Cientista-cidadão,
um personagem comum no exterior
Nos
EUA, Europa e outras partes do mundo, a prática vai
bem além do birdwatching
25/11/2021 – O birdwatching,
ou simplesmente observação de aves torna-se
uma atividade cada vez mais popular no mundo. Nos Estados
Unidos e Europa, uma economia regular já se tornou
uma realidade e com números significativos.
As aves são uma das
mais importantes e populares classes de seres vivos do planeta.
Somente nos Estados Unidos, estima-se que 47 milhões
de pessoas pratiquem o birdwatching, gerando mais de 600
mil empregos e movimentando cerca de US$ 106 bilhões
por ano.
Na atividade de conservação
institucional não é diferente. Uma das organizações
mais antigas do mundo é especializada no estudo e
conservação das aves. Fundada em 1898, a National
Audubon Society é hoje uma das mais respeitadas organizações
no mundo e uma referência para a Agência Ambiental
Pick-upau e para o Projeto Aves no Brasil.
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Nidificação para
as pequenas corruíras (Troglodytes musculus).
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A figura do cientista-cidadão
já faz parte da realidade em outros países
e essas ações são imprescindíveis
em diversas pesquisas e estudos sobre a biodiversidade das
aves. O aplicativo eBird, um banco de dados on-line de observações
de aves, desenvolvido pelo Cornell Lab of Ornithology é
um ótimo exemplo de como a sociedade pode ter papel
fundamental na conservação das espécies.
O aplicativo iNaturalist, administrado pela National Geographic
e pela California Academy Sciences, no qual a Agência
Ambiental Pick-upau, colabora com dados, é outra
importante ferramenta.
Aqui no Brasil a observação
de aves tem crescido a cada ano, a plataforma Wikiaves,
é um bom exemplo desse ‘trabalho voluntário’
realizado no país sobre as comunidades de avifauna.
Mas o conceito cientista-cidadão ainda precisa avançar
no país e nesse sentido cada ação faz
a diferença.
No Rio de Janeiro, um desses
amantes da natureza e amigo dos emplumados resolveu doar
um pouco do seu tempo para criar uma alternativa na nidificação
para as pequenas corruíras (Troglodytes musculus),
que visitam uma praça em Copacabana.
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Nidificação para
as pequenas corruíras (Troglodytes musculus).
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O carioca Antônio
Dias explicou ao Projeto Aves como começou esse envolvimento
e a ideia de ajudar nos ninhos, durante o trabalho voluntário
que realiza na Horta Comunitária do Bairro Peixoto,
localizada em uma praça pública. “Lá
já avistei os ninhos de rolinha, lavadeira-mascarada,
bem-te-vi, tucano e recentemente notei outras duas espécies,
o teque-teque e o bentevizinho-de-penacho-vermelho, iniciando
a construção de seus ninhos”, relata
Dias.
“Me chamou atenção
o fato de que muitas espécies de aves se sentem seguras
em nidificar em uma praça repleta de atividades urbanas.
Por outro lado, a corruíra, visitante assídua
da nossa horta (sempre vasculhando a cobertura do solo atrás
de alimento e tomando seu banho de areia) passou a aparecer
cada vez menos. Ela é uma ave que utiliza cavidades
dos troncos para nidificação e, atualmente
na praça, o número de árvores que dispõem
dessas cavidades é praticamente zero. Foi então
que surgiu a ideia de fazer o ninho artificial, na tentativa
de disponibilizar um ambiente para a reprodução
da corruíra”, diz em entrevista ao Projeto
Aves.
Dias afirma participar de
um grupo de discussão online que aborda a questão
das aves do Bairro Peixoto, mas pretende ampliar esse horizonte.
Morador do Andaraí, no Rio de Janeiro, ele fala sobre
a rotina de caminhar na Floresta da Tijuca, onde pode observar
outras espécies. “Costumo caminhar na Floresta
da Tijuca, onde posso avistar aves como: sabiá, tiê-galo,
saíra, beija-flor, teque-teque, choquinha, sanhaço
e outras tantas. Pouco a pouco estou aprendendo a identificá-las
e conhecendo os seus comportamentos”.
