12/09/2025
– Cientistas do Centro Leibniz de Pesquisa Marinha Tropical
(ZMT) analisaram estratégias existentes e propuseram novas
ações para enfrentar o lixo marinho. Eles destacam
o uso de plásticos biodegradáveis de "terceira
geração", desenvolvidos com base no conceito
da União Europeia "Seguro e Sustentável por Design"
(SSbD). O estudo completo foi publicado na revista Sustainable Chemistry
and Pharmacy. Há mais de dois anos, os Estados-membros da
ONU tentam firmar um tratado com medidas globalmente obrigatórias
para combater a poluição plástica. As negociações
continuam em agosto, em Genebra.
Em 2022, a produção
global de plástico chegou a 400 milhões de toneladas
métricas, sendo que entre 3% e 5% acabam no meio ambiente,
causando sérios danos aos ecossistemas, à biodiversidade,
ao turismo, à pesca e ao bem-estar humano. Cerca de dois
bilhões de pessoas — muitas em países tropicais
— não têm acesso a sistemas adequados de descarte
de resíduos. O plástico pode permanecer no ambiente
por décadas, degradando-se em micro e nanoplásticos
com impactos profundos nos ecossistemas marinhos. O lixo marinho
é um dos maiores desafios ambientais atuais, e a ONU, por
meio da meta ODS 14.1, propõe reduzir significativamente
esse problema até 2025.
Apesar dos esforços, o problema
do lixo marinho ainda está longe de ser resolvido. Mesmo
com ações rápidas e coordenadas, estima-se
que mais de 700 milhões de toneladas de resíduos plásticos
se acumularão nos ecossistemas terrestres e aquáticos
até 2040. Os cientistas Rebecca Lahl e Raimund Bleischwitz,
do ZMT, analisaram diversas abordagens para combater a poluição
plástica nos oceanos, avaliando seus prós e contras.
O estudo analisa estratégias
como gestão de resíduos dentro de uma economia circular,
tecnologias de limpeza, responsabilização dos fabricantes
e campanhas de conscientização. No entanto, segundo
Lahl, essas medidas, embora importantes, são insuficientes.
A solução proposta começa na origem do problema:
no desenvolvimento dos produtos químicos e materiais utilizados
na fabricação do plástico.
Como estratégia complementar
para o futuro, pesquisadores do ZMT propõem o desenvolvimento
de plásticos biodegradáveis baseados no conceito europeu
"Safe and Sustainable by Design" (SSbD). Essa abordagem
busca garantir que produtos químicos, materiais e bens sejam
seguros e sustentáveis ao longo de todo o seu ciclo de vida.
A iniciativa integra o "Pacto Verde" da União Europeia,
lançado em 2019.
Os pesquisadores do ZMT defendem o
desenvolvimento de plásticos que, inevitavelmente destinados
ao meio ambiente, não causem danos duradouros — substituindo
os chamados “plásticos eternos”. Eles propõem
eliminar substâncias químicas, polímeros e produtos
plásticos industriais que sejam inseguros, insustentáveis
ou desnecessários. Com base no conceito "Seguro e Sustentável
por Design" (SSbD), a ideia é criar plásticos
que, após seu uso, se decomponham em compostos inofensivos
ou possam ser reutilizados, reciclados ou reaproveitados de forma
segura.
Segundo os pesquisadores do ZMT, plásticos
biodegradáveis desenvolvidos conforme os critérios
do conceito SSbD representam uma oportunidade de inovação
e podem ser uma estratégia complementar no combate ao lixo
plástico, tanto nos oceanos quanto em terra. Lahl destaca
seu potencial, enquanto o coautor Raimund Bleischwitz reforça
que esses novos materiais podem ser seguros para a saúde
e o meio ambiente, promovendo a sustentabilidade ecológica,
econômica e social em longo prazo.
