28/10/2021 –
Comunicado – A Coalizão Brasil Clima, Florestas e
Agricultura – movimento multissetorial composto por mais
de 300 organizações, entre entidades do agronegócio,
empresas, organizações da sociedade civil, setor
financeiro e academia – recomenda que o governo brasileiro
eleve o compromisso de corte nas emissões dos gases que
causam o aquecimento global. A ampliação das metas
nacionais para 2025, 2030 e 2050 é um dos cinco grandes
temas com sugestões enviadas aos negociadores brasileiros,
que participarão da Conferência do Clima (COP 26)
de Glasgow, na Escócia, a partir de 31 de outubro.
O documento, intitulado
“Recomendações para a COP 26”, será
encaminhado à Presidência da República e aos
ministros da Agricultura, Meio Ambiente, Casa Civil, Economia,
Relações Exteriores, Desenvolvimento Regional e
Ciência e Tecnologia, bem como a embaixadas, dezenas de
parlamentares e aos líderes das duas casas do Congresso
Nacional.
“A produção
agropecuária brasileira, que responde por 26,6% do PIB
nacional, é extremamente vulnerável ao clima e já
sente os efeitos do aquecimento global”, destaca Marcello
Brito, cofacilitador da Coalizão.
Estudos
científicos mostram que as temperaturas médias dos
estados ao norte da Região Sudeste tendem a subir entre
3°C e 4°C até o fim do século, inviabilizando
a produção das principais commodities nessas localidades,
se não ampliarmos as medidas de neutralização
de emissões.
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Coalizão
Brasil defende aumento da meta climática brasileira
Foto: Pixabay/Reprodução
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“A melhor
ciência disponível já alertou: as decisões
que tomarmos nesta década serão decisivas para o
futuro do clima do planeta. Como o quinto maior emissor de gases
de efeito estufa e também como uma das economias mais vulneráveis
a alterações do clima, o Brasil precisa elevar urgentemente
sua ambição climática”, afirma Brito.
Produzido entre
os meses de agosto e setembro de 2021 após escutas, consultas,
entrevistas, reuniões e debates com os membros da Coalizão
e convidados de vários setores da sociedade, o documento
traz os pontos de consenso entre múltiplos setores que
favorecem o cumprimento das metas do Acordo de Paris, permitindo
o desenvolvimento econômico de baixo carbono e a justiça
climática global.
Sintetizados em
cinco tópicos, os pontos de convergência intersetorial
visam apoiar a delegação brasileira com reivindicações
a serem defendidas na Conferência e/ou sugerir soluções
para que o país dê uma contribuição
concreta para alcançar as metas propostas.
Além de elevar
a ambição climática, apresentando políticas
e planos contundentes e alocação de recursos para
sua realização, a Coalizão recomenda a garantia
de mecanismos para proteger e remunerar todos que contribuem para
a manutenção e recuperação de serviços
ecossistêmicos, com destaque aos povos originários
e às comunidades tradicionais, produtores e assentamentos
rurais.
Esta camada da população
deve ter prioridade no financiamento à adaptação
climática, além da garantia de um canal para que
possa participar de debates e decisões. O documento também
adverte que o apoio internacional com financiamento de parte da
descarbonização dos países em desenvolvimento
precisa ser cumprido e ampliado.
A Coalizão
entende que, além de zerar o desmatamento, é preciso
incentivar a restauração de áreas classificadas
como prioritárias para conservação da biodiversidade,
segurança hídrica, mitigação climática,
segurança alimentar e promoção da bioeconomia.
O documento também recomenda maximizar os investimentos
em Soluções baseadas na Natureza (SbN), tais como
a redução do desmatamento, agricultura de baixo
carbono, restauração e silvicultura sustentável
e com espécies nativas.
Mercado de carbono
A Coalizão
também recomenda a aprovação do Artigo 6º
do Manual de Regras do Acordo de Paris, que regulamenta a criação
de um mercado mundial de carbono, e entende que esta deve ser
uma prioridade da Conferência a ser buscada pela delegação
brasileira.
Para tanto, a Coalizão
sugere que o Brasil aprove um marco regulatório sobre o
seu mercado de redução de emissões, demonstrando
compromisso político com a mitigação das
mudanças climáticas e a implementação
dos mercados de carbono. Mas recomenda também que todos
os países adotem políticas públicas e soluções
adicionais aos mercados de carbono, que levem à descarbonização
de suas economias sem retrocesso de esforços.
