11/12/2025
– Na província de Java Oriental, na Indonésia,
fábricas de tofu estão utilizando toneladas de plástico
importado como combustível para alimentar suas caldeiras.
Segundo o jornal The Guardian, resíduos plásticos
vindos de países como Austrália, Nova Zelândia,
Japão, França, EUA e Reino Unido são queimados
diariamente em vilas industriais para manter a produção
de tofu. A prática, confirmada por donos de fábricas
e por uma organização ambiental, levanta sérias
preocupações sobre os impactos à saúde
da população local devido à liberação
de poluentes tóxicos durante a queima do plástico.
Em Tropodo, na Indonésia, cerca
de 60 fábricas de tofu utilizam diariamente uma mistura de
resíduos plásticos, madeira e cascas de coco para
alimentar suas caldeiras e fritadeiras. Essa prática permite
a produção de aproximadamente 60 toneladas de tofu
por dia, distribuídas localmente, inclusive em Surabaya,
a segunda maior cidade do país. O tofu não é
exportado. Segundo um dono de fábrica, o uso de plástico
é motivado pelo baixo custo. Embora a queima a céu
aberto de resíduos seja proibida na Indonésia, ela
ainda é amplamente praticada como forma de descarte no país.
Entre os materiais encontrados estão
embalagens da Nova Zelândia e da França, além
de borracha descartada por fábricas locais. Um dos donos,
Wahyuni, afirmou que queima um caminhão de plástico
importado a cada dois dias, ao custo de apenas US$ 13 — muito
mais barato que a madeira, que custa cerca de US$ 130 por carga.
O peso dos caminhões pode chegar a três toneladas.
O Guardian visitou cinco fábricas da região, todas
usando resíduos estrangeiros, embora em diferentes volumes.
Na Indonésia, o consumo médio
de tofu é de 8 kg por pessoa ao ano, segundo o Departamento
de Estatísticas (BPS). No entanto, a produção
desse alimento tem gerado preocupação entre grupos
ambientais, como a Ecoton, devido ao uso de resíduos plásticos
como combustível em fábricas. A organização
monitora lixões ilegais próximos a indústrias
de papel e tofu, e alerta que resíduos plásticos não
recicláveis, especialmente vindos de países como EUA
e Austrália, são amplamente utilizados nessas fábricas
por serem baratos e abundantes. A prática levanta sérias
questões sobre saúde pública e poluição
ambiental.
Segundo a Ecoton, grande parte do
plástico estrangeiro usado como combustível nas fábricas
de tofu da Indonésia vem misturado às importações
de papel para reciclagem. O país importa cerca de 3 milhões
de toneladas de papel e papelão por ano, principalmente da
União Europeia, EUA, Reino Unido, Austrália e Japão.
Essas remessas chegam pelo porto de Surabaya, próximo a Tropodo,
e são enviadas a diversas fábricas de papel. Embora
o governo indonésio tenha estabelecido um limite de 2% de
contaminação por resíduos não recicláveis
nas importações, a Ecoton denuncia que a fiscalização
é falha, com cargas contendo até 30% de materiais
contaminantes.
O plástico indesejado pelas
fábricas de papel na Indonésia é frequentemente
vendido a intermediários ou doado, sendo posteriormente queimado
em fábricas de tofu. Estima que cerca de 70 toneladas de
plástico são queimadas semanalmente apenas em Tropodo.
Após a proibição da China à importação
de resíduos em 2018, a Indonésia se tornou um destino
central da indústria global de reciclagem, tendo importado
260 mil toneladas de resíduos plásticos em 2024. Embora
o governo tenha proibido a importação direta desses
resíduos, ativistas afirmam que o problema persiste devido
à entrada de papel contaminado com plástico.
Em uma fábrica de tofu em Tropodo,
o forte cheiro de plástico queimado é constante, mas
os trabalhadores demonstram indiferença aos riscos, alegando
que já fumam e não adoecem. Antes, a madeira era usada
como combustível, mas os altos custos levaram os donos a
optarem pelo plástico. Segundo o proprietário Joko,
a queima de plástico para produção de tofu
é uma prática antiga no leste de Java e ocorre também
em outras áreas próximas a instalações
de reciclagem. Ele apontou ao Guardian um lixão ilegal de
onde as fábricas obtêm sucata plástica, incluindo
resíduos importados.
Especialistas alertam que a queima
de plástico, especialmente na produção de alimentos,
representa sérios riscos à saúde, como aumento
de doenças respiratórias e crônicas. Em fevereiro,
a Ecoton encontrou altas concentrações de microplásticos
em tofu vendido em um mercado de Tropodo, com fibras entre 0,15
mm e 1,76 mm. Embora os efeitos dos microplásticos na saúde
humana ainda estejam sendo estudados, algumas pesquisas já
apontam ligação com maior risco de ataque cardíaco,
derrame e morte. Segundo o Dr. Setyorini, a queima de plástico
libera microplásticos no ar, água e superfícies,
contaminando produtos alimentícios como o tofu.
Grupos ambientalistas denunciaram
a poluição causada pelas cinzas tóxicas geradas
pela queima de plástico em fábricas de tofu, que contaminam
o solo e entram na cadeia alimentar por meio de galinhas criadas
soltas. Um estudo de 2024 da Nexus3 Foundation revelou que consumir
metade de um ovo caipira de áreas próximas a fábricas
em Tropodo, Kawerang e Tangerang excede em 48 vezes o limite diário
seguro de dioxina. Essa substância está associada a
sérios riscos à saúde, incluindo problemas
de desenvolvimento infantil, infertilidade, abortos espontâneos,
danos ao sistema imunológico e desequilíbrios hormonais.
Apesar disso, muitos fabricantes optam pelo plástico como
combustível por ser gratuito, enquanto a madeira custaria
cerca de US$ 97 por semana.
Um proprietário de fábrica
de tofu, sob anonimato, expressou preocupação com
os impactos na saúde causados pela queima de plástico,
mas afirmou que retornar ao uso de lenha aumentaria os custos em
seis vezes. Ele apelou por subsídios governamentais para
viabilizar o uso de combustíveis mais limpos. Novrizal Tahar,
do Ministério do Meio Ambiente da Indonésia, reconheceu
os riscos à saúde e afirmou que o governo está
atuando para aplicar a proibição de importações
de resíduos plásticos. No entanto, a pesquisadora
Dr. Setyorini ressaltou que o problema vai além: para ela,
o envio de lixo por países ricos a nações em
desenvolvimento configura um “colonialismo do lixo”.
Da Redação, com
informações de agências de internacionais
Matéria elaborada com auxílio de inteligência
artificial
Fotos: Reprodução/Pixabay
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