Engenharia de Produção na EESC.
A primeira das três ações
é a inovação, que acontece através de
mudanças nos produtos e na linha de produção.
O orquestrador específico do estudo, por exemplo, inovou
no design da embalagem, colocando um QR Code para mostrar para o
consumidor como descartar adequadamente o material.
Investir — a segunda ação
— é fundamental “para que essas embalagens sejam
de fato recicladas. “Há toda uma infraestrutura de
mecânica para operacionalizar esse ecossistema. O orquestrador
vai poder apoiar outros atores através de investimento financeiro
para que outros atores possam se desenvolver”, explica Hofmann.
Por fim, o orquestrador aproxima novos integrantes que possam contribuir
para a circularidade do ecossistema, uma atividade chave para viabilizar
a reciclagem das embalagens.
As ações dos orquestradores
são essenciais frente aos maiores desafios da economia circular,
que são o gasto financeiro, que só terá retorno
em longo prazo, e o alinhamento de atores, para que todos estejam
engajados. Outra questão apontada pela pesquisadora é
o problema da informalidade.
“No Brasil, em geral o processo
de coleta é realizado por catadores de resíduos que
não possuem uma infraestrutura adequada. Eles não
conseguem acessar todos os benefícios que o ecossistema circular
poderia proporcionar para eles, então existe essa questão
da alta taxa de informalidade, que dificulta o processo de logística
reversa e reciclagem dos materiais.”
Adriana Hofmann
O estudo também observou nos ecossistemas estudados um forte
impacto da cadeia dos atores e do engajamento de cada um nos resultados
finais. “Dificilmente uma única empresa terá
todas as capacidades para se inserir sozinha em uma economia circular,
por isso é importante que elas estabeleçam parcerias
e estejam presentes em ecossistemas circulares. Assim, elas conseguem
dividir a infraestrutura e ter um suporte muito maior para poder
desenvolver iniciativas sustentáveis”, destaca Adriana
Hofmann.
Por que estudar os ecossistemas?
Em abril de 2020, o governo federal lançou o Plano Nacional
de Resíduos Sólidos, com meta de reciclar ou recuperar
48,1% dos resíduos sólidos urbanos até 2040.
Segundo Janaína Mascarenhas, professora e orientadora do
Circular Ecosystem Lab, da EESC, o estudo contribui para entender
como as empresas podem, de fato, cumprir essas metas de reúso
no Brasil. “De maneira geral, as pesquisas desse campo são
centradas na Europa e não representam a realidade brasileira.
As chances de uma pesquisa desenvolvida na Inglaterra ser implementada
com sucesso no Brasil, por exemplo, são extremamente remotas”,
diz.
Para as pesquisadoras, os estudos
sobre os ecossistemas circulares brasileiros podem auxiliar, futuramente,
no desenvolvimento de políticas para dar suporte a empresas
e adequar as legislações já existentes para
minimizar os impactos ambientais. “Ao compreender como esses
ecossistemas estão estruturados, conseguimos planejar melhor
as ações para que os orquestradores de outros ecossistemas
também caminhem em direção à economia
circular”, conclui Adriana Hofmann.
O artigo resultante do trabalho foi
publicado na revista Sustentability e ganhou o prêmio Sustainability
2023 Travel Award, sendo o único ganhador da América
Latina. Ele fará parte da 24a International Conference on
Engineering Design. Texto: Julia Custódio. Fonte: Jornal
da USP.
Veja
o artigo original.
Do Jornal da USP/Julia Custódio
Fotos: Reprodução/Pixabay
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