O documento adverte
que os programas nacionais de redução de emissões
deverão evitar a dupla contabilidade de créditos,
contando com sistemas de monitoramento, relato e verificação.
E ressalta que a oferta e a demanda de reduções
e remoções deverão estar em equilíbrio,
colaborando para não afetar a relação de
preços de outras opções de mitigação.
O agronegócio
brasileiro e a Conferência do Clima
Maior exportador
mundial de carne bovina, segundo de grãos e quarto principal
produtor de alimentos, o Brasil é também o quinto
país que mais emite gases de efeito estufa. Do total de
emissões brasileiras, 28% são geradas pela agropecuária
e outras 44% pela conversão do solo, quase exclusivamente
por desmatamento. Ao mesmo tempo, a cadeia do agronegócio
responde por 26,6% do PIB nacional (2020). Por isso, o uso sustentável
da terra, com seu potencial para reduzir emissões e capturar
carbono da atmosfera, deve ser tema central para o desenvolvimento
do país.
O Brasil já
teve protagonismo global em questões ambientais e climáticas.
A partir da fundação do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama),
em 1989, o país sediou a Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), emplacou
o modelo do que viria a ser o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
do Protocolo de Kyoto, em 1997, e reduziu o desmatamento a níveis
históricos entre 2004 e 2012 sem que isso prejudicasse
o desenvolvimento econômico. Pelo contrário: este
foi um período de crescimento do PIB e da renda per capita
do brasileiro.
No entanto, o ritmo
do desmatamento voltou a crescer nos biomas nacionais a partir
de 2013. Segundo o último Relatório Anual do Desmatamento
no Brasil, publicado em junho de 2021 pelo MapBiomas, o índice
de “provável ilegalidade” do desmate na Amazônia
em 2020 foi de 99,4% e acima de 95% em todos os outros biomas
brasileiros (Cerrado, Pantanal, Pampa, Mata Atlântica e
Caatinga). De acordo com dados do sistema Deter, do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o acumulado de alertas
de desmatamento na Amazônia entre agosto de 2020 e julho
de 2021 foi de 8.712 km² – o segundo pior resultado
em cinco anos e quase o dobro do desmate de 2016/17 e 2017/18.
Um terço
do desmatamento registrado na Amazônia no primeiro trimestre
de 2021 ocorreu nas chamadas florestas públicas não
destinadas (FPND), que ocupam 57,5 milhões de hectares
e deveriam ser designadas para conservação ou uso
sustentável. Nos últimos dois anos, a ocupação
e o uso ilegal dessas áreas se intensificou. Dados do Instituto
de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) mostram que, até
o fim de 2020, 18,6 milhões de hectares dessas florestas
(32% de sua área total) foram declarados ilegalmente como
propriedade particular no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental
Rural (Sicar), um crescimento de 232% sobre 2016. Em 2020, 72%
do desmatamento nas FPND ocorreu em áreas registradas no
CAR; no primeiro trimestre de 2021, o índice subiu para
79%.
Para reverter essa
tendência de destruição de biomas que prestam
importantes serviços ecossistêmicos e descarbonizar
sua economia, o Brasil precisa repensar sua atual gestão
de uso da terra, consolidando-se como liderança internacional
de uma nova economia florestal e inspirando-se em seu longo histórico
de contribuições para a conservação
do meio ambiente. A COP 26 é uma oportunidade para iniciar
esse processo.
A conferência
será realizada com um ano de atraso, após o adiamento
forçado pela pandemia de Covid-19, e sob a pressão
dos alertas do 6º Relatório de Avaliação
do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC), divulgado em agosto. O estudo concluiu que o papel das
atividades humanas no aquecimento da Terra é inequívoco,
e projetou que, no ritmo de hoje, a temperatura média do
planeta subirá do atual 1,1°C acima dos níveis
pré-industriais para 1,5°C já na próxima
década – 10 anos antes do previsto. No Brasil, essas
mudanças devem provocar o aumento de chuvas no Sul e Sudeste
e a diminuição no Centro-Oeste, Nordeste e no leste
da Amazônia. O Brasil caminha para um aumento entre 3°C
e 4°C até o fim do século nas temperaturas médias
dos estados ao norte da Região Sudeste. Se isso acontecer,
a produção das principais commodities nessas regiões
será inviável.
Agência Ambiental
Pick-upau é uma das signatárias da Coalizão
Brasil Clima, Florestas e Agricultura.
Acesse
o relatório.
Da Redação, com informações da Coalizão
Brasil
Fotos: Reprodução/Pixabay