Ressalta ainda que não
precisa ir muito longe para observar aves diferentes. “Não
é necessário estar no meio da floresta para
desfrutar da beleza das aves. Um ótimo exemplo são
as praças públicas. Na praça Edmundo
Bittencourt, em Copacabana, por exemplo, aprendi a notar
sinais da presença do papagaio [através das
vagens mordiscadas no chão da calçada], a
observar os cuidados da rolinha e da corruíra com
os seus filhotes, a reconhecer o canto da lavadeira-mascarada
e a identificar o dimorfismo do gaturamo [diferença
entre o macho e fêmea]”, explica Dias, de forma
entusiasmada.
Preocupado com as opções
de nidificação das aves, Dias resolveu construir
um ninho para as corruíras que vivem na praça.
A bióloga-chefe da Agência Ambiental Pick-upau
explica como a redução de habitats afetam
a nidificação de aves em todo o planeta. “A
destruição dos habitats ou a sua fragmentação
causa enormes impactos à biodiversidade no geral,
porque ou o habitat é eliminado ou perde muito a
qualidade, o que afeta a manutenção das espécies
em longo prazo. No caso das aves, elas sofrem com a falta
ou redução de alimentos, a capacidade de dispersão
e colonização é comprometida, pois
muitas espécies não se deslocam entre os fragmentos
a fim de evitar os riscos de predação. Além
dessas consequências, a diminuição dos
ambientes limita a reprodução, não
somente pela redução de parceiros potenciais,
mas também pela falta de espaços para a nidificação.
Tanto espécies de aves que constroem seus ninhos
com materiais vegetais e em formato de cesta, quanto àquelas
que utilizam cavidades naturais são prejudicadas
por causa da ausência desses espaços, o que
coloca em risco a sobrevivência e a conservação
destes animais”, explica a pesquisadora.
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Nidificação para
as pequenas corruíras (Troglodytes musculus).
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Dias comenta a experiência
que o incentivou a elevar sua relação com
as aves. “Fico feliz em contar que decidi colocar
em prática a ideia de confeccionar o ninho artificial
e assumir a responsabilidade da inspeção periódica
do mesmo, após ouvir a pesquisadora Viviane Rodrigues
Reis falar sobre o Projeto Aves”.
E explica como a iniciativa
lhe trouxe novos conhecimentos. “No caso, meu objetivo
inicial era fazer um ninho piloto para a manutenção
e a reprodução da corruíra. Ser direcionado
para essa espécie já ajudou bastante, pois
já tive a oportunidade de fotografar os ninhos de
corruíras em outros dois momentos. Através
desses registros também pude dimensionar o tamanho
do ninho artificial. Cabe dizer que uma grande preocupação
foi a possibilidade de predação por parte
de outros frequentadores da praça: micos, tucanos
e gaviões. Isso me levou a fazer a abertura da entrada
do ninho um pouco mais alta. Com o ninho instalado no local,
espero poder aprender mais sobre o assunto e executar melhorias.
Acredito ser uma ideia aplicável a diversas praças
em ambientes urbanos”, finaliza.
Segundo a bióloga-chefe
da Pick-upau, a participação da sociedade
é fundamental na conservação da biodiversidade
“A sociedade pode colaborar de muitas maneiras, ao
plantar árvores ela está oferecendo ambientes
e alimentos para que determinadas espécies possam
usufruir. As pessoas podem disponibilizar frutos em comedouros,
principalmente na época do inverno, pois nesse período
a oferta de recursos diminuiu bastante. Além disso,
a população pode ajudar na reprodução
das aves, por meio da instalação de ninhos
artificiais, o que vai beneficiar corujas, pica-paus, periquitos,
papagaios, maritacas e muitas outras espécies que
utilizam esses locais para a nidificação”,
conclui Reis.
Tem
uma hístória com as vaes, conte pra gente.
Saiba
mais sobre ninhos artificiais.
Leia
mais sobre reprodução e nidificação.
Criado em 2015, dentro do
setor de pesquisa da Agência Ambiental Pick-upau,
a Plataforma Darwin, o Projeto Aves realiza atividades voltadas
ao estudo e conservação desses animais. Pesquisas
científicas como levantamentos quantitativos e qualitativos,
pesquisas sobre frugivoria e dispersão de sementes,
polinização de flores, são publicadas
na Darwin Society Magazine; produção e plantio
de espécies vegetais, além de atividades socioambientais
com crianças, jovens e adultos, sobre a importância
em atuar na conservação das aves.
Da Redação
Fotos: Reprodução/Antônio Dias