Eles explicam que tentativas anteriores
de criar plásticos biodegradáveis surgiram nas décadas
de 1970 e 1980, mas fracassaram. Segundo Bleischwitz, o erro principal
da chamada “primeira geração” foi manter
o uso de polímeros de plásticos duradouros, lançados
prematuramente no mercado como solução, sem testes
adequados de degradabilidade.
Na década de 1990, surgiu a
“segunda geração” de plásticos
biodegradáveis, inspirada na natureza e baseada em polímeros
naturais como proteínas, polissacarídeos, lignina
e borracha natural. Esses materiais podem durar décadas,
mas depois se decompõem em substâncias inofensivas,
como o açúcar. Atualmente, essa geração
representa apenas cerca de 0,5% dos plásticos no mercado
global. Para os especialistas da ZMT, ela é um avanço
em relação aos plásticos “eternos”,
mas ainda exige inovação para garantir estabilidade
durante o uso e degradação rápida no ambiente,
especialmente marinho.
A abordagem "Seguro e Sustentável
por Design" (SSbD) abre caminho para uma terceira geração
de plásticos biodegradáveis, oferecendo esperança
no combate ao desperdício de plástico. Embora esses
materiais ainda não existam, Lahl destaca que, se a legislação
europeia passar a exigir degradabilidade para certos plásticos,
como microplásticos e filmes de embalagem, será necessário
aprimorá-los para que se decomponham mais rapidamente. Ela
também ressalta a importância de aplicar altos padrões
de segurança aos aditivos usados nesses materiais. Os especialistas
da ZMT defendem o uso desses plásticos especialmente em produtos
destinados a aplicações que frequentemente acabam
no meio ambiente, como no mar ou no solo. Eles também indicam
quais tipos de plásticos devem ser priorizados nos esforços
de inovação voltados à biodegradabilidade.
Os pesquisadores da ZMT identificam
diversos produtos que, devido ao seu uso intensivo e desgaste, liberam
microplásticos no meio ambiente e devem ser focados em esforços
de inovação para biodegradabilidade. Entre esses produtos
estão: microplásticos em produtos de consumo como
cosméticos e produtos de limpeza, microplásticos em
tintas e revestimentos na construção, artigos de borracha
liberados durante o uso, tecidos e materiais plásticos sujeitos
a abrasão (como panos de limpeza), produtos plásticos
agrícolas que não são removidos do solo, redes
de pesca e outros itens para o setor pesqueiro, têxteis usados
na água (como trajes de banho), pequenas peças plásticas
como invólucros de fogos de artifício, embalagens
alimentícias relevantes e outros itens descartáveis,
como pontas de cigarro. Esses produtos representam áreas
cruciais para desenvolver soluções de plásticos
biodegradáveis.
As sugestões dos pesquisadores
do ZMT podem parecer ousadas, pois propõem não apenas
uma mudança de paradigma na produção de plásticos,
mas também uma "inovação disruptiva"
em uma nova cadeia de suprimentos emergente. Bleischwitz destaca
que, especialmente na UE, inovações foram impulsionadas
por padrões ambiciosos no passado, como limites de emissão
para indústrias e automóveis, cujas tecnologias só
foram desenvolvidas posteriormente. Lahl concorda, observando que
o design de plásticos convencionais evoluiu significativamente
nas últimas décadas, com produtos como filmes plásticos
para alimentos se tornando altamente sofisticados. Eles acreditam
que é possível aproveitar esse potencial para impulsionar
inovações no design de plásticos biodegradáveis.
Saiba mais: Rebecca Lahl et al., Plásticos
biodegradáveis de terceira geração –
Uma estratégia complementar para enfrentar o problema do
lixo marinho, Química e Farmácia Sustentáveis
(2025). DOI: 10.1016/j.scp.2025.101925
Da Redação, com
informações de agências internacionais
Matéria elaborada com auxílio de inteligência
artificial
Fotos: Reprodução/Pixabay
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